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quinta-feira, 19 de maio de 2011

Liberdade de imprensa x liberdade de empresa

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Tamyris Torres
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Não é de hoje que ouvimos falar sobre a grande imprensa administrando o que é notícia ou não e o jornalismo submetendo-se aos caprichos dos interesses de empresas e do governo. Ouvimos dizer sobre os “fatos comprados”, a divulgação de notícias criadas com objetivo de favorecer os interesses de quem pode prejudicar os grandes veículos ou das informações estrategicamente noticiadas com o propósito de favorecer os interesses da grande imprensa. Teria o jornalismo deixado seu caráter social, que, à serviço da comunidade, busca os valores éticos de informar e contribuir com o conteúdo importante à cidadania?
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Com a criação das novas tecnologias da informação e mesmo antes com a manipulação da sociedade de massa em grandes veículos, o jornalismo passou a ser relações públicas, onde cuidar da imagem do cliente seria mais importante que cumprir a sua tarefa ideológica de valor social. Acredito que alguns fatores contribuíram para esta deturpação e dois deles chamados entretenimento e interatividade acabaram por se misturar com jornalismo, o tornando como coadjuvante, fazendo com que a profissão fosse levada a um nível de consumo secundário, sem muita importância.
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Digo isso pois o jornalismo se tornou entretenimento, as pessoas não lêem mais as notícias acreditando que todas as palavras ali citadas estão isentas de valor pessoal e de interesses não muito bem identificados, mas ainda sim um interesse por trás daquela notícia. Seria mais um passa-tempo do que fonte de informação fidedigna compromissada com a realidade dos fatos. Além da interatividade, que com a sua fugacidade de novas notícias, transforma em frações de segundos a outra em obsoleta. Se antes o jornal de ontem era para embrulhar peixe, hoje a notícia de cinco minutos só é achada nos mecanismos de busca orgânica.
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A velocidade da informação contribui para o esquecimento rápido de uma determinada notícia, contribuindo para a amnésia dos leitores, que muitas vezes são manipulados a esquecer rápido aquilo que leram. Hoje, eles têm tantas informações a sua frente que nem sabem administrar, dando importância muitas vezes aos seus interesses pessoais, sem pensar muito na coletividade e nos fatos importantes para a sociedade. Assim vai individualizando-se cada vez mais.
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A produção de notícias em larga escala tem seus interesses econômicos intrínsecos. E os jornalistas que compõem as grandes redações acabam tendo de lidar com o que a empresa onde ele trabalha deseja veicular. O jornalista não tem liberdade de imprensa ao trabalhar em empresas que visam criar eventos com o objetivo de virar notícia. A notícia existe por si, porém criar uma que contribua para os interesses da corporação é mais rentável e sem muitas preocupações, pois aquilo que te denuncia nunca será impresso em um veículo seu, nem mesmo quando o jornalista apura, descobre e quer publicar. E caso ele resolva cumprir seu dever ético, cabeças rolam, pois a liberdade da empresa é mais importante que a liberdade da imprensa. E o que é o jornalista sem a imprensa?
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As grandes corporações detêm o poder da imprensa. O jornalismo está nas mãos das empresas de comunicação descompromissadas com o conteúdo jornalístico idôneo. O que é ainda mais preocupante do que isso é que nada o que eu escrevi aqui é novidade para ninguém, a sociedade está cansada de ler denúncias como estas, contudo, continuam comprando e consumindo esse tipo de informação. Além disto, os jornalistas permanecem trabalhando e contribuindo para a manutenção desse tipo imprensa. A assessoria de imprensa deixou de ser uma ferramenta de comunicação para se tornar um veículo mister e forte na produção de conteúdo de massa, sem deixar espaço para o fazer jornalístico de conteúdo mais elevado, socialmente responsável e adequado as características da profissão.
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FONTE: http://www.pontomarketing.com
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