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domingo, 14 de março de 2010

Hegemonia e poder manipulador da mídia
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Altamiro Borges
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Com base neste poder descomunal, a mídia hegemônica sempre procurou manipular a sociedade brasileira. O bombardeio recente contra o presidente Lula, em função das suas origens nas lutas operárias e de algumas de suas políticas contrárias aos interesses da elite burguesa, não é um fato novo no país. No passado, usando o denuncismo do “mar de lama”, ela levou Getúlio Vargas ao suicídio em 1954. Contra o governo João Goulart, fez campanha por sua derrubada, alardeando o “perigo do comunismo”. Durante a ditadura militar, a Folha de S.Paulo, que ainda engana muita gente com o seu falso ecletismo, emprestou suas peruas para o transporte de presos políticos. Até o final, a Rede Globo procurou esconder a campanha das Diretas-Já, que contagiava a sociedade.
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Já na redemocratização do país, a mídia tentou criar obstáculos para o avanço das lutas operárias. Com a retomada das greves no final dos anos 70, ela tratou os grevistas como arruaceiros. Já na Constituinte de 1988, ela defendeu a principais teses neoliberais, contra as medidas de defesa da economia nacional e contra os direitos trabalhistas – conforme comprova um excelente estudo de Francisco Fonseca. Diante do risco da vitória de um candidato oriundo das lutas operárias, em 1989, ela criou a imagem do “caçador de marajás”, garantindo a vitória de Collor sobre Lula. Nos anos 90, a mídia foi a vanguardeira da implantação do neoliberalismo no país. Ela blindou a figura de FHC, pregando a privatização do Estado, a desnacionalização e a desregulamentação.
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A tsunami neoliberal, somada às mutações tecnológicas, reforçou ainda mais este monopólio. A vitória de Lula em 2002 foi encarada como um grave risco pelos “donos da mídia”; ela poderia reverter esse processo de concentração e manipulação. Exatamente por isso, a ditadura midiática sempre exerceu forte pressão sobre o novo governo. Como observa Venício Lima, “antes mesmo da revelação pública das cenas de corrupção nos Correios, em maio de 2005, o ‘enquadramento’ da cobertura que a grande mídia fez, tanto do governo Lula como do PT e de seus membros, expressava uma ‘presunção de culpa’, que, ao longo dos meses seguintes, foi se consolidando por meio de uma narrativa própria e pela omissão e/ou pela saliência de fatos importantes”.
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A revista Veja foi ao ápice da manipulação. “Entre maio de 2005 e janeiro de 2006, foram pelo menos 20 capas sobre a crise, denúncias não comprovadas sobre o comportamento ilegal de familiares do presidente (filho e irmão), sobre dinheiro ilegal proveniente da Colômbia e de Cuba para as campanhas eleitorais do PT”, lembra Venício. Já o colunista Clóvis Rossi, da Folha, jogou o seu passado no lixo e encontrou “as digitais do PT” no assassinato do brasileiro Jean Charles em Londres, em setembro de 2005. No caso da Rede Globo, que estava dependente dos empréstimos do governo, ela deu sua cartada fatal na reta final da eleição de 2006, forçando o segundo turno – conforme comprovou a histórica reportagem de Raimundo Rodrigues Pereira.
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Outra mídia é possível e urgente!
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As eleições no Brasil, assim como a derrota do “golpe midiático” na Venezuela ou a vitória de Evo Morales na Bolívia (contra 83% das notícias opostas a sua candidatura), revelam que esta infernal máquina de manipulação de “corações e mentes” não é imbatível. Estes resultados têm, inclusive, levado partidos de esquerda, movimentos sociais e novos governantes, alvos da fúria midiática, a refletirem sobre o papel estratégico da mídia na atualidade. Alguns governantes, mais ousados e refletindo a correlação de forças internas, adotam posturas para coibir a “liberdade de empresa”, que não se confunde com “liberdade de imprensa”, como caso da RCTV venezuelana.
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No Brasil, o segundo mandato do governo Lula dá sinais de que acordou diante do poder destes monopólios. No primeiro mandato, ele só fez ceder à ditadura midiática, com a ilusão de que poderia atraí-la ou neutralizá-la, como ficou patente na adoção do padrão japonês de TV digital, bem ao gosto da Rede Globo. A pressão da ditadura midiática, porém, é violenta; já o governo continua sem nitidez de projeto, preso à lógica pragmática e conciliadora. Daí a importância da pressão da sociedade e da elaboração de plataformas visando construir, com urgência, uma nova mídia, democrática e pluralista.
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(*) Jornalista, editor da revista Debate Sindical.
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FONTE: http://altamiroborges.blogspot.com
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Um comentário:

julio disse...

Eu penso que esta é a vontade de estar em grande parte a consolidação da democracia e que as empresas sentem a liberdade de dizer alguma coisa contra alguém para defender seus próprios interesses ou para derrubar o imajen de qualquer governo, isso não será possível.