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quarta-feira, 14 de maio de 2008

A nobre arte do maracatu
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Breno Castro Alves
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O primeiro elemento a ser vestido é o chocalho, quatro sinos de metal presos numa estrutura de um metro de madeira e, para não machucar o caboclo, recobertos com pelúcia e palha de bananeira, tudo pendurado nas costas. Pesa 15 kg. Por cima vai a gola, espécie de poncho grosso que ostenta algo como 30 mil lantejoulas multicoloridas e o mesmo número de miçangas em desenhos elaborados. Outros 5 kg.
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A cabeça traz um chapéu de palha modificado, ampliado com uma estrutura de arame e taboca (espécie de bambu). São mais 5 kg. Nas mãos está a vara ou lança, misto de arma e brinquedo, que mede entre 1,80 e 2,20 metros e carrega centenas de metros de retalho de fita amarrados. O toque final é o delicado cravo branco carregado entre os dentes, totalizando mais de 30 kg de fantasia. Acrescente-se a isso tudo os 30 e poucos graus Celsius do carnaval pernambucano e se pode ter uma medida da força de um caboclo de lança, figura símbolo do maracatu rural.
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Conhecido como maracatu de baque solto (ou de orquestra), essa manifestação popular de raízes híbridas ressignifica e funde elementos de origens diversas, como autos religiosos e a música de orquestra, com metais. Em relação a seu irmão, maracatu nação (ou de baque virado), não tem reis e rainhas, e os caboclos de lança são os que abrem espaço em meio à festa. Passa, desde o fim dos anos 90, por um período de valorização dentro da cultura pernambucana e brasileira. Hoje o caboclo de lança é um símbolo de seu estado, tão significativo quanto o dançarino de frevo e sua sombrinha.
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A prática vem da Zona da Mata Norte de Pernambuco, região intermediária entre o litoral úmido e o sertão seco, dominada desde o ciclo do açúcar pela monocultura da cana. A relação entre maracatu rural e cana-de-açúcar é visceral, quase a totalidade dos foliões trabalha em sua colheita ou nos engenhos e usinas.

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