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sábado, 18 de julho de 2009

A ética e a era da mídia
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Rosa Alegria (*)
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Para concretizarmos a possibilidade de um mundo mais sustentável e humano, temos que rever os valores éticos que a mídia, em seu reinado absoluto na era da informação, tem propagado, e repensar sobre as escolhas dos meios de comunicação, na difusão de hábitos, pensamentos e culturas. Para curar essa cultura repleta de doenças que transcendem a esfera social e afetam o estado físico, como a anorexia nervosa e a bulimia, a neofilia - manifestação compulsiva e patológica pelos novos produtos lançados pelo marketing - pelos índices crescentes de obesidade infantil, que só nos últimos 20 anos aumentou 240%, sem falar do déficit da atenção e infostress provocados pelo excesso de carga informativa.
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O momento é de grande potencial e infinitos recursos. O acesso à mídia de massa tem aumentado mais do que nunca na história. Essa expansão envolve rádios, TVs, computadores e telefones móveis, todos cada vez mais baratos, e a nova mídia broadcast, como satélites e Internet, que aumentam o acesso e a possibilidade de escolha.
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Mais e mais pessoas participam ativamente daquilo que a futurista Hazel Henderson chama de " midiocracia", um poder fortalecido pelo acesso aos meios de informação e ao mesmo tempo ameaçado pelo excesso de poder concentrado pelos grandes grupos. A nova ordem é abrir espaço para múltiplas vozes, promover participação em conversas públicas e desenvolver uma cidadania informada. A conversação passa a imperar nas relações comerciais. A Internet, até então voltada para resultados financeiros, passa a estar mais focada na qualidade das conversações com os mercados na micromídia. Alguns sinais dessas mudanças são a crise da mídia impressa, o advento da Web 2.0, a expansão da propaganda on-line, a revolução do You Tube, 27 milhões de blogs, os podcasts e videocasts, os wikis e o poder do boca-a-boca pela busca da transparência e da confiança.
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Manifestações da sociedade já podem ser observadas como resistência a essa concentração de poder sobre a informação. Numa pesquisa realizada em 2006 com jovens, pela Bloomberg em parceria com o jornal norte-americano Los Angeles Times, 28% dos adolescentes e 38% dos jovens adultos ouvidos disseram preferir se informar a partir dos canais de TV locais, que foram a fonte de notícias mais procurada por eles depois das conversas com amigos e família.
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A crise de confiança
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A economia atual está na berlinda, e em seu colo, estão as organizações. Depois dos grandes escândalos corporativos como os da Enron, WorldCom e Parmalat, as empresas têm se esforçado para incorporar a ética e a transparência em seu dia-a-dia. No entanto existe uma grande crise de confiança. O público confia cada vez menos nas organizações. Os clientes têm menos confiança e até mesmo os funcionários não confiam na empresa em que trabalham. Uma pesquisa realizada pela consultoria inglesa Edelmann em 11 países, indica que a comunicação de igual para igual - com alguém no mesmo nível hierárquico, tem muito mais credibilidade do que a que vem oficialmente da empresa.
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Será o mundo real aquele que os murais de avisos e publicações institucionais estão querendo mostrar? Sair da Matrix dos números manipulados, das notícias maquiadas, das pílulas douradas pode representar uma ação corretiva imediata para o resgate da reputação institucional. Entrar no Self da consciência ambiental, da responsabilidade social, da valorização da vida, é o chamado para as organizações que se propõem a ser sustentáveis e a trabalhar para a sustentabilidade do Planeta.
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A ética soberana de uma nova mídia que desperte para uma nova consciência que promova o desenvolvimento sustentável poderá criar a cultura da esperança, combustível que aciona o motor do futuro e que nos fará resgatar aquilo que o frenesi do sistema tecno-produtivo nos roubou: nossa capacidade de sonhar e imaginar um mundo habitável e acolhedor a toda a civilização planetária.
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(*) Pesquisadora, comunicóloga e ativista de midia.
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