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terça-feira, 21 de abril de 2009

Percepções do racismo brasileiro
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Lady Christina de Almeida (*)
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Refletir sobre as relações raciais no Brasil é um dos caminhos para compreender a estrutura desigual de nossa sociedade. Nesse percurso, é imprescindível atentar para as linguagens do racismo e, também, a desigualdade estruturante entre as pessoas brancas e negras na sociedade brasileira. Há um conjunto de fatores que contribuíram e contribuem, para a reprodução das desigualdades raciais no Brasil. A cor, por exemplo, representa um estigma que reproduz preconceitos e discriminações. Ao mesmo tempo que indica a supremacia da população branca, aponta a “inferioridade” estética, cultural e social da população negra, prejudicando sua auto-estima.
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Um fator importante para compreender o racismo brasileiro é a ideologia racial vigente em nossa sociedade. A ideologia racial que predominou no Brasil foi a do branqueamento – um projeto político do século 19 em nosso país. Essa ideologia se baseava na presunção da superioridade da raça branca. De acordo com ela, o branqueamento da população tornaria possível a “melhoria” racial, estética e cultural do país. Essa ideologia está intrinsecamente ligada ao tipo de preconceito racial desenvolvido na sociedade brasileira.
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Por causa dela, é muito comum o alisamento dos cabelos por parte da população negra. Embora a busca pelo cabelo liso tenha se tornado moda vigente no mundo contemporâneo, quando uma mulher negra alisa seu cabelo, pode ser classificada como morena, afastando-se do estigma, do atributo físico “negativo” que ela carrega: o cabelo crespo.
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Em nosso cotidiano, o cabelo crespo (de negros) é denominado cabelo ruim; e o cabelo liso (de brancos) é denominado cabelo bom. Há uma série de normas de beleza relacionadas à cor e, à medida que a pessoa se afasta do padrão – esteticamente branco –, é considerada feia, sem “boa aparência”. Essa estética de cor ainda é utilizada como barreira no ingresso da população negra no mercado de trabalho. Mas veja, não existe cabelo bom ou ruim, os cabelos são lisos, crespos, encaracolados, cada um com suas especificidades e beleza.
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Entraves à mobilidade
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No Brasil, ainda hoje, a pessoa negra é pensada como um indivíduo com características inferiores às das brancas. Por causa do preconceito, o processo de ascensão social das pessoas negras é lento. Nessa perspectiva, aquelas definidas como não-brancas têm menos oportunidades educacionais, de acesso ao trabalho e de qualidade de vida que as definidas como brancas. De fato, como o sociólogo Nelson do Valle Silva salientou, os negros não são pobres porque nascem pobres, são aprisionados na pobreza por barreiras que impedem sua ascensão social.
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Pesquisas recentes do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) e do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) revelam desigualdades salariais, ocupacionais e educacionais entre pessoas brancas e negras. Esses institutos apontam que a condição social da população negra permanece subordinada a dos brancos. O IBGE, por exemplo, em setembro de 2008, divulgou que quando uma pessoa branca com 12 anos ou mais de estudos está no mercado de trabalho, ela pode receber 40% a mais do que uma pessoa negra (preta ou parda) com a mesma formação, exercendo a mesma função.
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Como era de se esperar, nessas condições, somente 12% do grupo de pretos e pardos está entre o 1% mais rico da população. Eles são, todavia, 73,9% dos 10% mais pobres. A população negra brasileira continua, majoritariamente, ocupando funções de status inferior à branca. Esse processo crônico de desvantagem entre pessoas brancas e negras representa uma desigualdade racial estrutural.
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Dessa maneira, o Brasil está bem longe de representar uma democracia racial. O grande desafio é não aceitar a naturalização dessas desigualdades e encontrar caminhos e estratégias para saná-las urgentemente. Esse engajamento não deve ser só de negros e negras, mas de toda a sociedade, de todo brasileiro e toda brasileira que sonha e luta por um país melhor, mais justo e mais humano.
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(*) Mestranda em Ciências Sociais pela PUC-Rio
e professora de Sociologia da Sedec Rio de Janeiro
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