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sábado, 25 de outubro de 2008

A (falta de) interatividade na TV Digital
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Silvio Meira
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O Brasil resolveu lançar seu programa de TV Digital - que por sinal não vai muito bem das pernas - sem interatividade. A partir de uma plataforma de hardware, para transmissão e recepção do sinal de vídeo e áudio (similar à japonesa), botamos a coisa no ar em São Paulo há quase um ano (dezembro de 2007). De lá pra cá, a penetração do Sistema Brasileiro de TV Digital (SBTVD), vem andando a passo de cágado.
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Até porque, como o ministro das comunicações descobriu recentemente, ninguém mais tá falando de TV Digital, a não ser os fabricantes de set top boxes - as caixas que convertem o sinal digital pras TVs analógicas - os provedores de middleware - sistema operacional dos boxes - e os potenciais desenvolvedores de aplicações. As grandes redes de televisão, depois de terem conseguido o que queriam - migrar para o padrão digital sem admitir novas estações no espectro e excluindo as operadoras de telecom da TV Digital móvel - relaxaram e estão esperando que alguma coisa aconteça.
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A questão é… que coisa? Certamente não vai ser a TV aberta fazendo um monte de propaganda da TV Digital. Com um público reduzidíssimo - algumas dezenas de milhares de set top boxes vendidos e interesse dos anunciantes perto de zero - não há porque ninguém se preocupar, agora, com TV Digital aberta. O cabo e o satélite, também digitais e há muito tempo, vão bem, com seus 52% de crescimento em cinco anos, chegando a mais de cinco milhões de lares hoje, sem contar os gatos de todos os tipos. Um milagre pro Brasil, mas pouco ainda pra um país do nosso tamanho. Mas, mesmo assim, talvez cubra boa parte dos 15% da população que estão nas classes A e B e podem pagar por centenas de canais em casa… e que não têm nenhum interesse em TV Digital aberta, que passa a mesma coisa que já se vê na TV Digital paga.
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O que falta, mesmo? Duas coisas, talvez. Uma, outra ou as duas em conjunto. A primeira é uma programação diferente no canal digital. Tipo: o canal analógico da TV X passando Titanic pela ducentésima vez, enquanto o digital da mesma emissora passa Corinthians vs. Palmeiras ao vivo no Paulistão. Aí a TV Digital aberta, grátis (financiada por anunciantes), passaria a ter [parte d]a programação da TV paga, e o público de baixa renda, que não pode pagar por TV fechada, iria pro SBTVD na hora. Pode apostar em milhões de set top boxes vendidos em pouco tempo, dependendo só da capacidade das emissores e redes de prover uma cobertura decente pelo país afora.
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A segunda é interatividade. Poder mexer na programação, interagir com ela, apostar no resultado dos jogos, acessar o banco, pagar contas, comprar coisas com o controle remoto, marcar uma consulta, ver o boletim de seu filho na escola. A menos de um detalhe: interatividade não deu certo na TV Digital em nenhum lugar do mundo até agora. Por causa de uma mistura de padrões confusos, direitos e propriedade intelectual ainda mais confusos e falta de planos de negócios viáveis para emissoras e anunciantes, todas as tentativas de dotar a TV Digital de uma interatividade real e prática naufragaram. Aqui no Brasil, está se tentando fazer vingar uma plataforma de interatividade nacional, ainda não completamente especificada e tampouco preparada para o horário nobre.
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E aí aparecem umas idéias de botar um monte de caixas na rua com uma versão inicial (uma "beta") e, depois, trocar seu sistema operacional, ou um conjunto significativo de suas funções básicas. Algo me diz que isso é muito complexo e não vai rolar. Até porque os fabricantes do primeiro time, como Philips, Sony, etc, não vão querer desfilar com este modelito. Talvez fosse melhor tentar alguma coisa de classe mundial, um modelo de negócios em que participássemos dos resultados junto com o resto do planeta, algo que fosse ser usado em quase todo canto e mais alguns.
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Pra terminar, tenho conversado com muita gente, nos últimos anos, sobre interatividade em TV Digital. E muito dessa gente me diz que o principal problema do padrão brasileiro de interatividade para TV Digital é que ele não é muito interativo… no seu processo de definição e construção. E que uma boa parte dos atores que deveria estar sentada à mesa, decidindo principalmente o negócio de interatividade e os negócios ao redor dela, não está lá.

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