Rádio livre: alternativa democrática
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Suely Maciel (*)
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Suely Maciel (*)
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O rádio tem sido tradicionalmente considerado o veículo mais 'democrático' entre os demais meios devido a sua mobilidade e a sua penetração em grupos de todas as classes sociais, faixas etárias e graus de instrução. No entanto, ainda que os recursos radiofônicos facilitem um diálogo concreto entre as instâncias de produção e recepção, a abertura à participação do receptor na mídia tradicional tem sido irrisória, o que configura também uma exploração limitada das potencialidades do meio.
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Essa ausência da participação do ouvinte é sistemática na produção dos veículos de comunicação de massa vinculados a empresas de comunicação, que seguem modelos de exclusão monológicos. Iniciativas, porém, têm caminhado numa outra direção, buscando não apenas uma diferenciação de conteúdo, mas também uma programação mais livre e próxima do ouvinte, considerando substancialmente a participação deste.
Essa ausência da participação do ouvinte é sistemática na produção dos veículos de comunicação de massa vinculados a empresas de comunicação, que seguem modelos de exclusão monológicos. Iniciativas, porém, têm caminhado numa outra direção, buscando não apenas uma diferenciação de conteúdo, mas também uma programação mais livre e próxima do ouvinte, considerando substancialmente a participação deste.
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Trata-se do caso exemplar das rádios comunitárias e livres, que se diferenciam das chamadas comerciais em termos técnicos, de proposta e de dinâmica de produção. Elas acabam representando aquilo que Machado et al. (1986) apontam como uma possibilidade real de radiodifusão alternativa em relação à institucionalizada: deve haver espaço também para outras modalidades de exploração, mais democráticas e que permitam engajar a iniciativa da própria comunidade atingida pelos meios. Nesse espaço alternativo podem caber, por exemplo, emissoras ligadas a grupos de produção, a grupos de intervenção social, às minorias étnicas, culturais ou sexuais, aos partidos políticos, às comunidades locais e também aos amantes do rádio e da TV para aí realizarem experiências renovadoras de linguagem", (Machado, 1986: 17-8).
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Fala-se muito hoje e um tanto impropriamente de tecnologias interativas, a propósito principalmente dos recursos da informática. Essas discussões poderiam ganhar impulso se as pessoas depositassem um pouco mais de atenção na experiência das rádios livres, que se mostrou capaz de inventar, nos seus momentos mais ousados, um verdadeiro sistema de feed back entre a equipe emissora e a comunidade dos ouvintes. Seja através da intervenção telefônica, da abertura das portas da emissora à comunidade, da transmissão direta das ruas ou da veiculação de fitas produzidas pelos próprios ouvintes, as rádios livres restabeleceram o circuito do diálogo nas mídias de massa, abrindo a possibilidade de falarem e serem ouvidas sobretudo àquelas camadas da população tradicionalmente afastadas das antenas. Tecnicamente, elas souberam tirar todas as conseqüências do casamento explosivo do rádio com o telefone, transformando automaticamente todos os seus ouvintes em correspondentes, (Machado, 1986: 31)
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Iniciativas como as das rádios livres e comunitárias, portanto, podem se constituir em profícuas tentativas de efetivação de uma democracia nos meios de comunicação, seja por contestarem o oligopólio nos meios e os sistemas de controle político e econômico da comunicação de massa, seja por serem sensíveis à forte demanda social das comunidades em que se inserem.
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Nesse contexto de busca de novos paradigmas e de uma nova proposta de radiodifusão e de democratização dos meios, implementada pelas rádios alternativas, tornam-se importantes as figuras dos comunicadores da comunidade, que passam a representar o duplo papel de instâncias de produção e de recepção, como dito anteriormente. Ter como foco o personagem do comunicador, sua trajetória pessoal e sua inserção nesse universo comunicacional/comunitário é importante para observar uma sistemática social de suma relevância na contemporaneidade. As narrativas dessas experiências permitem compreender tanto a trajetória individual dos sujeitos, suas escolhas ao longo da vida e os fatores desencadeadores destas, como também os processos sociais mais amplos que os permeiam e, de certa forma, determinam.
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O papel do comunicador popular como mediador entre a produção midiática e a sociedade e a relação que se estabelece entre sua vida pessoal e a da comunidade são, portanto, o foco do estudo parcialmente apresentado aqui justamente porque deixam entrever dinâmicas que abarcam desde a problemática estritamente ligada aos processos de comunicação até uma discussão ampliada sobre cidadania, participação individual e popular e mudança nas relações de força e poder entre a ordem institucionalizada e os grupos sociais, tendo como fator de mediação simbólica os veículos de comunicação.
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O papel do comunicador popular como mediador entre a produção midiática e a sociedade e a relação que se estabelece entre sua vida pessoal e a da comunidade são, portanto, o foco do estudo parcialmente apresentado aqui justamente porque deixam entrever dinâmicas que abarcam desde a problemática estritamente ligada aos processos de comunicação até uma discussão ampliada sobre cidadania, participação individual e popular e mudança nas relações de força e poder entre a ordem institucionalizada e os grupos sociais, tendo como fator de mediação simbólica os veículos de comunicação.
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(*) Suely Maciel é jornalista, formada pela Universidade Federal de Goiás, mestre em Semiótica e Lingüística Geral pela FFLCH/USP e doutoranda em Ciências da Comunicação/Jornalismo pela ECA/USP.
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