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segunda-feira, 10 de maio de 2010

Sobre livros e leitores
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Archidy Picado Filho
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- O senhor sabe ler?
- Eu sou formado, seu Batista! Sou doutor!
- Perguntei se o senhor sabe ler.
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Minha mãe dizia que este diálogo aconteceu entre meu avô materno – que morreu antes de eu nascer – e um conhecido da família. Durante muito tempo fiquei a pensar na dúvida de meu avô. Como alguém que se dizia formado não saberia ler? Mais tarde, comparando a leitura em voz alta de meu pai – que lia fluentemente em quatro idiomas – com as de outras pessoas, inclusive a minha em meus exercícios primeiros, percebi o que meu avô Batista quisera provocar naquele “doutor”.
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Para ser honesto – porque a honestidade incondicional deve fundamentar o ato do escritor (e, para tanto, também deve se utilizar de sua imaginação à construção de suas metáforas, sempre a serviço de expressar a verdade em seus escritos) – penso que nas pessoas há certa vocação para leitor, tanto quanto há para escritor como para qualquer outra coisa. Porque poucos são leitores; menos ainda leitores de livros; menos ainda bons leitores; uma quantidade diminuta torna-se escritores, sendo um subgrupo dessa tendência os verdadeiramente geniais e, muito além desses, os considerados “divinos” entre aqueles reconhecidos como verdadeiros “instrumentos do Verbo”.
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Para aqueles que desde a infância se descobriram amantes de livros, quero dizer que começaram bem – embora a leitura os possa levar além de bosques encantados e a prazerosos e reveladores encontros, a lugares indesejáveis, cheios de demônios os quais a leitura nos revela escondidos num dos recantos de nossas almas, dando-nos a oportunidade de identificá-los e, às vezes, vencê-los.
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“Depois dos romances para jovens e aventuras históricas ou exóticas - escreveu o filósofo francês Edgar Morin em seu livro Meus demônios - vou, a partir dos treze ou quatorze anos – na adolescência, quando as leituras podem marcar profunda e intensamente o ser humano – descobrir os livros que vão ser mais importantes em minha vida. Um livro importante revela-nos uma Verdade ignorada, escondida, profunda, sem forma que trazemos em nós, e causa-nos um duplo encantamento, o da descoberta de nossa própria Verdade na descoberta de uma Verdade exterior a nós, e o da descoberta de nós mesmos em personagens diferentes de nós”.
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“Digo em autocrítica: até uma certa idade, a literatura prepara-nos para a vida. Ela canaliza o movimento entre o real e o imaginário. Aleita nossos tropismos afetivos. No final da infância, ela nos dota de uma alma... Ela propõe moldes sobre os quais se vestirão nossas tendências individuais, e este vestir, sejam roupas sob medida sejam de confecção, dará forma a nossa personalidade. Ela nos oferece antenas para entrar no mundo. Não quero dizer que ela nos adapta a este mundo: ao contrário, seus fermentos de rejeição e de inadaptação, seu caráter profundamente adolescente contradizem este mundo. Mas contradizem-no dando-nos acesso a ele."
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“Pelo romance e pelo livro cheguei ao mundo”, escreveu Morin numa demonstração de que, ao contrário do que querem outros, quando tudo nos faltar, será na companhia de um livro, nosso amigo mudo e, ao mesmo tempo, tão eloqüente, que nos descobriremos do Princípio aos fins.
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FONTE: http://recantodasletras.uol.com.br
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2 comentários:

Anônimo disse...

EU GODTEI BASTANTE DA MÁTERIA. EU GOSTO BASTANTE DE LER E AFIRMO QUE ler é muito bom e prazeroso.Desde quando entendemos que é da leitura que alcançamos novos horizontes.

Anônimo disse...

EU GODTEI BASTANTE DA MÁTERIA. EU GOSTO BASTANTE DE LER E AFIRMO QUE ler é muito bom e prazeroso.Desde quando entendemos que é da leitura que alcançamos novos horizontes.