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quarta-feira, 11 de fevereiro de 2009

Sexualidade, drogas e violência
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Jerusa Figueiredo Netto
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Vive-se atualmente num mundo em que a vida está quase perdendo o seu significado. Não se sabe porque se vive e acha cansativo refletir sobre este tipo de questão. Alimenta-se do que se recebe, sem saber se é bom ou ruim. Não se pergunta sobre o que se quer da vida, muito menos delinea-se um projeto de vida. Reina o imediatismo, o aqui e o agora, sem a menor preocupação com as conseqüências dos atos de hoje que se concretizarão no amanhã. Não é à toa que as enfermidades mais comuns na atualidade são ansiedade (pelo viver), o estresse (de viver), a depressão (no viver). Afinal o que é viver? Por que e para que se vive?
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O processo vital vai se tornando um labirinto sem saída, transformando a existência numa prisão que escraviza. Multiplicaram-se as crenças, desde as de origens pagãs, greco-romanas, ao esoterismo mais complexo e eclético o que, ao invés de clarificar, apenas destrói os referencias humanizantes e confunde os caminhos que possibilitam o encontro consigo mesmo, com o outro e sobretudo com aquele-que-é: o amor. Amar é estar com, é o prazer de viver sendo e fazendo-se mais humano, no sentir e no existir. O prazer é indispensável no processo de personalização, na integração social, na realização profissional, mas sobretudo na construção dos vínculos amorosos que nos envolvem e nos nutrem, alimentando o ser e o viver. A carência do amor destrói o prazer legítimo, nega o valor pessoal, anula a auto-estima, cria a ansiedade, alimenta o estresse, deprime e mata.
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Sem conhecer a saída verdadeira para o prazer de viver, as pessoas acabam encontrando as fontes do prazer ilegítimo, que prometendo afinal o encontro desejado, aparece na forma da promiscuidade sexual, da violência, do uso de drogas, ou seja da agressão contra si mesmo ou contra o próximo, produzindo-se o círculo vicioso do medo, da rejeição, da discórdia, da dor e da morte, processo que começa na negação do outro e que finaliza com a destruição de si mesmo.
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A sexualidade é o dom maior da vida, pois ao encerrar em si mesma o próprio mistério da vida, constrói-se e realiza-se através das funções da reprodução, do prazer e da comunicação/relação, cuja expressão maior é o amor. No berço da vida, começa-se a aprender a sentir o prazer de viver, que se enraíza na função reprodutiva dos pais, no prazer do cultivo da vida expresso pelos pais. E se realiza na comunicação que constrói os vínculos amorosos relacionais consigo mesmo, com a família, com o meio social. Ao faltar esse berço que se cultiva no prazer nutriente do amor, constrói-se a carência e a frustração, alicerces naturais do uso de drogas e da agressão.
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O jovem sem referências, cheio de carência e de dores existenciais, torna-se vulnerável ao apelo do prazer ilegítimo e entrega-se facilmente à rede que aprisiona e escraviza a vida. Esse apelo, às vezes, surge com brilhos falsos do amor afetivo-sexual, veja-se bem, não apenas sexual; outras vezes na aprovação grupal que promete a elevação da auto-estima, a segurança e confiança mútua, a amizade. Sem os referenciais históricos das relações saudáveis intra-familiares, embalado pelo vazio da carência afetiva sexual (amor e prazer sexual), aprisionado na solidão, busca eros (vida) e encontra thanatos (morte), desejando o amor, envolve-se com o ódio; perseguindo o prazer encontra-se frente a frente com a dor.
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A sexualidade, dimensão integradora essencial do ser humano, é fonte da vida, proporciona a realização do existir, é o espaço natural do prazer, base intrínseca do projeto de vida constituída pelos pilares da reprodução (às vezes) e da comunicação/relação (sempre). O desenvolvimento da sexualidade saudável exige o exercício consciente, pleno e constante do amor, cultivado pelo prazer de ser e estar com, cujo processo resulta na realização do projeto de vida que dá significado à própria vida, uma vez que é alicerçado nos referenciais que apontam para o valor intrínseco do existir. Dessa forma, nós pais, educadores e sociedade em geral estaremos descobrindo e construindo o amor, fonte legítima da vida. Dessa forma, estaremos dizendo o não definitivo às drogas e à violência.
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