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domingo, 27 de dezembro de 2009

Inteligência coletiva e leitor imersivo
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Ana Cristina Calábria
Luis Gustavo do Prado Brunelli
William Penna Crispim
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A inteligência coletiva, expressão pública, em uma visão complexa dos capitais social, cultural e intelectual tem como objetivo opor-se à separação das atividades e a opacidade da organização social. O ciberespaço, instrumento de comunicação interativo e comunitário, também se faz instrumento para a inteligência coletiva levantando questionamentos sobre os problemas coletivos, a cobrança política, cultural e social.
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Não se trata aqui de uma utopia, mas de uma constatação do potencial do ciberespaço e de forçar os poderes públicos a instaurarem práticas neste novo espaço de fluxo. No entanto, tudo não passa ainda de mera potência, já que ainda faltam exemplos concretos que demonstrem a viabilidade desses projetos. As cibercidades devem aproveitar este potencial para criar formas de relação direta entre um espaço e outro (Lemos, 1999:20).
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O jornalismo pode utilizar o “ciber” para acelerar cada vez mais o ritmo das alterações tecno-sociais, colaborando para a inclusão e participação da sociedade na cibercultura. Os coletivos cosmopolitas compostos de indivíduos, instituições e técnicas não são somente meios ou ambientes para o pensamento, mas sim seus verdadeiros sujeitos (Lévy, 2000:19).
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Porém, o grande número de indivíduos sem acesso ao computador ou a rede, pode constituir um veneno. Devido ao seu aspecto participativo, socializante e emancipador, a tendência é a de que aqueles que não estiverem inseridos serem excluídos radicalmente, porque cada vez mais há a necessidade de ser incluído no grupo devido à necessidade de compartilhar emoções, de se estar junto, o que se insere no contexto da transformação ilimitada da interconexão, do meio de comunicação.
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Durante muito tempo polarizada pela “máquina”, anteriormente fragmentada pelos programas, a informática contemporânea – programas e hardware – está desconstruindo o computador em benefício de um espaço de comunicação navegável e transparente, centrado na informação (Lévy, 1999:43). O potencial de elevar o conhecimento coletivo da sociedade através do jornalismo ainda está adormecido Ao levantar este tipo de abordagem de produção de conhecimento, devemos levar em consideração o ciberleitor e seu relacionamento com o ambiente virtual.
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Lucia Santaella (2004) constrói um perfil de um leitor da era virtual. Este receptor ou usuário coloca em ação habilidades de leitura muito distintas daquelas empregadas em outras mídias como o livro. Conectado na tela, por meio de um mouse, os nexos eletrônicos dessas infovias, o leitor vai unindo, sem uma seqüência, fragmentos de informação de naturezas diversas, criando e experimentando na sua interação com o potencial dialógico da hipermídia, um tipo de comunicação multilinear e labiríntica.
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O leitor é independente para estabelecer sozinho a ordem textual, ou mesmo se perder na desorganização dos fragmentos. O ciberleitor é um organizador de conteúdo da hipermídia no ciberespaço. Ele não é mais um leitor contemplativo, que rigidamente segue as seqüências de um texto, virando páginas ou pesquisando bibliotecas, mas um leitor em estado de prontidão, que ajuda a construir o texto ao interagir com os hiperlinks.
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Essas manipulações se processam por meio de uma tela interativa ou interface que é lugar e meio para o diálogo. Por intermédio de instrumentos materiais (tela, mouse, teclado) e imateriais (linguagem de comando), o receptor transforma-se em usuário e organiza sua navegação como quiser em um campo de possibilidades cujas proporções são suficientemente grandes para dar a impressão de infinidade. Os programas interativos ainda oferecem ao navegador a possibilidade de mudar de identidade e de papel numa multiplicidade de pontos de vista (Santaella, 2004:163).
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A mensagem só toma todo o seu significado sob a intervenção do usuário que se torna, de certa forma, o criador podendo recompor a mensagem e reorganizar o conteúdo. Assim, o que deve permanecer, em meio a todas as mudanças que virão, é aquilo que chamo de leitor imersivo. Mesmo que as interfaces mudem, o leitor imersivo continuará existindo, pois navegar significa movimentar-se física e mentalmente em uma miríade de signos, em ambientes informacionais e simulados. Portanto, as mudanças cognitivas emergentes estão anunciando um novo tipo de sensibilidade perceptiva sinestésica e uma dinâmica mental distribuída que essas mudanças já colocaram em curso e que deverão sedimentar-se cada vez mais no futuro.
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