Bertrand Sousa
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Qual seria a principal consequência das coberturas "policialescas" da realidade urbana no Brasil? A mídia ajuda a propagar o pânico e a insegurança nas grandes cidades. E faz isso sem maiores preocupações, posando de defensora dos "fracos e oprimidos" pela violência. Indo um pouco mais além, podemos dizer que o sistema midiático brasileiro está funcionando como um "relações públicas", fazendo a ligação da sociedade com os poderes constituidos, uma "linha direta com a cidadania", numa cruzada inquisitória por justiça e paz.
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É uma grande pretenção da mídia querer se colocar como solução ou alternativa para a dramática história da luta contra o crime no Brasil. Querendo ser uma espécie de tribunal público, uma instância com plenos poderes para julgar. E neste julgamento a sociedade seria a maior vitima, enquanto a mídia desempenha vários "papéis", tais como: investigadora, vítima (como no caso Tim Lopes), testemunha de acusação, juíza, etc.
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A melhor maneira da mídia ajudar na questão da violência é cumprir seu papel social de trasmitir informações - verídicas, de preferência - com qualidade e profundidade (o que a autora chama ironicamente de "esclarecer os cidadãos"). Os mass media não devem ficar provocando as pessoas e/ou autoridades a fazerem justiça a qualquer custo, de forma imediatista e passando por cima de tudo e todos. Não pode se deixar levar pela "radicalização punitiva" e nem "passar por cima de garantias fundamentais como o direito ao devido processo legal, anulando conquistas históricas resultantes das revoluções liberais de fins do século XVIII, e que fundamentariam a idéia moderna de cidadania."De acordo com Sylvia Moretzon, "(...) uma análise mais ampliada dessa ocupação de espaços não pode ignorar que se trata de uma estratégia empresarial muito bem conduzida no contexto do neoliberalismo: a redução do tamanho do Estado é compensada pela responsabilidade social de empresas cidadãs, de acordo com a formulação de uma nova ética de co-responsabilidade (entre Estado, empresas e sociedade civil) que mascara conflitos e valoriza indiscriminadamente iniciativas voltadas para fazer o bem."
No final das contas - do sistema capitalista em que a mídia brasileira está inserida - o lucro é o que interessa e nada mais. Se der pra ganhar mais dinheiro as custas do medo das pessoas e ainda fazer elas acreditarem que estão recebendo um ótimo serviço de informção, um exemplo de cidadadania a ser seguido, a mídia o fará. Pelo menos é assim que ela está utilizando seu famoso "quarto poder".
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