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domingo, 20 de setembro de 2009

Sexualidade e adolescência (parte 1)
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Ana Sudária de Lemos (*)
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Sexualidade é energia a vital que nasce com o ser humano e continua até a sua morte, manifestando-se como um fenômeno biopsicossocial que influencia no seu modo de estar, compreender e viver o mundo como ser sexuado. Sendo assim, a sexualidade e suas expressões se ampliam além do foco das respostas genitais e estão submetidas às modificações decorrentes das experiências de aprendizagem - proporcionadas pelo meio ambiente vivencial - e das transformações anatômicas e fisiológicas das diferentes fases que fazem parte do contínuo processo evolutivo do ser humano.
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Na adolescência, a sexualidade se manifesta em novas e surpreendentes sinestesias corporais, em desconhecidos desejos e nas novas necessidades de relacionamento interpessoal ocasionadas pelas alterações hormonais trazidas pela puberdade, sendo um foco importante de preocupação e curiosidade para adolescentes de ambos os sexos. A maneira como o adolescente vai lidar com a sua sexualidade, a maneira como vai expressá-la e vivê-la, é influenciada por vários fatores entre os quais estão a qualidade da relação emocional e afetiva que vivenciou com pessoas significativas na infância e vivência no aqui e agora, pelas transformações psicológicas e cognitivas trazidas pelo crescimento e desenvolvimento, até os valores, normas morais e crenças da sociedade na qual ele está inserido.
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Como um fenômeno biopsicossocial carregado de profundas transformações nessa fase evolutiva e como parte inerente da identidade, a expressão da sexualidade no adolescente é colorida pela busca de sua identidade adulta, o que acarreta algumas características específicas que valem a pena serem enfatizadas. Os conflitos que vivem com seu corpo em mudança oscilam entre o prazer do crescimento e o medo e estranheza das novidades que esta mudança acarreta. As comparações que ele faz entre o corpo ideal, criado por modelos de beleza de uma cultura de massa consumista, e o seu corpo real podem influenciar de maneira negativa no seu auto-conceito.
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Conseqüentemente, podem se refletir depreciativamente na sua auto-estima e auto-afirmação, tão necessárias ao descobrimento de si mesmo como pessoa que tem qualidades, que tem defeitos e com um potencial criativo a ser desenvolvido e utilizado durante a vida, para responder saudavelmente às demandas de um mundo influenciado por constantes e rápidas transformações e com valores mutáveis, que repercutem na sua maneira de viver e exprimir a sua sexualidade.
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Organizando-se como uma pessoa separada emocionalmente dos pais, afastando-se do seu papel de criança e experimentando papéis de adulto, o adolescente vivencia conflitos ambivalentes de dependência e independência expressos na maneira como questiona as atitudes, comportamentos e valores de sua família e sociedade. Ele constrói sua referência de valor, de ética, de moral, sua maneira de pensar e estar no mundo, relacionando-as, às vezes, contrariamente aos valores familiares e sociais. Essa reorganização de si mesmo passa por condutas peculiares transitórias, que podem se refletir na maneira de vestir e no uso de adereços, na higiene e na organização pessoal e do espaço em que vive e nas atitudes sociais reivindicatórias.
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Querendo saber mais sobre o mundo que o cerca, avaliando-o com critérios diferentes, utiliza, ao lado dos pensamentos concretos de sua infância, a sua mais recente aquisição: o pensamento abstrato, que traz elementos novos para essa avaliação. Essa nova maneira de ver e avaliar o mundo pode gerar pensamentos onipotentes, mágicos que determinam hipóteses avaliativas equivocadas que atuam como verdades e interferem no comportamento do adolescente e conseqüentemente no seu comportamento sexual. No mundo onipotente juvenil, como resultado da idéia - “comigo isso não acontece, só com os outros” - aparecem as gravidezes não planejadas e os comportamentos de risco no trânsito e na atividade sexual, entre outros.
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Nessa etapa de reorganização de si mesmo é fundamental o grupo de companheiros como suporte para o adolescente. Nesse espaço, o adolescente se identifica com outras pessoas, vivencia novos papéis, assimila outros valores que não os familiares. Enfim, o grupo fornece atrativamente, uma nova estrutura de padrões sociais e sexuais que se somará aos outros fatores anteriormente assinalados, na adoção de um estilo de vida que vai se espraiar nos seus comportamentos e maneira de viver, de expressar a sua sexualidade, com alto ou baixo risco para a sua saúde biopsicossocial.
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(*) Psicóloga, especialista em saúde do adolescente e do jovem.
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