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quarta-feira, 29 de julho de 2009

40 anos do Pasquim: resistência com humor
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A primeira edição do Pasquim chegou às bancas no dia 26 de junho de 1969. O tablóide surgiu seis meses depois da promulgação do AI-5 e durou até 1991. Com nomes como Jaguar, Tarso de Castro, Sérgio Cabral, Ziraldo, Millôr, Claudius, a publicação marcou época pelas suas entrevistas, seus ensaios e pelo humor ora sutil, ora escrachado.
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“Quando Sérgio Porto (Stanislaw Ponte Preta) morreu, há cinco anos (30 de dezembro de 1968), abriu-se um vazio tão grande numa área do jornalismo de crítica e de humor que até hoje nas enquetes, quando se faz aquela pergunta – quem morreu e quem merecia estar vivo? – a resposta é quase sempre Sérgio Porto. O Pasquim surgiu dentro deste vazio, menos de um ano depois de sua morte, e imediatamente o escolhemos para patrono”, escreveu Sérgio Cabral em outubro de 1973, na edição nº 222 de O Pasquim.
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Existem várias versões de como foi dado e quem deu o pontapé inicial para o começo do Pasquim. Sabe-se com certeza, apenas, que queriam substituir o tablóide humorístico Carapuça, que havia acabado com a morte de Sérgio Porto. Na época, os nomes que formariam o Pasquim trabalhavam em diversos outros veículos. Jaguar era cartunista na revista Senhor, que era de jornalismo cultural, e Millôr havia lançado o tablóide humorístico “Pif Paf”, que durou só oito edições.
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“Todas essas pessoas (envolvidas com o Pasquim) queriam uma publicação de humor e maior espaço editorial”, conta o jornalista e cartunista Arnaldo Branco, que acompanha o jornal desde criança, quando lia as charges da Graúna, do Henfil. “O Pasquim foi um jornal feito bem em cima da proibição pesada da ditadura. Antes do ato institucional, ainda havia esperança de recrudescimento. Eles queriam fazer um jornal para meter pau na ditadura e a coisa deu certa, pois em menos de seis meses estavam vendendo 200 mil exemplares”, disse.
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O nome, que significa jornal difamador, foi sugestão de Jaguar. “Terão de inventar outros nomes para nos xingar”, dizia o cartunista na época. O Pasquim se esforçou para honrar o seu nome, mas ele não era só tiração de sarro. Havia ensaios e entrevistas com figuras públicas da época. O jornal inventou uma nova forma de entrevista, que antes era na base do copydesk. Isso ocorreu logo na primeira edição, quando Jaguar entrevistou Ibraim Sued. “As entrevistas eram sensacionais. Eles provocavam os entrevistados, eram afiados. Na verdade, era mais uma conversa que uma entrevista”, conta Branco. O Decreto Leila Diniz, que instalou a censura prévia à imprensa, foi criado por causa de uma desbocada entrevista do Pasquim com a atriz.
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Em novembro de 1970 a redação inteira foi presa por causa de uma charge que satirizava o quadro de Pedro Américo, O Grito do Ipiranga. Ficaram dois meses presos. Muitos sustos e histórias para contar depois, estavam soltos. Os militares, que esperavam que o jornal saísse de circulação, foram pegos de surpresa quando vários colaboradores, como Glauber Rocha, passaram a ajudar na recriação do tablóide.
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As prisões continuariam nos anos seguintes. Os militares então apelaram e passaram explodir bancas que vendiam o Pasquim. Vários jornaleiros desistiram de vender o tablóide. O jornal perdeu sua força, mas sobreviveu à abertura política de 1985. A última edição foi publicada em 11 de novembro de 1991. Dos membros originais, Jaguar era o único que ainda se mantinha a frente do jornal.
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Para comemorar as quatro décadas do jornal, a editora Desiderata está lançando o terceiro volume da Antologia do Pasquim, que engloba os anos 1973 e 1974 e uma edição comemorativa com 40 capas antológicas do tablóide e que reúne textos inéditos de Millôr Fernandes, Chico Caruso, Jaguar e Sérgio Augusto.
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No período compilado pelo terceiro volume da antologia, Millôr Fernandes ocupava o cargo de editor, Henfil era o editor-executivo, enquanto Ziraldo e Jaguar respondiam pela área gráfica e edição de arte. Ivan Lessa e Sérgio Augusto imprimiam o estilo peculiar ao texto final, que mesclava erudição, ironia e bom-humor. Paulo Francis – radicado em Nova York – mandava seus originais pelo malote da Varig. E todos driblavam à sua maneira os olhos da censura prévia. “O que levou a ter uma geração tão boa de humoristas? Talvez a formação escolar melhor, a revolução sexual da época. O Pasquim era um grande improviso de uma gente que passou a vida inteira ensaiando, misturando formação erudita e a formação de bar. Eles tiraram a gravata do jornalismo”, conclui Branco.
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FONTE: Jornal do Commercio.
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