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sexta-feira, 22 de janeiro de 2010

Ser jovem nos dias atuais
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Ana Amélia Camarano
Juliana Leitão e Mello
Maria Tereza Pasinato
Solange Kanso
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Entender as imagens produzidas a respeito da juventude e o que significa ser jovem além dos estereótipos e estigmas pode contribuir para a elaboração das políticas públicas mais adequadas às necessidades da juventude. As representações sobre juventude elaboradas pela sociedade são geralmente marcadas pela ambigüidade. Os jovens são comumente vistos como agentes propulsores da mudança social. Por outro lado, como já evidenciado, a juventude é também vista pela ótica negativa dos problemas sociais, seja como “protagonista de uma crise de valores e de um conflito de gerações”, tal como em meados dos anos 1960, seja, ou atrelada aos “problemas de emprego e de entrada na vida ativa”, a partir dos anos 1970 [Sposito e Carrano (2003, p. 3)]. É como se a ela fosse atribuído o caráter de mudança social, com o privilégio do novo que, por sua vez, pode sempre esbarrar nas limitações do presente, sejam políticas, econômicas ou culturais.
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A mais comum das imagens da juventude parece ser a de uma fase de transição entre o mundo das crianças e o mundo dos adultos, entre a infância e a maturidade. É observável, na literatura, que nas sociedades modernas há uma demarcação, mais ou menos clara, entre a infância e a maturidade, com períodos intermediários que seriam a adolescência e a juventude. No entanto, tal abordagem tem merecido ressalvas. Se é verdade que os jovens não têm o status nem de uma criança — já são capazes de optar sozinhos por parte de seus caminhos — nem de um adulto — têm autonomia parcial em relação a seus atos —, percebê-los apenas sob a ótica da transitoriedade de sua condição dificulta, por exemplo, enxergá-los como sujeitos de direito. Os jovens passam a ser definidos, novamente, pelo negativo, pela ausência, “pelo que não seriam”.
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A outra dimensão crítica à abordagem que considera os jovens apenas como sujeitos em transição refere-se ao status de estabilidade atribuído ao mundo adulto. A vida adulta aparece como a condição por excelência a que se quer alcançar, caracterizada pela estabilidade plena. Tal visão atribui o caráter de instabilidade à juventude em oposição à estabilidade da vida adulta, sem se dar conta de que a sociedade está sempre em transformação. Em outras palavras, o mundo adulto não é suficientemente rígido e estático, para que não possa, em determinados momentos, ser também instável [Vianna (1997)]. Parece decorrer dessa percepção a fragilidade, ou ainda a ausência, de políticas públicas que atribuam à juventude um recorte afirmativo de identidade.
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Optar por uma definição de juventude como fase de transição pode ser útil, no entanto, para se observar como os processos de inserção social e econômica dos jovens transformam-se no tempo. A importância dessa definição reside no fato de que, nesse período, escolhas e decisões fundamentais são tomadas em direção a um futuro com menores sobressaltos. De acordo com Casal (1988), tomar a juventude como transição permite incorporar ao discurso da juventude os conceitos de processo, transformação, temporalidade e historicidade. Desse modo, coloca-se em evidência que a realidade juvenil é determinada por processos de transição desiguais, em que trajetórias diferenciadas exercem papéis diferenciados sobre as diversas maneiras de ser jovem.
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Além disso, o processo de transição não se dá de forma linear. Por exemplo, se é verdade que a escolarização não é mais suficiente para se conseguir emprego e uma posição mais confortável na escala social, também é verdade que ela é hoje, no mínimo, uma condição necessária para que qualquer indivíduo possa ter maiores possibilidades de inserção no mercado de trabalho. No entanto, essa condição já garantiu no passado recente a certeza de ascensão social para muitos jovens. O processo tradicional de transição — escolarizar-se, entrar no mercado de trabalho, sair da casa dos pais, casar-se e ter filhos — não ocorre hoje, necessariamente, nessa ordem. As etapas desse processo podem ocorrer em idades mais ou menos avançadas, sendo marcadas, como observa Galland (2003), pela “dessincronização” dos eventos. Entender essa mudança pode ajudar a observar como a definição de juventude pode mudar historicamente.
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A Assembléia Geral da ONU definiu juventude, pela primeira vez, em 1985 na ocasião do Ano Internacional da Juventude. Ao subscrever as diretrizes para as ações futuras e o acompanhamento desse subgrupo populacional, a Assembléia considerou como jovens as pessoas entre 15 e 24 anos de idade, sem prejuízo de outras definições de Estados membros. Como enfatizado pela Cepal, o entorno etário escolhido baseia-se em fundamentos apropriados, pois as entradas e saídas dessa fase coincidem com importantes períodos de transição no ciclo de vida.
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O limite inferior considera a idade em que já estão desenvolvidas as funções sexuais e reprodutivas, que diferenciam o adolescente da criança e repercutem na sua dinâmica física, biológica e psicológica. O limite superior diz respeito ao momento em que os indivíduos normalmente concluem o ciclo da educação formal, passam a fazer parte do mercado de trabalho e constituem suas próprias famílias, caracterizando assim, de forma simplificada, a transição para a fase adulta.
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É comum se considerar o intervalo etário que vai de 21 anos a 60 ou 65 como a idade adulta. Para alguns autores, como Sheehy (2003), essa demarcação está bastante ultrapassada. A puberdade tem começado mais cedo do que antes e a adolescência está se prolongando. Para alguns segmentos populacionais mais favorecidos ela pode se estender até os 30 anos, ou seja, uma parte dos jovens está adiando a saída da casa dos pais. Da mesma forma, o final da vida adulta também está sendo postergado pela queda da mortalidade e melhoria das condições de vida.
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O que se quer salientar, portanto, é a consideração de que qualquer definição de jovens utilizada é arbitrária. Além disso, deve-se reconhecer que o subgrupo populacional de 15 a 24 anos é bastante heterogêneo. Assim o é, por pelo menos duas razões que se sobrepõem. O intervalo etário é muito extenso, não diferenciando, por exemplo, as pessoas que têm 15 anos das que têm 24. O grupo de jovens que se situa entre 18 e 24 anos é menos privilegiado pelas políticas públicas do que o de jovens menores de 18 anos. Muitos são os projetos na área de saúde, sexualidade e capacitação profissional que abarcam todo o período da adolescência. Por outro lado, os jovens que já completaram ou estão completando o ciclo de ensino médio e têm que tomar decisões quanto a sua inserção no mercado de trabalho, com necessidades distintas daquelas experimentadas pelos menores de 18 anos, nem sempre são contemplados por políticas específicas.
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Associam-se à heterogeneidade no interior do próprio grupo populacional jovem as diferenças condicionadas pela sua posição social e de sua família, sua origem, raça e sexo. Os jovens são indivíduos que estão sendo construídos com base nas suas características pessoais e nas informações, experiências e oportunidades propiciadas pela família e pelo contexto social em que vivem, aí incluídas as políticas públicas. Os contextos diferenciados ampliam ou restringem as possibilidades desses jovens e definem vulnerabilidades diferenciadas.
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FONTE: http://feppj.files.wordpress.com
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