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domingo, 8 de janeiro de 2012

A leitura através da locação de livros

Paula de Almeida Rochetti
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A leitura é uma prática. Uma prática ensinada, aprendida, elaborada, significada e ressignificada constantemente. É uma prática que vai além da decifração do código escrito, que vai além do encontro do leitor com o texto, que ultrapassa as barreiras do tempo e do espaço. Em busca de leitura e do leitor, nos perguntamos: será que o brasileiro realmente não lê?
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Esta ideia amplamente difundida entre nós e plenamente aceita por muitos, persiste ainda, pois, dentre outros motivos, acredita-se que leitor é aquele que lê um certo tipo de literatura e que o faz de uma certa forma, criando-se assim um estereótipo de leitor. Em uma busca por leitores, encontramos uma locadora de livros, em Campinas-SP, já com 15 anos de funcionamento! Ali naquele espaço encontramos uma prática pouco conhecida: a prática de locar livros. Uma prática cheia de gestos, representações, modos de funcionamento, que são próprios deste espaço
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Quando entramos em uma locadora de livros e encontramos um leitor que escolhe um romance, conversa sobre as histórias (as lidas e as vividas), encontramos um sujeito ator e autor de uma história da leitura. Ao mesmo tempo em que pertence a um grupo de leitores de livros de aluguel, e atua (inconscientemente) de acordo com esta prática histórica, social e culturalmente constituída, está também modificando-a, sendo autor de novos gestos e significados.
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Atualmente, as formas de locação são diversificadas. O leitor pode alugar apenas um livro por vez; pode associar-se e pagar uma mensalidade pelas suas leituras; ou pode fazer seus empréstimos pela Internet e receber os livros na sua própria casa. Porém muitos leitores nem ao menos sabem que locadoras de livros existem. Nessa locadora encontrada, mais de 1.200 leitores já foram cadastrados. Eles tem mais de seis mil títulos a disposição. Os livros mais procurados por eles são os livros para lazer, em sua maioria os romances recém-lançados. Através da locação eles lêem, em média, quatro livros ao mês. Podem também aproveitar as revistas e jornais que ficam a disposição.
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Percebemos que os leitores da locadora sentem necessidade de compartilhar suas leituras e a forma como significaram os textos lidos. A locadora de livros oferece um espaço onde as práticas de leitura de cada um podem ser compartilhadas. O simples fato de um livro ser o mais procurado já apresenta um movimento do grupo, e o leitor, que não conversou efetivamente com outro leitor sobre o livro, pode retirá-lo com a segurança de que foi aceito pelo grupo ao qual pertence.
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Outro aspecto da locação diz respeito à importância de um mediador para estas relações. No caso da locadora de Campinas, é a proprietária da locadora quem faz todas as trocas, acolhe os comentários, associa mentalmente os leitores e faz novas indicações. Enfim, a locação de livros é uma prática que nos apresenta uma certa maneira de ler, com leitores e leituras legítimas.
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FONTE: Revista Mundo Jovem, ano 48, n° 412.
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