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quarta-feira, 9 de março de 2011

História do cinema

Felipe Rezende Crispi
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Para compreender melhor o cinema deve-se ter uma noção da história dele, de seu surgimento, propósitos iniciais, desenvolvimentos técnicos e interação com a sociedade. Bernadet (2000) apresenta uma contextualização social, política e econômica e não só dos Estados Unidos, de várias outras nações também. O cinema não é apenas o que vemos sentados na sala de exibição, ele é todo o processo de criação, montagem, produção, exibição e enfim, tudo o que rodeia e faz parte do cinema.
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A primeira apresentação pública do cinema foi em 1895, produzido e exibido por Lumiére. Para ele, o cinema era uma ferramenta da ciência, uma forma de captar e registrar a realidade e não uma forma de arte ou entretenimento. Mesmo que tenha surgido com esse propósito, pouco tempo se passou até que o cinema se tornasse uma atração. Mas o que é um filme? Uma apresentação da realidade? Uma mera ilusão? [Uma representação audiovisual?]

Para Bernadet (2000) não é a realidade, pois, por mais que se deseje captar a realidade como ela é, o processo de filmagem passa por edição e seleção, o que já desfaz a realidade. O que acontece é a ilusão da realidade, que é cimentada por um pacto silencioso entre o filme e o público, que, mesmo sabendo que tudo o que se passa é uma construção, se faz crente de que é real. Desde os filmes mudos e em preto-e-branco até os do nosso tempo.
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De acordo com Bernadet (2000), o cinema foi uma criação da classe burguesa que, como no passado muitas outras classes e posições sociais afirmaram um ofício ou arte propriamente sua. O cinema é uma construção da burguesia com suas próprias ideologias e características. Claro que não é um processo consciente de dominação ou divulgação de valores, mas apenas o natural ato de criação de sua imagem e semelhança. A técnica é uma característica da burguesia, por ela desenvolvida da maneira mais próxima da qual conhecemos hoje. É baseado na técnica que o cinema surge e se fixa, a partir da maior característica da técnica industrial: sua reprodutibilidade. Diferentemente das artes antes desenvolvidas, essas eram únicas, seja uma apresentação de teatro, dança, música, entre outros. Mas o cinema poderia ser reproduzido igualmente e comercializado.
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Ao surgir, o cinema era destinado ao uso científico. Não era uma arte em si. Ao se desenvolver como arte, ele não simplesmente foi feito como o conhecemos. Ele não tinha uma linguagem própria. Esta se desenvolveu paralelamente ao desenvolvimento da técnica. No início os filmes eram curtos e tinham a intenção de registro, documentário. Aquele que captaria as imagens fixava a câmera, em um ponto e registrava lugares e eventos importantes, como cenas de uma cidade, ou de um casamento, como o exemplo dado por Bernadet (2000), A Coroação do Czar Nicolau II. Bernadet (2000) conclui que a construção da linguagem cinematográfica deve muito, realmente, aos cineastas norte-americanos. O cinema tomou a função popular de contar histórias que no século anterior era dos folhetins, e a partir daí, fundamentou sua linguagem. Ele poderia ter adquirido outras formas, como científica, mas a principal e mais forte vertente foi a ficcional.
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A linguagem cinematográfica se transformou com o desenvolvimento das formas de se estruturar as gravações, editar e as formas de contar histórias. No início, a forma mais simples era a de uma seqüência firme e fixa, com uma visão sempre igual, pois a câmera ainda não era bastante explorada. Com o tempo começou-se a editar as imagens em várias formas diferentes, a câmera passou a ser usada para variadas formas de gravação com a exploração de diversos planos. E diversas formas de narrar uma história foram sendo criadas, como o uso de flash-backs, apresentação de pontos de vistas diferentes da mesma cena, apresentação de pensamentos, entre inúmeros outros. Então foi surgindo uma forma própria ao cinema. Ele é rápido, com músicas envolventes, sons claros dando aspectos realistas confirmando as imagens. O processo de produção é todo fragmentado e realizado por entidades diferentes que funcionam como funcionários de uma firma. Toda a montagem é feita para ser transparente, de forma que não a percebemos e a tratamos como real.
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Morin (2000) afirma que a linguagem cinematográfica aproxima, no ideário das pessoas, o mundo da ficção do mundo real. Tamanha é a semelhança entre mundo real e fictício, entre valores das histórias narradas e da sociedade, dos personagens do filme com as pessoas do cotidiano e noticiários, ao ponto de o mundo fictício proporcionar emoções e necessidades que passam para a vida real. Necessidades e emoções que em parte o filme supre e em parte ele exige do mundo real em inspiração. [Uma relação complementar permanente.]
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Referências:

BERNADET, Jean Claude. O que é cinema. São Paulo: Brasiliense, 2000.
MORIN, Edgar. Cultura de massa no século XX volume 1: Neurose.
Rio de Janeiro: Forense Universitária, 2000.

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FONTE: Cinema Alternativo em Belo Horizonte: um conceito e uma cidade. Centro Universitário de Belo Horizonte (UNI-BH). Belo Horizonte, 2007.
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