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quinta-feira, 19 de novembro de 2009

Sexualidade e adolescência (parte 2)
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Ana Sudária de Lemos (*)
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Na sociedade brasileira moderna, os diversos estratos sociais, culturais e religiosos, com suas normas, valores e crenças cobrem diferencialmente a visão que se tem da sexualidade. Dentro desta policromia trafega o adolescente buscando referenciais para si mesmo. O que ele encontra? Por um lado o modelo machista de expressão da sexualidade como poder, como competição, delimitando e estereotipando papéis sexuais para os homens e mulheres, propondo uma educação liberal para os meninos e repressora para as meninas que faz da sexualidade um instrumento de submissão, dificultando as relações interpessoais e impedindo a experiência relacional liberadora de energias criativas. De outro lado, a sexualidade vista através da educação coercitiva e preconceituosa, por ação ou omissão, mostrada como algo feio, errado e proibido e que só tem como conseqüência as doenças sexualmente transmissíveis e as gravidezes indesejadas.
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O prazer sexual é relegado a segundo plano, é desmerecido. não sendo visto como parte da vida afetiva do ser humano. A sexualidade passa a ser vivenciada racional e objetalmente, afastada do seu significado mais humano que é o prazer da comunicação afetiva, de reciprocidade, de interação e como determinante de uma relação integradora e prazerosa. No entanto, por força do relógio biológico, os adolescentes assumem a sua sexualidade. Começam a conhecer e experimentar o corpo através de atividades auto-eróticas. Com as amigas íntimas e os amigos inseparáveis preparam-se para se aproximarem do sexo oposto. Nesta etapa, é comum acontecerem aproximações mais intimas entre adolescentes do mesmo sexo, o que não determina a definição do homossexualismo, e sim a prática de experiências exploratórias na busca de sexualidade genital adulta.
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As primeiras paixões eclodem, o relacionamento com outros adolescentes acontecem de diferentes maneiras e graus, de acordo com os comportamentos prevalentes e mais aceitos no grupo e na sociedade a que pertence o adolescente. Com olhares, com tapinhas e risinhos, através das declarações de amor nas agendas, na troca de pequenos presentes, bilhetinhos e recados, nos encontros nos pátios das escolas, com o gostar mais da sensação de estar amando, do que mesmo amar o outro, com os amassos, no ficar, com as relações sexuais com e sem penetração, eles e elas vão construindo a rede de experimentações da sexualidade genital, de trocas afetivas, buscando o amor à base do vínculo afetivo entre dois seres, iniciando um novo pensar sobre a sexualidade, um pensar mais aberto, mais verdadeiro, mais humano. Mas estes jovens começam a se defrontar, de maneira diferenciada, conforme a classe social a que pertencem, também com questões ambientais, econômicas e sociais muito importantes porque vão influenciar na sua vida, na sua saúde e no seu comportamento sexual.
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Os fatores acima se mesclam a outros como a influência dos meios de comunicação, cada vez mais explícita no que se refere às manifestações da sexualidade, à diminuição no controle familiar e às questões de foro íntimo que favorecem o início mais cedo e o aumento das relações sexuais na adolescência, muitas delas não protegidas, o que é um fator de risco a mais nesses tempos de AIDS. Necessário, portanto, que se dê atenção diferenciada aos adolescentes para que vivam de maneira saudável e protegida a sua sexualidade, cuidando-se e cuidando do outro, a fim de evitar situações difíceis e de ameaça à sua saúde sexual, definida pela Organização Mundial da Saúde (OMS) como: “a integração positivamente enriquecedora e que fortalece a personalidade, a comunicação e o amor”.
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Assim conceituada, a saúde sexual abrange todos os aspectos importantes da vivência plena e do encontro entre duas pessoas, norteando o enfoque educativo, principalmente preventivo, que se vai estabelecer no trabalho de promoção da saúde, dentro desta área, com adolescentes. Evidencia-se o indivíduo, - ser sexual -, com todas as suas necessidades, potencialidades e especificidades da faixa evolutiva da adolescência, como centro do processo. A partir dele, com ele e para ele construir-se-ão as redes de educação preventiva, considerando-se o desenvolvimento de habilidades e práticas pessoais para viverem em sociedade, superarem problemas, e o reforço ou a mudança para atitudes positivas frente à saúde, vista integralmente, como indispensáveis à promoção de uma qualidade de vida saudável e prazerosa.
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Na constituição dessas redes de educação preventiva deve-se considerar: 1) O adolescente como parceiro social no processo de aprendizagem, cujo potencial de recursos e conhecimentos prévios são valorizados, utilizados e potencializados, constituindo o núcleo inicial e de troca na aprendizagem; 2) O educador como facilitador do processo, atuando através de uma postura dialógica, participativa, de estimulação à reflexão crítica da realidade, de respeito aos adolescentes e às suas especificidades e conhecedor da indissolubilidade entre cognições e afetividade. 3) Um conteúdo que não use subterfúgios nas análises das relações sociais e das questões de gênero, dos mitos, preconceitos e tabus que envolvem os temas abordados. Um conteúdo que retrate a vivência do dia a dia, que esteja perto da realidade do educando e satisfaça seus interesses, que reflita seus sentimentos e suas necessidades.
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Um conteúdo que repense a significação e a experiência erótica investida em determinadas práticas sexuais dentro de diferentes culturas e contextos sociais, não só como barreiras para o processo decisório racional, mas como matéria prima para fundamentar estratégias facilitadoras de mudanças de atitudes não saudáveis. Enfim, um conteúdo que retrate a vida e que traga no seu bojo a abertura para outros olhares em direção a mudanças sociais e de relação de poder entre as pessoas, indicando que a plenitude do prazer só pode ser alcançada quando nenhuma outra dimensão da personalidade do ser humano - homem ou mulher - for impedida de se desenvolver.
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(*) Psicóloga, especialista em saúde do adolescente e do jovem.
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Um comentário:

Daniel Paes Cavalcante disse...

Sexualida pode ser considerado parte da funcionalidade em qualquer espécie. Na humana, pode até ser terapêutica. Praticada, que padrão, ou outra forma, pode causar estragos à "máquina", ou seja - não seguindo o manual, não pode ser considerado uso e sim abuso, dpor sua configuração natural. Daniel Paes Cavalcante.