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terça-feira, 11 de março de 2008

Juventudes brasileiras: diferenças e desigualdades
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Os "jovens de hoje" são brasileiros nascidos há 14 ou 25 anos. Esta faixa etária é sempre discutida. Por um lado, para os que não têm direito à infância, a juventude começa mais cedo. Por outro lado, o aumento de expectativas de vida e as mudanças no mercado de trabalho alimentam hoje uma tendência mundial em alargar o tempo da juventude.
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Entretanto, qualquer que seja a "faixa etária" estabelecida, jovens da mesma idade vão sempre viver juventudes diferentes: há diferenças e desigualdades sociais entre eles. A desigualdade mais evidente remete ao econômico. Este recorte se explicita claramente na vivência da relação com o trabalho e a escola.
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O desemprego entre os jovens pobres é significativamente maior (26,2%) do que entre os mais ricos (11,6%). Utilizando o corte de renda familiar per capita para diferenciar jovens oriundos de famílias pobres dos que provêm de famílias ricas, vemos que entre os jovens ricos há predominância do trabalho assalariado (77,1%) e, dentro desse universo, quase dois terços (49,0%) possuem carteira assinada. Entre os jovens provenientes de famílias pobres, apenas 41,4% têm trabalho assalariado e, desses, a grande maioria (74,3%) não tem carteira assinada.
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Quanto ao trabalho doméstico entre os jovens ricos, temos a pequena cifra de 7,9%, dos quais só 7% obtêm algum rendimento desse trabalho. Já entre os mais pobres, a taxa de jovens que se dedica ao trabalho doméstico salta para 46,2%, sendo que 26,8% são remunerados. Contudo, quando o assunto é inclusão e exclusão, as diferenças de origem e de situação de classe não esgotam o assunto. Gênero também é um fator que interfere nas trajetórias dos jovens. As moças se "beneficiam" do crescimento do emprego doméstico mas ganham menos que os rapazes quando ocupam os mesmos postos de trabalho. E a "boa aparência" exigida para certos postos de trabalho exclui os mais pobres e particularmente jovens negros e negras.
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Segundo Ricardo Henriques, estudioso do tema, "com todos os erros, desvios e imprecisões das estatísticas (...) enquanto um jovem branco de 25 anos tem 8,4 anos de estudo, um jovem negro, da mesma idade, tem 6,7 anos de estudo. A diferença de 2,3 anos é alta e a distância social entre negros e brancos se mantém ao longo dos anos".
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Há ainda um outro critério de diferenciação: o local de moradia. Tanto para a inserção no mercado de trabalho quanto para o lazer e uso do tempo livre, as oportunidades dos jovens também variam de acordo com a região e a localização no campo ou na cidade. Para os que vivem nas grandes cidades, o estigma de certas áreas urbanas pobres e violentas expõe os jovens à violência e à corrupção dos traficantes e da polícia. Ao preconceito e discriminação de classe, gênero e cor adiciona-se o preconceito e a "discriminação por endereço". Para a inserção no mercado de trabalho o "endereço", muitas vezes, torna-se um critério de seleção. O local de moradia interfere também no acesso a equipamentos urbanos, na busca de grupos de referência, na maior ou menor probabilidade de se ligar a atividades ilícitas, na virtualidade da morte precoce.
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Ou seja, se hoje fica cada vez mais evidente que as políticas públicas para a juventude não podem se justificar apenas como estratégia para "tirar jovens da criminalidade", não é possível minimizar os efeitos da violência na experiência desta geração. Não por acaso, entre os temas de conversação mais freqüentes entre os jovens está a violência. Com algumas variações e pesos diversos, esta é uma conversa que faz parte do cotidiano dos jovens de diferentes camadas sociais. Em qualquer grupo de jovens, todos têm algo para contar sobre a polícia. Os mais ricos vão contar que foram achacados; como eles dizem: "tivemos que negociar". Os mais pobres, sobretudo se forem negros, vão dizer que foram mais desrespeitados. As jovens mulheres contam como foram desrespeitadas. Os moradores das favelas, conjuntos habitacionais, periferias, vilas são sempre os mais suspeitos.
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Por tudo isso, falar em políticas públicas para a juventude é também falar em segurança pública e direitos humanos. Segurança Pública é requisito essencial para a inclusão social.Por outro lado, ao retomar a literatura existente sobre a juventude brasileira, nota-se que são poucas as pesquisas sobre o jovem das pequenas cidades, e que também ainda não foram bem estudadas as diferenças regionais. Quanto ao mundo rural, muito se fala em saída dos jovens para as cidades. No entanto, há jovens que estão no campo e se inserem em acampamentos, assentamentos, no trabalho assalariado, na agricultura familiar, no extrativismo. A precariedade maior ou menor desta inserção está diretamente relacionada com a estrutura fundiária e com acesso a instrumentos de política agrícola.
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Este rápido painel é uma amostra da diversidade da juventude brasileira. Certamente, as diferenças podem atenuar ou acentuar os efeitos das desigualdades de renda, gênero, raça, local de moradia e os níveis de violência. No entanto, no conjunto, os jovens brasileiros se deparam com dificuldades comuns que, por um lado, expressam questões estruturais colocadas para o conjunto da sociedade e, por outro, evidenciam a urgente necessidade de políticas específicas para a juventude.
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