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terça-feira, 25 de novembro de 2008

Obama, Zumbi e a Consciência Negra
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José de Souza Castro
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Um estudo baseado na Pesquisa de Emprego e Desemprego da Fundação Seade e do Dieese, divulgado dois dias antes do Dia da Consciência Negra (20 de novembro), mostra que a situação do negro na porção mais rica do território brasileiro – a Região Metropolitana de São Paulo – melhorou, se comparada com 1998 e com a situação dos não-negros, mas a situação dos trabalhadores em geral piorou: o rendimento médio dos negros diminuiu 22,2% no período, para R$ 4,36 por hora trabalhada, e o dos não-negros caiu 27,4%, para R$ 8,98. Com isso, reduziu ligeiramente a desigualdade entre os dois grupos. Porém, o negro brasileiro está ainda longe de poder aspirar à presidência da República, como Barack Obama, nos Estados Unidos, pois quanto mais estuda, mais ele se distancia dos brancos com o mesmo grau de escolaridade no mercado de trabalho.
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Em 1926, no livro O Choque das Raças – título mudado depois para O Presidente Negro – Monteiro Lobato previu que um negro chegaria à presidência dos Estados Unidos em 2228. Barack Obama veio para confirmar sua previsão, com espantosos 220 anos de antecedência. Lobato não ousou prever quando isso ocorreria no Brasil, país considerado bem menos racista.
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O estudo revelou ainda que as mulheres, negras ou não, obtêm rendimentos menores que os homens de seu próprio segmento racial. Mas quando se comparam os rendimentos de mulheres não-negras com os de homens negros, os delas são menores em praticamente todas as faixas de escolaridade. No entanto, os rendimentos vão se igualando na medida em que se amplia o nível de escolaridade, porque despencam mais rapidamente os rendimentos dos negros.
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Ocorre que o negro com ensino superior completo recebe 29% menos do que ganha um trabalhador não-negro com a mesma escolaridade no mercado de trabalho da região pesquisada. Essa diferença é menor (16%) entre os trabalhadores com ensino fundamental incompleto e quase desaparece entre os empregados domésticos, quando os negros recebem em média R$ 3,01 por hora trabalhada e os não-negros R$ 3,23.
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No comércio, observa-se que os negros recebem 64,9% do rendimento dos não-negros. A desigualdade salarial é pior no setor de serviços, na indústria e na construção civil. Em 2007, os negros recebiam em média pouco mais da metade dos não-negros, nesses setores. Nos grupos ocupacionais de maior rendimento (gerência, direção e planejamento), os negros obtinham 57,3% da remuneração dos não-negros no mesmo grupo. Para quase se igualar com os trabalhadores brancos e de outras raças, os negros precisam exercer tarefas que exigem menor escolaridade, como os serviços gerais não qualificados. Ali, os negros recebem apenas 4,3% menos.
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O fato é que o movimento dos negros pela igualdade social, inspirado na luta de Zumbi dos Palmares (1655-1695) contra a escravidão, tem tido algumas vitórias, mas a guerra está ainda longe de acabar. Pelo seu exemplo, Barack Obama talvez possa representar um reforço importante nessa luta, nos próximos quatro anos. Na minha opinião, o maior exemplo de Obama e de Joaquim Barbosa é a importância que eles deram a sua própria educação.
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Quando comemoram, com razão, mais um Dia da Consciência Negra, os descendentes dos escravos não podem perder seu sonho de liberdade, apenas porque o mercado de trabalho na Região Metropolitana de São Paulo não dá aos negros a mesma importância que confere aos descendentes de europeus e asiáticos que completaram o curso superior. Uma coisa é certa: as empresas brasileiras também vão acabar aprendendo, como já ocorre no mercado de trabalho dos Estados Unidos.
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