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terça-feira, 22 de janeiro de 2008

Alegria de pobre
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Sérgio Soares Campos
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"Todos os movimentos históricos foram até agora realizados por minorias, ou em proveito de minorias." (Manifesto Comunista –1872)
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Com o advento das rádios comunitárias, surge uma voz nas periferias das cidades brasileiras. Porém, como toda manifestação política vindo das classes mais pobres, a repressão logo se faz presente. Certamente no caso das rádios comunitárias não se poderia esperar que fosse diferente.
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Muitas são as histórias de perseguição às rádios comunitárias e a precisa colaboração da Associação Brasileira de Emissoras de Rádio e Televisão (ABERT), que, há mais de dois anos, divulga, de norte a sul do País, vergonhosa nota em que acusa as rádios comunitárias (em geral consideradas ilegais, piratas) de causarem vários problemas; dentre tais acusações, acusam-nas da absurda interferência que estas emissoras provocariam nos sistemas de comunicação de ambulâncias e tráfego aéreo. Também chegam a acusar as rádios comunitárias de estarem a serviço do tráfico de drogas.
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É claro que não temos só algozes, um dos maiores defensores desse movimento é o juiz federal aposentado Dr. Paulo Fernando Silveira, que publicou o livro intitulado "Rádios Comunitárias". Em se tratando das acusações que abordamos, ele escreveu o seguinte: "Falavam que as rádios comunitárias derrubam avião, e, com esse argumento tolo, tentavam desmerecer e deixar de outorgar um direito fundamental. Procurei peritos para mostrar que não derrubava, por diversos motivos: o avião é como uma caixa fechada, não recebe ondas. Outra coisa, as faixas de rádios comunitárias vão até 108, as torres operam acima de 111. Se uma rádio pudesse derrubar avião, as rádios comercias teriam muito mais chances de fazê-lo, porque são de alta potência".
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A chamada "Crise Aérea", cujo foco da mídia culminou com a queda do Airbus da TAM, revelou que as rádios comunitárias nada tem a ver com esse caos. Mas devido ao crescimento delas, que chegam a 20 mil em todo território brasileiro, as rádios comerciais tiveram que dividir as publicidades com prefeituras, estados e até com a União, além de que esses comercias custam bem menos e conseguem alcançar um maior número de ouvintes em todas as comunidades onde elas existem.
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Também é de conhecimento geral que a maioria das concessões das rádios comercias estão nas mãos de deputados e senadores, ao mesmo tempo que a outorga das rádios comunitárias depende exatamente dos deputados e senadores.
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Há quase cinco anos fundamos a Associação Cultural São Sebastião, no povoado Areias Brancas, município de Santana do Ipanema, como o objetivo de instalar uma rádio comunitária. Criamos a Rádio A Voz do Sertão, atendemos a todas as exigências legais, enviamos a documentação para o Ministério das Comunicações, mas até hoje não recebemos qualquer resposta, a não ser, claro, a visita da repressora Anatel, que chegou a lacrar os equipamentos.
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Recentemente, junto com um grupo de amigos do Bairro Lajedo Grande, aqui mesmo na área urbana do nosso município, fundamos a rádio comunitária Boa Nova e, em menos de oito meses de funcionamento, também já foi visitada pela Anatel, que lacrou os equipamentos. Agora finalmente tivemos todos os equipamentos apreendidos por ordem da justiça local.
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O povo da comunidade Lajedo Grande já estava se acostumando a ter voz, a comunidade estava feliz por ter um canal que pudesse levar a toda a população santanense e, principalmente, às autoridades, as suas queixas, suas reivindicações. Mas já se diz há muitos anos: alegria de pobre dura pouco; em muitos casos, nem começa. Que as vozes das minorias jamais se cansem, porque, enquanto houver distorções sociais, deveremos estar de plantão por um mundo mais justo!
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