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sábado, 3 de julho de 2010

Beleza interior
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Flavio Samelo
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Indo de encontro a um pré-conceito do senso comum, que diz que “as mulheres bonitas são burras, dão trabalho, e acabam virando motivo de piada”, o que é um equívoco, muitas modelos brasileiras estão provando o contrário. Elas decidiram tomar outro rumo e buscar novas ideias, referências e histórias para fazerem parte de suas vidas de correria mundo afora. Depois que comecei a pesquisar sobre isso, vi que existem vários exemplos do que todos pensam ser uma exceção. E não é.
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O mundo da moda é uma loucura, e as modelos são os soldados de frente desse mercado que envolve muito dinheiro, fama e solidão. Em sua grande maioria, são meninas novas, no auge da adolescência, com 13 anos em média, às vezes menos, que largam suas famílias para tentar o “sonho” de se tornarem famosas nas grandes cidades. E é nessa hora que a solidão pesa. Umas vão pras baladas, outras se perdem e algumas acabam voltando ao aconchego familiar. Mas existem também aquelas que decidem buscar um meio termo em tudo isso, algo que requer uma cabeça forte, força de vontade e foco.
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Acabei conhecendo algumas modelos que, através da arte, encontraram uma saída, uma balança que as ajuda a equilibrar seus desejos, decepções e sonhos com suas fortes identidades próprias. Durante um casting, ou entre um desfile e outro, o ócio que as acompanha serve de espaço para que as ideias se ordenem, transformando suas experiências em inspiração para criar. O resultado é uma produção, na maioria das vezes, desprovida de academicismos, o que garante uma originalidade sem igual aos trabalhos.
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No caso de Jéssica Pauleto, 19 anos, gaúcha de Garibaldi, a fotografia sempre foi um hobby. Por influência de outros fotógrafos, alguns também do mundo da moda, o potencial da menina acabou sendo impulsionado. Suas fotos são cheias de referências a sua cidade natal e mostram a relação dessas referências com os lugares por onde ela passa a trabalho. “Fotografar envolve sentimento e sensibilidade”, diz Jéssica.
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Focada em sua produção fotográfica, Jéssica sabe o que procura: “Quero fazer uma imagem que toque de alguma forma quem a vê, quero criar imagens que façam os outros pensarem”. Inspirada por Robert Doisneau, Bresson, Ansel Adams, Brassai e em especial Paolo Roversi, a fotógrafa busca as referências certas para o que quer fazer com seu trabalho: “Não são apenas fotografias de moda, comuns, mas sim arte de verdade”. Jéssica atualmente cursa a faculdade de fotografia em São Paulo, onde se dedica intensamente a sua produção.
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Outra gaúcha é Palloma Dreher, 22 anos, natural de Porto Alegre, mas que logo cedo se mudou com a família para Viamão, uma cidade vizinha. Seus desenhos surgem entre uma espera e outra de trabalho, mas suas pinturas feitas com tinta a óleo são produzidas em seu apartamento, num clima mais tranquilo e com uma ideia forte em cima.
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Tudo começou como uma forma de ocupar o tempo livre, mas logo ganhou um novo rumo: “Minha arte é muito mais emocional do que racional”. Quando perguntada sobre suas referências, os nomes de Basquiat, Picasso, Bernard Buffet e Pollock mostram de onde ela trouxe a expressividade visceral de seus desenhos, sem muita preocupação realista nos assuntos representados. Algumas de suas telas estão expostas na galeria Memmi, em Paris. Seu site está em fase de produção, onde ela vai poder mostrar mais de seus trabalhos ainda pouco conhecidos, mesmo por suas amigas modelos.

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