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terça-feira, 10 de junho de 2008

As faces do protagonismo juvenil
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Cris Guimarães
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O Brasil é um país de jovens. Dados do IBGE mostram que vivem hoje quase 170 milhões de pessoas, sendo a maioria composta por jovens entre 10 e 19 anos. Registros da Unesco apontam que 100 milhões de crianças no mundo estão fora da escola, sendo que no Brasil, 15 milhões delas são analfabetas. E a realidade de muitas é de não ter ao menos um lar para crescer e se desenvolver com o mínimo de condições. Conforme diz o Estatuto da Criança e do Adolescente – Lei Federal 8.069/1990, no capítulo I, artigo 7º, do Direito à Vida e à Saúde – "a criança e o adolescente têm direito à proteção, à vida e à saúde, mediante a efetivação de políticas sociais públicas que permitam o nascimento e o desenvolvimento sadio e harmonioso, em condições dignas de existência”.
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A falta de acesso à educação, saúde e habitação acaba levando muitos jovens a sair de casa em busca de uma oportunidade de trabalho. Como não encontram emprego, correm o sério risco de acabarem na marginalidade. Porém, a sociedade civil organizada, as ONGs e associações de bairro acabam sendo uma alternativa de inserção para estes jovens, pois desenvolvem projetos educacionais e culturais que se tornam uma boa oportunidade de capacitação para este público que está numa fase delicada de sua vida: a adolescência.
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É neste período de mudanças internas que eles têm sonhos de mudar o mundo. São curiosos, geram debates e polêmicas sobre vários assuntos que vão desde o direito à escola e moradia até a globalização e vão literalmente à luta quando tem uma chance de mostrar sua opinião. Tomam a frente em projetos governamentais e não governamentais, se articulam e discutem temas como: educação, aids, geração de empregos, paz, direitos humanos, saúde e cultura. Alguns se destacam entre os demais e viram protagonistas, ou seja, os personagens ou atores principais do cenário no qual estão inseridos, fazendo ações com o objetivo de intervir no contexto social que não diz respeito apenas a sua vida privada, mas da sociedade como um todo.
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Existem hoje projetos que deram certo em vários cantos do país. Um deles, referência internacional, é uma publicação pioneira totalmente pautada e redigida por moradores de rua da capital gaúcha. "Boca de Rua", este é o nome do jornal desenvolvido sob a orientação das jornalistas Rosina Duarte, Tatiana Sager e Clarinha Glock, da Agência Livre para a Infância, Cidadania e Educação (Alice). O impresso foi criado em 2001 para dar voz a este público que só teria chance de aparecer em páginas onde as notícias mostram um lado de violência e marginalidade. A publicação possui um encarte infanto-juvenil chamado "Boquinha", também produzido por moradores de rua com até 18 anos.
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Todos sabem de suas atuais limitações, seus sonhos e, a cada dia que nasce, saem em busca de um acontecimento da vida de cada um que possa se transformar na história da edição seguinte. Uma história que é privada, mas que se torna pública para chamar a atenção da sociedade sobre a verdadeira face de jovens protagonistas de rua que estão deixando registrado o que pensam na intenção de mostrar a dura realidade dos moradores mirins de rua da capital gaúcha. Moradores estes que querem sim ter um lar onde possam sentir-se seguros, amados, respeitados como cidadãos e, a partir disto, construir uma vida com dignidade.

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