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sexta-feira, 8 de janeiro de 2010

A tentação da superficialidade
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Regiane Santos Barbosa
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Grande parte dos jornalistas, por imposição do mercado e por comodismo, faz questão de alimentar o efêmero – que nas redações se traduz em privilegiar textos enxutos, fragmentados, em blocos previamente estabelecidos, para facilitar a diagramação das páginas e o processo de fechamento da edição.
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Os profissionais correm, diariamente, em busca de notícias. Invadem as páginas dos jornais com inúmeros fatos relevantes ocorridos na cidade, no estado, no país e também no mundo. A pesada e atribulada carga de trabalho desses profissionais, associada à tensão do horário de fechamento do periódico acarretam, na maioria dos casos, notícias apuradas superficialmente, ou seja, o repórter procura saber, no local do ocorrido, somente quatro dos seis elementos do lead (primeiro parágrafo de uma notícia) o que, quem, quando e onde.
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Normalmente o como e o por quê do fato são deixados de lado, uma vez que a apuração demanda mais tempo e consulta a documentos e fontes. Devido a esses fatores, o repórter produz, diariamente, muitas matérias, mas, sem profundidade, interpretação e contextualização. "A atividade jornalística cotidiana em nosso tempo mostra sua trivialidade".
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Para o professor português e pesquisador de teorias relacionadas à análise do discurso, Jorge Pedro Sousa, o jornalismo é "uma forma de contar histórias" (ARRANZ, p. 1). A definição, à primeira vista, apesar de simples, explicita uma das funções básicas do jornalista. Mas, após uma reflexão mais aprofundada, surge um questionamento: como narrar, de forma fidedigna, histórias da vida real?
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Ainda na ânsia de ocupar as páginas do jornal, os repórteres, subeditores e editores selecionam alguns dos milhares releases que transbordam nas caixas de correio eletrônico e modificam seu texto, para que, no outro dia, as informações carregadas de interesses, provindos das assessorias de comunicação de grandes instituições públicas e privadas estejam estampadas nas páginas do periódico. Neste processo de produção de notícias, a apuração é abandonada pelo repórter, uma vez que a preocupação do profissional concentra-se mais na estrutura textual da matéria. O objetivo do jornalista é adaptar as informações contidas no release em notícia.
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A verdade é que muitos dos textos estampados nas principais páginas dos jornais chegam prontos às redações no formato de press releases, produzidos por assessorias de imprensa ou secretarias de comunicação social de órgãos públicos e privados. Neste caso, o jornalismo é praticado sem nenhuma investigação, pelo menos por parte da reportagem que os publicou.
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A atitude, repetida diariamente na maioria dos veículos de comunicação, representa a mercantilização da notícia, disseminada em meados da década de 1950, a partir da extinção dos jornais político-partidários, da profissionalização dos jornalistas, da divisão do trabalho nas redações e da hierarquização de cargos e salários.
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FONTE: www.observatoriodaimprensa.com.br
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