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segunda-feira, 11 de maio de 2009

Fatores associados à gravidez na adolescência
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Carla Santos Domingues
José Domingues dos Santos Jr.
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Quando analisamos os fatores envolvidos na gênese desse aumento de gestações entre as adolescentes, encontramos uma rede complexa e multicausal, apontando que este não é um problema específico da área da saúde, mas que envolve outros elementos como o sistema educacional, a estrutura familiar e religiosa, a própria perspectiva econômica do Brasil, além de algumas características específicas da adolescência.
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Dentre os fatores relacionados, pode-se apontar a necessidade de ampliação do número de profissionais sensibilizados e ou capacitados em atenção aos adolescentes (principalmente os profissionais do PACS/PSF) e da existência de um programa eficiente de planejamento familiar com incremento de acesso aos métodos contraceptivos, principalmente o condom. Outro aspecto que compete à saúde está relacionado à assistência ao pré-natal e ao parto. Este atendimento à população adolescente representa em torno de 25% do total das gestantes atendidas no Sistema Único de Saúde(SUS). A esta atenção, soma-se a assistência ao recém-nascido e todas as ações geradas para a criança.
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É importante ressaltar que as adolescentes que estão engravidando precocemente não estão expostas apenas ao risco de uma gravidez indesejada, uma vez que elas estão vulneráveis à contaminação por alguma doença sexualmente transmissível e principalmente a AIDS. Segundo dados do Ministério da Saúde, 23.000 adolescentes de 10 a 24 anos estão infectados pelo vírus da AIDS, representando 13% da população atingida pela AIDS. Além disso, 12.800 gestantes, entre 15 e 49 anos, estariam infectadas pelo vírus da AIDS, sendo que a maioria descobriu ser soropositiva durante a gravidez.
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Em relação às gestantes infectadas pelo HIV, as chances de uma jovem transmitir o vírus para o seu bebê são de 30%. Se for tomada a medicação adequada, disponível em toda a rede pública de saúde gratuitamente, este índice cai para 5%. No que diz respeito aos aspectos biológicos, a idade da ocorrência da menarca vem diminuindo cerca de 4 meses a cada década, encontrando-se atualmente, na faixa de 12,5 a 13 anos. Sendo a menarca, em última análise, a resposta orgânica que reflete a interação dos vários segmentos do eixo neuroendócrino feminino, quanto mais cedo ocorrer, mais exposta estará a adolescente à gestação (VITALLE, 2003), associado ao início cada vez mais precoce das relações sexuais, ao conhecimento e não utilização adequada dos métodos contraceptivos, tanto por pouca disponibilidade dos mesmos na rede básica de saúde, como pela falta de condições financeiras para adquiri-los.
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Muitas vezes, o método contraceptivo pode estar disponível, mas o adolescente não sabe como usá-lo, corretamente. Este fato pode ser evidenciado, por exemplo, na colocação da camisinha e nas tomadas das pílulas, principalmente em relação ao intervalo entre as cartelas - muitas adolescentes se confundem e iniciam erroneamente ou não respeitam o intervalo recomendado entre uma e outra cartela. O coito interrompido, apesar de ser muito utilizado na adolescência, também apresenta um grau enorme de dificuldade, pois pressupõe um controle da ejaculação e, como nesta fase é comum a ocorrência de ejaculações precoces, torna-se complexa sua utilização. O desconhecimento da maneira correta de utilizar os métodos, portanto, é responsável por uma boa parcela das "falhas" que lhe são atribuídas.
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O processo de formação dos professores não tem contemplado o aprofundamento de temas relacionados à adolescência, quer seja inseridos no contexto de disciplinas que ensinem aspectos básicos sobre o crescimento e desenvolvimento físico e psicológico, quer seja na discussão de aspectos comportamentais desta faixa etária. A escola, portanto, tem um papel fundamental na formação dos jovens na atualidade, devendo contribuir de uma forma mais efetiva na formação das crianças e dos adolescentes, tanto no sentido da formação ampla dos jovens como cidadãos, incluindo no seu currículo escolar aspectos relacionados à adolescência como: sexualidade, métodos contraceptivos e cuidados com a saúde. Não só a priorização do acesso à escola, mas o aumento da escolaridade, em anos de estudos, é fundamental para dar uma perspectiva melhor para o desenvolvimento pessoal e profissional das adolescentes.
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A família poderia funcionar como espaço de discussão de temas relacionados à sexualidade, de forma a desmistificar crenças e tabus que possam intervir na vivência natural da sexualidade, permitindo que os adolescentes possam desenvolver habilidades para expressar suas emoções, sentimentos, podendo esclarecer suas dúvidas. Assim, aprenderiam melhor a resistir às pressões do grupo e defender os valores nos quais acreditam. Esses são fatores fundamentais para que o adolescente possa adquirir um estilo de vida mais saudável. Por fim, dentro desta complexa rede de causalidade, relacionada à gravidez em adolescentes, as políticas públicas devem priorizar em suas ações a inclusão da população adolescente visando buscar soluções para os problemas que afligem a adolescência.
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