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segunda-feira, 14 de setembro de 2009

Expectativas profissionais
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Nei Alberto Pires (*)
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O mundo do trabalho complexo e exigente de hoje produz a escassez de oportunidades. Esta realidade sugere atitudes de superação e grande dinamismo de todos nós. As oportunidades não estão dadas, mas precisam ser criadas e recriadas, a partir dos contextos em que somos envolvidos ou convidados a participar. O que gera conflito e apreensão entre nós, no entanto, são as amarras que nos prendem a um paradigma de formação e educação que considera a espera, e não a busca, elemento fundamental para a inserção no mundo do trabalho. Faltam-nos instrumentos que ativem mais a nossa criatividade e dinamismo, e menos as nossas atitudes passivas como a acomodação e a espera.
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Todas as oportunidades de trabalho que criamos ou que nos aparecem, geram uma grande expectativa. Sabemos lidar com esta expectativa? Conseguimos tirar lições de cada processo de seleção em que participamos, independentemente do resultado? Nossas tentativas de inserção no trabalho são investimentos ou são meros fins em si mesmos? Como lidamos com as frustrações?
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O trabalho é um fator dignificante do ser humano. Trabalhar, para além de propiciar a condição de sermos úteis e partícipes do mundo, nos dá, também, a emancipação e dignidade humanas. Quem trabalha, preferencialmente naquilo que gosta de fazer, investe seu tempo, sua energia e suas habilidades de tal modo que seu trabalho passa a também significar sua vida. Este aspecto é facilmente identificado através do comportamento das pessoas no trabalho.
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Todos precisamos trabalhar. Nem todos, infelizmente, temos as condições de nos dignificar com o trabalho. O trabalho precarizado, estressante, insalubre e pouco valorizado, para muitos, significa um sacrifício. E, com poucas oportunidades, muitos acabam se submetendo a vida inteira a um trabalho que não os realiza. É muito bom quando as circunstâncias de nossa vida pessoal e intelectual coincidem com as oportunidades profissionais capazes de nos envolver com as nossas melhores energias e desejos. Mas, enquanto esta sinergia não acontece, devemos aproveitar todas as experiências de trabalho como oportunidades únicas para desenvolver distintas habilidades. Estas habilidades e aprendizagens são especialmente importantes para uma melhor compreensão da complexa realidade do trabalho num mundo globalizado.
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Outra coisa a considerarmos é que não vivemos uma crise de trabalho, mas sim, uma crise de emprego. O mundo, a humanidade, por sua dinâmica de evolução, cria constantemente novas necessidades que exigem dedicação, competências e esforços humanos. Mas estas, muitas vezes, não são assimiladas e incorporadas pelo mercado de trabalho por não seguirem a lógica e os parâmetros do modelo de produção vigente.
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As políticas públicas que envolvem a temática do trabalho como a educação, a intermediação da mão-de-obra e a formação profissional precisam, urgentemente, auxiliar os trabalhadores numa melhor compreensão do mundo do trabalho. Do mesmo modo, devem permitir a construção de outras habilidades que permitam recriar o mundo do trabalho. Estas não são responsabilidades exclusivas de indivíduos e profissionais, mas de uma sociedade inteira que precisa se re-organizar, a partir da garantia de um trabalho para todos. É, não permitamos, pois, que o dinheiro público ajude a financiar as nossas frustrações e expectativas profissionais.
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(*) Professor e militante dos Direitos Humanos.
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FONTE: www.cepec.org1@gmail.com
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