Loading

terça-feira, 23 de dezembro de 2008

Jornalismo: profissão sem fronteiras
.
Rafael Alves da Silva
.
Os números podem parecer inexpressivos: 12 jornalistas assassinados em situações de conflitos armados na América, do início de 2008 até 19 de setembro, segundo o Instituto Internacional Safety de Notícias. Mas o dado ganha grande expressão levando-se em consideração que são poucos os profissionais de comunicação que se arriscam a enfrentar tiroteios policiais ou ataques criminosos em favelas e regiões de motins. Não existem números exatos de jornalistas brasileiros que sofreram retaliações ou ameaças por terem reportado um fato local. Entretanto, são freqüentes as notícias de casos de ataques a repórteres no Brasil.
.
Em 2005, ao cobrir uma matéria para a TV Bandeirantes, no Morro Dona Marta, no Rio de Janeiro (RJ), a jornalista Nadja Haddad foi atingida por uma bala perdida no momento em que colocava seu colete de proteção. Na época, a repórter, que teve seu pulmão perfurado, correu risco de morte. "Eu estava habituada a cobrir tiroteios e acompanhava as operações do Batalhão de Operações Especiais (Bope) no Rio. Não sentia medo, mas ficava apreensiva, pois sabia dos riscos", conta.
.
Segundo ela, na ocasião do acidente, a emissora não oferecia preparo para os profissionais que tinham que enfrentar tiroteios ou situações de risco. "O que recebemos são orientações que se baseiam na linha editorial da emissora, como cuidados básicos e prioridades. Contudo, sempre saíamos com coletes blindados", lembra Nadja, que hoje apresenta o jornal Primeira Hora. Após ser atingida, a emissora prestou todo o auxílio necessário.
.
Já o repórter do caderno Cidades de O Estado de S.Paulo, Bruno Paes Manso, apesar de não ter sido alvo de algum ataque, cobre constantemente situações de conflitos civis. Ele fala à reportagem que um dia depois do massacre no Morro do Alemão, quando 19 pessoas morreram, foi até o local conversar com os moradores. "É preciso ter uma certa bagagem e jogo de cintura para saber abordar os entrevistados sobre assuntos delicados como esses", conta Manso, que publicou o livro O Homem X, da editora Record, para o qual entrevistou vários assassinos de São Paulo sobre os motivos que os levaram a matar.
.
Incentivar os funcionários a participarem de palestras, com orientações sobre os cuidados que devem tomar nas reportagens de campo, tem sido uma grande preocupação das empresas jornalísticas. "Os veículos de comunicação têm demonstrado interesse crescente em proteger seus jornalistas de situações de risco na cobertura de conflitos armados, sejam internacionais, sejam nas grandes metrópoles. Esse movimento se intensificou a partir do assassinato de Tim Lopes, da Rede Globo, em 2002, morto enquanto fazia uma reportagem no Rio", diz José Roberto de Toledo, coordenador de cursos e projetos da Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (Abraji).
.
Toledo cita o uso de colete à prova de bala e cursos de treinamento para jornalistas, que vão cobrir guerra ou ações policiais de alto risco, como algumas das atitudes práticas adotadas pelos veículos de imprensa com seus profissionais. Mas ressalta que embora isso signifique avanço, ainda não é o suficiente. "Normas mais claras de limites ao risco devem ser adotadas em todas as redações, para evitar que se repitam situações como a que envolveu uma equipe do jornal O Dia, no Rio - em maio deste ano, três funcionários de O Dia, que faziam uma reportagem, foram seqüestrados por um grupo de milícia", acredita.
.
Questionado se o jornal onde trabalha oferece preparação para coberturas que envolvem tiroteios, Bruno comenta que existem as normas éticas, como não negociar com traficantes para entrar no local. "Espera-se também bom senso do repórter para avaliar os riscos da cobertura". Ele se lembra de um fato que vale como dica aos interessados em cobrir essa área: "Trombei com um traficante armado em uma quebrada. Mas não fiquei com medo porque estava acompanhado de um morador do Complexo - do Morro do Alemão - que o traficante conhecia. Esses tipos de cuidados - entrar com alguém da comunidade que lhe garanta respaldo e que conheça os moradores e traficantes - são fundamentais."

Nenhum comentário: