A chegada do Jornalismo ao Brasil
Bertrand Sousa
Da Europa, a imprensa foi exportada para as colônias em todo o mundo, chegando ao Brasil com a família real. Entretanto, verifica-se um espaço de 308 anos entre a conquista do território e a instalação da imprensa no País (em 31 de maio de 1808), quando Dom João fundou no Rio de Janeiro a Imprensa Régia.
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O primeiro jornal brasileiro começou a circular em 10 de setembro de 1808. A Gazeta do Rio de Janeiro era um jornal de quatro páginas e se constituía um órgão oficial da administração portuguesa. Antes da Gazeta, porém, em 1º de junho de 1808, em Londres, Hipólito José da Costa tirava a primeira edição do Correio Brasiliense. Este era mensal, com 72 a 140 páginas e chegava ao Brasil escondido. Seu conteúdo era doutrinário, defendendo as idéias liberais e o abolicionismo, desagradando, assim, os interesses portugueses. (BERTOL & FROSI, 2004)
Porém, de acordo com Melo (1973), existiam outros motivos para o atraso na chegada da imprensa ao território brasileiro, já que em outras de suas colônias, os portugueses até contribuíram para essa implantação. Os fatores sócio-culturais, tais como: o analfabetismo das populações indígenas, a ausência de escolas ou universidades, já que a natureza da colonização foi exploratória; e até mesmo os setores burocráticos do governo eram precários e não necessitavam de impressão. Ou seja, nada justificava qualquer investimento português em imprensa, muito menos em jornalismo.
Além disso, o comércio e a indústria eram atividades embrionárias ou inexistentes e, ainda, havia a questão da censura, imposta por todas as metrópoles absolutistas da época à suas colônias. A implantação da imprensa não constituiu uma iniciativa isolada, mas vinculou-se a um complexo de medidas governamentais capazes de proporcionar o apoio infra-estrutural para a normalização das atividades da Coroa Portuguesa, aqui instalada de modo provisório. Por este motivo, somente com a mudança do governo e da família real para o Brasil, as atividades culturais, o comércio e até a burocracia governamental exigiam que fosse instalada a imprensa.
Enfim, a trajetória do Jornalismo Brasileiro no século XIX foi marcada pela construção de uma nova cultura política. De jornais meramente opinativos e bajulatórios da corte, passamos ao jornalismo partidário, engajado nas lutas sociais. Surgiram então jornais abolicionistas, reforçando a função ideológica e partidária que o jornalismo assumia naquela época. A abolição da censura prévia por Dom Pedro I, em 1821, foi vital neste contexto. Logo depois, surge a primeira versão da Lei de Imprensa, promulgada no ano de 1823.
Os jornais empresa do início do século XX também fizeram história no Brasil. Este período foi marcado por iniciativas pioneiras na área do ensino da comunicação, sobretudo, em função das mudanças pelas quais passava a imprensa, evoluindo então para uma fase industrial, principalmente nas capitais do país. O Brasil passava por transformações políticas, sociais e econômicas, e a modernização viria a transformar o cenário urbano.
Em 1918, a Associação Brasileira de Imprensa (ABI), preocupada com o preparo de profissionais, tentou criar aquela que seria a primeira Escola de Jornalismo do país, baseada nos moldes das organizações norte-americanas. Mas foi só em 1935 que funcionaria, na Universidade do Distrito Federal, o primeiro curso superior de Jornalismo.
Durante o “Estado Novo”, a imprensa brasileira sofreu duros golpes. O pior deles foi o surgimento da censura - a partir de 1939 - estruturada pelo Departamento de Imprensa e Propaganda (DIP). Porém, a expansão industrial do jornalismo não foi interrompida, pois os recursos governamentais empregados na publicidade dos atos oficiais beneficiaram os meios de divulgação. Em 1945, a nação pôs um fim na ditadura. Foram abolidos os instrumentos de opressão e a imprensa readquiriu sua plena liberdade. Anos depois, em 1953, o governo criaria uma nova Lei de Imprensa.
O autoritarismo implantado pela ditadura, a partir de 1964, obrigou nossa imprensa a publicar apenas “notas oficiais”. As redações funcionavam sob o clima de tensão e a maioria dos jornalistas se permitia acrescentar apenas uma cabeça ou lead às notícias que chegavam.
O sistema midiático brasileiro, como hoje o conhecemos, foi configurado e consolidou-se na década de 70. Esse período, que se inicia com o AI-5 e o lançamento do Pasquim irá se encerrar com a anistia e a greve dos jornalistas. As experiências jornalísticas do período são exemplares. É a época que O Estado de São Paulo publica “Os Lusíadas”; Veja lança uma edição sobre torturas; surge Opinião, Movimento e outros jornais da imprensa alternativa. Enquanto a censura se abranda, os jornais se amoldam. A experiência mais rica, indiscutivelmente, é a reforma da Folha de São Paulo, conduzida por Cláudio Abramo. A crise da Veja é sintomática, mas permite o lançamento de Istoé e – pouco depois – da experiência frustrada do Jornal da República. Nesta década, temos a ditadura pura, a distensão e os primórdios da abertura.
No começo dos anos 80, o Jornalismo brasileiro ampliou sua ação de contraponto à "agenda oficial", introduzindo valores e técnicas para nortear seus textos, tais como: a investigação, a denúncia, a pluralidade informativa, a informação conscientizadora, a relevância sócio-comunitária; enfim, despertando nosso povo para os tempos de mudança.
A partir dos anos 90, observa-se um aprofundamento da subordinação do Jornalismo à lógica capitalista. Por outro lado, a mídia passa a participar cada vez mais da vida política do País, através de investigações e denúncias. O processo de impeachment do ex-presidente Fernando Collor de Melo, por exemplo, demonstrou a influência que os meios de comunicação nacionais podem exercer sobre os jovens e toda a sociedade brasileira.
Com efeito, a história do Jornalismo no Brasil reflete a própria situação do País. Não há mais censura nem repressão do Estado, porém os interesses comerciais de cada publicação, que na maioria dos grandes veículos são omitidos, prevalecem – em alguns casos – em detrimento a informação.
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FONTE: http://www.insite.pro.br/Monografia%20Bertrand.htm
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