Rogério da Costa (*)
.
Na corrente da mudança de perspectiva do conceito de "comunidade" para "redes sociais", vários autores das ciências sociais passaram a investigar, desde os anos de 1990, o conceito empírico de capital social (Burt, 2005; Lin, 2005; Narayan, 1999; Portes, 1998; Grootaert, 1997; Fukuyama, 1996; Putnam, 1993; Coleman, 1990). Essa noção poderia ser entendida como: a capacidade de interação dos indivíduos, seu potencial para interagir com os que estão a sua volta, com seus parentes, amigos, colegas de trabalho, mas também com os que estão distantes e que podem ser acessados remotamente. Capital social significaria aqui a capacidade de os indivíduos produzirem suas próprias redes, suas comunidades pessoais.
.
Cabe lembrar que James Coleman e Robert Putnam, que estão entre os primeiros a analisar a noção de capital social, procuraram defini-lo como a coerência cultural e social interna de uma sociedade, as normas e valores que governam as interações entre as pessoas e as instituições com as quais elas estão envolvidas. A importância do papel das instituições é muito clara aqui, pois estas funcionam como mediadoras da interação social, uma vez que propagam valores de integração entre homens e mulheres. Escolas, empresas, clubes, igrejas, famílias ainda funcionam como referência para as relações sociais, apesar de todas as crises que vêm enfrentando. Compreender seu papel e influência numa comunidade faz parte do processo de avaliação do capital social. Países arrasados por guerras civis ou invasões (Rwanda e Iraque, por exemplo)1 percebem uma degeneração acentuada de seu tecido social, causada justamente pela ausência do papel ativo das instituições. Reconstruí-las é o meio mais seguro para se restaurar parte do capital social perdido (que é, basicamente, a confiança perdida).
.
.
Na corrente da mudança de perspectiva do conceito de "comunidade" para "redes sociais", vários autores das ciências sociais passaram a investigar, desde os anos de 1990, o conceito empírico de capital social (Burt, 2005; Lin, 2005; Narayan, 1999; Portes, 1998; Grootaert, 1997; Fukuyama, 1996; Putnam, 1993; Coleman, 1990). Essa noção poderia ser entendida como: a capacidade de interação dos indivíduos, seu potencial para interagir com os que estão a sua volta, com seus parentes, amigos, colegas de trabalho, mas também com os que estão distantes e que podem ser acessados remotamente. Capital social significaria aqui a capacidade de os indivíduos produzirem suas próprias redes, suas comunidades pessoais.
.
Cabe lembrar que James Coleman e Robert Putnam, que estão entre os primeiros a analisar a noção de capital social, procuraram defini-lo como a coerência cultural e social interna de uma sociedade, as normas e valores que governam as interações entre as pessoas e as instituições com as quais elas estão envolvidas. A importância do papel das instituições é muito clara aqui, pois estas funcionam como mediadoras da interação social, uma vez que propagam valores de integração entre homens e mulheres. Escolas, empresas, clubes, igrejas, famílias ainda funcionam como referência para as relações sociais, apesar de todas as crises que vêm enfrentando. Compreender seu papel e influência numa comunidade faz parte do processo de avaliação do capital social. Países arrasados por guerras civis ou invasões (Rwanda e Iraque, por exemplo)1 percebem uma degeneração acentuada de seu tecido social, causada justamente pela ausência do papel ativo das instituições. Reconstruí-las é o meio mais seguro para se restaurar parte do capital social perdido (que é, basicamente, a confiança perdida).
.
Contudo, as instituições, como apontamos, exercem um papel regulador e mediador de processos mais profundos. O que nos interessa, no caso de uma análise do capital social, são as variáveis microssociológicas, como a sociabilidade, cooperação, reciprocidade, pró-atividade, confiança, o respeito, as simpatias. Daí o fato de muitos estudos sobre capital social apontarem para a necessidade do levantamento de uma série de informações sobre o cotidiano das pessoas como, por exemplo, saber se elas conversam com seus vizinhos, recebem telefonemas, mas também se freqüentam clubes, igrejas, escolas, hospitais etc. Traduzindo de outra forma, é preciso levantar a implicação dos indivíduos em associações locais e redes (capital social estrutural), avaliar a confiança e aderência às normas (capital social cognitivo) e, igualmente, analisar a ocorrência de ações coletivas (coesão social). Estes seriam alguns indicadores básicos do capital social de uma comunidade.
.
Mas por que seria isso considerado precisamente como "capital"? Ora, as relações sociais passam a ser percebidas como um "capital" justamente quando o processo de crescimento econômico passa a ser determinado não apenas pelo capital natural (recursos naturais), produzido (infraestrutura e bens de consumo) e pelo financeiro. Além desses, seria ainda preciso determinar o modo como os atores econômicos interagem e se organizam para gerar crescimento e desenvolvimento. A compreensão dessas interações passa a ser considerada como riqueza a ser explorada, capitalizada.
.
Como assinalam Grootaert & Woolcock: um dos conceitos de capital social, que encontramos nos sociólogos R. Burt, N. Lin e A. Portes, refere-se aos recursos - como, por exemplo, informações, idéias, apoios - que os indivíduos são capazes de procurar em virtude de suas relações com outras pessoas. Esses recursos ('capital') são 'sociais' na medida em que são acessíveis somente dentro e por meio dessas relações, contrariamente ao capital físico (ferramentas, tecnologia) e humano (educação, habilidades), por exemplo, que são, essencialmente, propriedades dos indivíduos. A estrutura de uma determinada rede - quem se relaciona com quem, com que freqüência, e em que termos - tem, assim, um papel fundamental no fluxo de recursos através daquela rede.
.
.
Mas por que seria isso considerado precisamente como "capital"? Ora, as relações sociais passam a ser percebidas como um "capital" justamente quando o processo de crescimento econômico passa a ser determinado não apenas pelo capital natural (recursos naturais), produzido (infraestrutura e bens de consumo) e pelo financeiro. Além desses, seria ainda preciso determinar o modo como os atores econômicos interagem e se organizam para gerar crescimento e desenvolvimento. A compreensão dessas interações passa a ser considerada como riqueza a ser explorada, capitalizada.
.
Como assinalam Grootaert & Woolcock: um dos conceitos de capital social, que encontramos nos sociólogos R. Burt, N. Lin e A. Portes, refere-se aos recursos - como, por exemplo, informações, idéias, apoios - que os indivíduos são capazes de procurar em virtude de suas relações com outras pessoas. Esses recursos ('capital') são 'sociais' na medida em que são acessíveis somente dentro e por meio dessas relações, contrariamente ao capital físico (ferramentas, tecnologia) e humano (educação, habilidades), por exemplo, que são, essencialmente, propriedades dos indivíduos. A estrutura de uma determinada rede - quem se relaciona com quem, com que freqüência, e em que termos - tem, assim, um papel fundamental no fluxo de recursos através daquela rede.
.
Há, contudo, uma forte tendência de a economia neoclássica rejeitar as análises que procuram introduzir variáveis de ordem social nas teorias econômicas contemporâneas. Francis Fukuyama (1996) critica, em seu famoso livro "Confiança", a perspectiva dominante da economia neoclássica e suas conseqüências para uma autêntica reflexão sobre capital social. Ele discorda radicalmente dos pressupostos que alimentam essa teoria, fundamentalmente baseada numa visão de natureza humana egoísta:
.
Todo o imponente edifício da teoria econômica neoclássica contemporânea repousa num modelo relativamente simples da natureza humana: os seres humanos são "indivíduos maximizadores da utilidade racional". Isto é, os seres humanos procuram adquirir o maior número possível de coisas que julgam úteis para si. Fazem isso de maneira racional, e fazem esses cálculos como indivíduos que buscam maximizar o benefício para si próprios sem se preocupar com o benefício de quaisquer grupos de que façam parte. Em suma, os economistas neoclássicos postulam que os seres humanos são indivíduos essencialmente racionais, mas egoístas que procuram maximizar seu bem-estar material.
.
Sua crítica é de que tal perspectiva é insuficiente para explicar a vida política, com todos os seus desdobramentos emocionais, como não é suficiente para explicar muitos aspectos da vida econômica: "Nem toda ação econômica deriva do que é tradicionalmente conhecido como motivos econômicos" (Fukuyama, 1996, p.33). A tese de que os indivíduos exercem suas escolhas com base na maximização da utilidade, agindo assim de forma racional, não parece resistir a uma análise que leve em conta a vida em redes e associações que caracteriza a grande maioria dos homens. Esta é também a perspectiva de Mark Granovetter (2000), que vê nessa tese a enorme dificuldade dos economistas para incluírem em sua visão as inúmeras variáveis do campo social.
.
(*) Professor do Programa de Pós-Graduação em Comunicação e Semiótica da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP).
.
FONTE :http://www.scielo.br
.
.
Todo o imponente edifício da teoria econômica neoclássica contemporânea repousa num modelo relativamente simples da natureza humana: os seres humanos são "indivíduos maximizadores da utilidade racional". Isto é, os seres humanos procuram adquirir o maior número possível de coisas que julgam úteis para si. Fazem isso de maneira racional, e fazem esses cálculos como indivíduos que buscam maximizar o benefício para si próprios sem se preocupar com o benefício de quaisquer grupos de que façam parte. Em suma, os economistas neoclássicos postulam que os seres humanos são indivíduos essencialmente racionais, mas egoístas que procuram maximizar seu bem-estar material.
.
Sua crítica é de que tal perspectiva é insuficiente para explicar a vida política, com todos os seus desdobramentos emocionais, como não é suficiente para explicar muitos aspectos da vida econômica: "Nem toda ação econômica deriva do que é tradicionalmente conhecido como motivos econômicos" (Fukuyama, 1996, p.33). A tese de que os indivíduos exercem suas escolhas com base na maximização da utilidade, agindo assim de forma racional, não parece resistir a uma análise que leve em conta a vida em redes e associações que caracteriza a grande maioria dos homens. Esta é também a perspectiva de Mark Granovetter (2000), que vê nessa tese a enorme dificuldade dos economistas para incluírem em sua visão as inúmeras variáveis do campo social.
.
(*) Professor do Programa de Pós-Graduação em Comunicação e Semiótica da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP).
.
FONTE :http://www.scielo.br
.
Nenhum comentário:
Postar um comentário