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quarta-feira, 4 de fevereiro de 2009

Redes sociais: uma prática inclusiva (parte I)
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Walter Ude

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Trabalhar dentro da perspectiva de redes sociais implica em tentar reconstruir nossa maneira de enxergar e compreender o mundo em que vivemos. Significa admitir que tudo está em relação com tudo e que não há como isolar uma parte sem considerar o todo e nem trabalhar o todo desconsiderando suas partes mais específicas, pois, na partícula mais minúscula do universo, encontramos a complexidade que a caracteriza.
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As tradicionais tentativas de isolar elementos de um sistema num ambiente totalmente imune são impossíveis e ilusórias para quem concebe o mundo funcionando em constante interação – ora passando por momentos mais regulados, ora por conflitos e contradições. Adotar essa postura diante da vida representa assumir a busca de uma prática e de uma ciência mais ativas e mais conscientes (Morin,1996). Na verdade, o mundo sempre funcionou sem rede, mas a lógica capitalista produziu e desenvolveu formas extremamente setorizadas e fragmentadas de lidar com a realidade que, tem gerado uma crença naquilo que Dejours (1999) chama de um “individualismo triunfante”.
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Temos presenciado mudanças significativas no mundo diante do chamado mercado globalizado, do livre comércio, da terceirização de serviço público, do enfraquecimento do Estado, da acelerada substituição do trabalho humano pelas denominadas novas tecnologias e do conseqüente desemprego estrutural, o qual tem gerado altos índices de pobreza e miséria no atual contexto brasileiro. Esse quadro, aqui brevemente comentado, tem produzido diversos problemas sociais e vem gerando níveis elevados de violência, de corrupção e de descaso com a vida.
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Constata-se certo relaxamento em relação a determinados princípios morais e éticos fundamentais para a regulação de uma sociedade que pretende garantir aspectos básicos para uma vida cidadã. Essa configuração do contexto atual impõe que a sociedade civil reveja sua forma de participação. Parece que a idéia de que atualmente se pertence a um mundo globalizado retirou das pessoas um pouco do sentido de pertencimento a uma nação e a um local de origem. A velocidade das aceleradas transformações implementadas pelo denominado projeto neoliberal tem impedido, avaliações coletivas sistemáticas quanto às conseqüências das atuais propostas políticas, econômicas e sociais para a vida do povo brasileiro. Optar por um mundo regido pelo imediatismo – segundo as normas de um mercado global – é uma postura arriscada.
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Por outro lado, nossa história apresenta-se marcada por uma relação de dependência com o Estado, como se fosse o único responsável pelas políticas de assistência e de seguridade da população. Esse traço social tem nos impedido de construir uma avaliação coletiva para pensarmos outra forma de organização social, na qual o Estado fosse regulado por decisões surgidas da coletividade. Quanto às relações de emprego, nossa trajetória histórica, social e cultural se deu de uma maneira semelhante. Sempre ficamos esperando do patrão sua oferta de emprego e o conseqüente pagamento de um salário pelos serviços prestados. Enfim, não aprendemos a construir juntos um projeto coletivo de sociedade. Criou-se uma relação dualista em que, de um lado, ficou o Estado e o patrão e, do outro, o usuário e o empregado
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Diante disso, as pessoas têm encontrado algumas dificuldades em buscar apoio, construir elos com outras pessoas, grupos, movimentos e instituições, para tentarem organizar novas propostas de vida, apesar da solidão, do sofrimento, da precariedade ou da insegurança que enfrentam no seu cotidiano. Em outras ocasiões, têm o desejo de compartilhar idéias, invenções, propostas ou alegrias e não conseguem encontrar espaços de expressão e de comunicação. No entanto, o ser humano e nenhuma outra forma de vida existente nesse planeta nasceram para viver em isolamento. Do contrário, adoecem ou até mesmo morrem.
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Contudo, vivemos numa sociedade capitalista que, cada vez mais, tem estimulado a segregação das pessoas, levando-as, muitas vezes, a ações individualistas e particulares, tais como: construir condomínios fechados e aparelhados com diversos sistemas particulares de segurança; pagar seguros de aposentadoria, moradia, de veículo e de vida, entre outros; em vez de tentar discutir as condições que estão produzindo a violência e a insegurança na nossa sociedade. Enfim, buscam-se soluções individuais sem considerar o coletivo. Essa lógica favorece a ideologia dominante, pois aumenta a lucratividade dos agenciadores de seguros, e esses processos não são avaliados ou questionados. Em síntese, existe uma indústria da violência e outra da proteção privada, sendo que elas se complementam, apesar de aparentarem ter uma lógica oposta.
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FONTE: Redes sociais: possibilidade metodológica para uma prática inclusiva. In: Carvalho, et al. (org.). Políticas Públicas. Belo Horizonte, Editora UFMG/PROEX, 2002.
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