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terça-feira, 24 de junho de 2008

Um abraço
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Gleydson Francisco
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Muitos são os que pairam tristes pelas vielas das ruas sem esquinas, precisando apenas de alguém que chegue perto e diga pelo menos: “Como vai? Tudo bem?” Mas nem isso as pessoas do mundo moderno oferecem aos semelhantes que estão vivendo nas ruas. Talvez por medo, vergonha ou nojo de um ser humano igual a qualquer um.
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Ainda me lembro de quando era garoto. Nos meus tempos de infância existia próximo a minha casa um “sopão”. Lá na rua das casas e números das portas para pessoas carentes de comunidades vizinhas. Todas as tardes vinham dezenas de pessoas para saciar sua fome e satisfazer suas necessidades nutricionais, além de presenciar a existência e o trabalho de muitas pessoas boas neste mundo.
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Diariamente ficava sentado, olhando com aquela curiosidade de criança, toda movimentação e cenas de solidariedade que estavam diante dos meus olhos. Certa vez observei quando um senhor – ao colocar um pouco de algo parecido com um caldo grosso, meio quente, dentro de um copo azul, arranhado, sujo – deixou derramar um pingo no braço de uma senhora já idosa. Ele rapidamente a pegou, levando-a para o local onde eu estava, sempre lhe pedindo desculpas, de forma atenciosa e gentil.
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Logo em seguida, a referida senhora apresentava um ar de felicidade no rosto, mas ele não entendia o motivo. Subitamente ela parou e disse que não precisava pedir desculpas, pois já estava acostumada e fazia mais de dois anos que ninguém a tocava.
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Com os olhos cheios de lágrimas o homem olhou para traz, ficou observando toda aquela fila no “sopão” e refletindo: “como aquelas pessoas estão abandonadas, precisando de apenas uma palavra carinhosa para consolar suas dores”. Desde aquele dia resolveu colocar uma faixa em sua residência dizendo o seguinte: “Seja bem vindo ao Sopão da Solidariedade. Preço promocional – um abraço”.
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