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domingo, 5 de setembro de 2010

O jovem e a juventude em face da cultura
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Ser jovem hoje reflete experiências diferentes das vivenciadas há alguns anos. Até recentemente, existiam expectativas estáveis com relação ao trabalho e aos padrões de legitimidade cultural que emolduravam as experiências e definiam a juventude. Acreditava-se - e isto se refletiu nas inúmeras pesquisas culturais nas décadas de 1960 a 1980 - que a cultura legítima era construída pelas artes tradicionais: ópera/concerto de música clássica, balé/espetáculo de dança, teatro, cinema, museus/exposições e livraria/biblioteca.
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Aquelas análises pressupunham sociedades estratificadas que legitimavam certas práticas e obras, às quais as classes desprivilegiadas não tinhamacesso. Na verdade, a cultura dos diversos grupos e frações de classe era situada como mais ou menos próxima da cultura legítima (ou dos grupos dominantes); assim, o acesso diferencial a ela convergia para aconstituição de efeitos de desigualdades sociais globais. As hierarquias sociais e econômicas eram fortalecidas por hierarquias simbólicas ou de acesso à cultura legítima. Portanto, a situação econômica encontrava homologias estruturais em relação a distribuição de bens simbólicos.
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As condições atuais apontam direções diferenciadas para as análises nasquais, além das dificuldades decorrentes das mudanças nas condições econômicas, covive-se com reconfigurações das redes de sociabilidade.Nelas, que se tornam cada vez mais heterogêneas, os espaços públicos são minimizados ou quase desaparecem como espaço de convívio, dificultando oreconhecimento de identidades e o estabelecimento de padrões delegitimidade cultural para as diferentes experiências vivenciadas pelajuventude. A situação dos estudos culturais atuais mantém vivas, emparte, as críticas dos anos 1960-1970, mas indica que as condições estruturais das sociedades contemporâneas exercem um efeito dedesagregação sobre as hierarquias tradicionais, multiplicando culturas urbanas, alterando padrões de gosto e embaralhando os padrões delegitimação cultural.
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As transformações na esfera produtiva e no mundo do trabalho são apenasparte dos aspectos levados em conta na reflexão em torno da problemáticada transição para a vida adulta na atualidade. A emergência de novospadrões comportamentais no exercício da sexualidade, da nupcialidade ena configuração dos arranjos familiares também tem sido considerada nastentativas de compreensão e explicação das mudanças nos marcostradicionais da passagem da juventude para a condição adulta. Dessa forma, as trajetórias individuais dos jovens, suas origens sociais, o sexo e os padrões de comportamento - em particular, suas diferentes relações com a cultura e as demandas por "reconhecimento" - complexificam a ideia da juventude como "tempo suspenso" e reconhecem a heterogeneidade das culturas juvenis, além de a situarem no quadro de sua multidimensionalidade.
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A reflexão a seguir explora dois modelos explicativos: o modelo de reprodução da trajetória dos pais e o modelo de experimentação, nas suas possibilidades de justificação de objetivos para as políticas culturais voltadas à juventude. No primeiro caso, a exigência de reprodução da trajetória dos pais pressiona para que o momento do casamento, da maturidade sexual, da entrada no mercado de trabalho e da adoção da lógica da responsabilidade pessoal pelo próprio sustento sejam adiantados, isto é, para que a juventude seja "encurtada". No segundo caso, a movimentação pelos espaços de lazer, da sociabilidade sem finalidade econômica e da experimentação cultural, permite a configuração das identidades pessoais e sociais vivenciadas durante este "tempo suspenso" de ambulação pelas cidades.
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O modelo de experimentação parece mais oportuno para dar conta das atuais demandas por reconhecimento social e por espaços de sociabilidadejuvenil. Estas experiências se relacionam com instituições e circunstâncias específicas, e podem ser vividas nos espaços urbanos informais ou em campos institucionais mais formalizados. Também podemganhar uma conformação específica quando em confronto com o primeiromodelo e com suas exigências ou estruturas de reprodução. De qualquer maneira, os dois modelos analíticos são complementares.
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O experimentalismo da juventude tem três dimensões: demanda por reconhecimento, crítica à cultura consagrada e desejo de acesso à informação cultural. Tudo isso vem adicionado de um forte ecletismo ouhibridismo cultural e da crítica às formas de cultura estabelecidas oulegítimas, no campo das artes ou das formas de vida das gerações anteriores. Pode-se afirmar que este cenário implica fazer críticas às instituições culturais, em especial às escolares, que não se sensibilizam nem se amoldam às exigências da juventude.
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FONTE: Cultura Viva: avaliação do programa arte-educação e cidadania.
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