Empresas de comunicação e projetos educativos
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Michelle Prazeres (*)
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A educação - e a formação, de um modo geral - dos indivíduos deve acompanhar o espírito da época em que estão inseridos, formando sujeitos com condições de ler (criticamente) a realidade. Isso é fato. Assim como é fato que uma das marcas centrais da época em que vivemos é a centralidade da mídia nas nossas vidas. A articulação destes dois fatos de forma natural é perigosa e tem conferido, quase que naturalmente, um novo poder às empresas de comunicação: o poder de educar também nas escolas, construindo o pensamento dos novos cidadãos.
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Não satisfeitas com seus monopólios, audiências e “shares” de mercado exorbitantes, as grandes corporações de comunicação e tecnologia - como, por exemplo, o Grupo Abril, a Rede Globo, a Microsoft, os jornais Folha e Estado de São Paulo e a Telefônica - entraram nas escolas a partir de parcerias com secretarias e, muitas vezes, por intermédio de seus “braços sociais” (institutos, fundações etc). Também não satisfeitas com o fato de entrarem nas escolas como instrumentos, entraram também com seus conteúdos "educativos".
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Michelle Prazeres (*)
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A educação - e a formação, de um modo geral - dos indivíduos deve acompanhar o espírito da época em que estão inseridos, formando sujeitos com condições de ler (criticamente) a realidade. Isso é fato. Assim como é fato que uma das marcas centrais da época em que vivemos é a centralidade da mídia nas nossas vidas. A articulação destes dois fatos de forma natural é perigosa e tem conferido, quase que naturalmente, um novo poder às empresas de comunicação: o poder de educar também nas escolas, construindo o pensamento dos novos cidadãos.
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Não satisfeitas com seus monopólios, audiências e “shares” de mercado exorbitantes, as grandes corporações de comunicação e tecnologia - como, por exemplo, o Grupo Abril, a Rede Globo, a Microsoft, os jornais Folha e Estado de São Paulo e a Telefônica - entraram nas escolas a partir de parcerias com secretarias e, muitas vezes, por intermédio de seus “braços sociais” (institutos, fundações etc). Também não satisfeitas com o fato de entrarem nas escolas como instrumentos, entraram também com seus conteúdos "educativos".
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É certo que a escola precisa se modernizar e acompanhar as tendências da atualidade (ainda que sob diversos riscos). No entanto, é preciso discutir o projeto de modernização da educação, antes de entregá-lo nas mãos de empresários do ramo das mídias. Em geral, o que observamos, é um processo de entrada que desrespeita o campo educacional, não ouvindo sequer quais são as reais demandas das escolas por instrumentos ou conteúdos midiáticos e tecnológicos.
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Ou seja, os campos midiático e político se articulam e decidem a vida do campo educacional em relação à suposta modernização. Suposta porque, convenhamos, equipar escolas em projetos milionários com multinacionais, deixando penetrar na educação pública a lógica das empresas de comunicação e tecnologia e em projetos executados “de cima pra baixo” não se trata necessariamente de modernização. Pelo contrário. Elementos de modernidade convivem com elementos tradicionais da política que ainda precisam de reflexão e solução. Em boa parte das iniciativas, o dinheiro investido em mídia e tecnologia vira discurso de políticos “benfeitores” da educação moderna, salas vazias e equipamentos ociosos por falta de um processo cuidadoso de implementação. Muitas vezes, a “culpa” recai, claro, sobre os profissionais da educação, em tese, despreparados para encarar o mundo novo que, ainda segundo o mesmo discurso, é dominado pelos jovens alunos.
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Ou seja, os campos midiático e político se articulam e decidem a vida do campo educacional em relação à suposta modernização. Suposta porque, convenhamos, equipar escolas em projetos milionários com multinacionais, deixando penetrar na educação pública a lógica das empresas de comunicação e tecnologia e em projetos executados “de cima pra baixo” não se trata necessariamente de modernização. Pelo contrário. Elementos de modernidade convivem com elementos tradicionais da política que ainda precisam de reflexão e solução. Em boa parte das iniciativas, o dinheiro investido em mídia e tecnologia vira discurso de políticos “benfeitores” da educação moderna, salas vazias e equipamentos ociosos por falta de um processo cuidadoso de implementação. Muitas vezes, a “culpa” recai, claro, sobre os profissionais da educação, em tese, despreparados para encarar o mundo novo que, ainda segundo o mesmo discurso, é dominado pelos jovens alunos.
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Processo atravessado
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Esta entrada das mídias e das tecnologias nas escolas, ilustrada pelos exemplos acima citados, é feita com alguma transparência (publicação no Diário Oficial, anúncio oficial com celebração e presença do governador em alguns casos ou publicação nos sites das instituições e no site do Governo do Estado). No entanto, em grande parte delas, o processo de contratação do material, tecnologia ou ferramenta em questão 1. não passou por licitações; 2. não passou por qualquer tipo de discussão pública (inclusive via meios de comunicação da imprensa comercial, que, em tese, são os veículos de ampliação do debate político) ou com os agentes do campo educacional; 3. em geral, não propõe processos de formação dos educadores e alunos para lidarem com os novos materiais e dinâmicas, o que seria considerado um mínimo de diálogo com o ambiente educacional que vai receber novas ferramentas e dinâmicas de ensino.
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A explicação parece simples. Ora, se precisamos modernizar as escolas, levando mídias e tecnologias para as salas de aula, porque não fazê-lo com quem “mais entende do assunto”? Mas é preciso pensar que estamos diante de duas afirmações construídas social e culturalmente, com a “ajuda” preciosa de ninguém mais ninguém menos que os próprios veículos de comunicação, interessados diretos nas parcerias milionárias com as secretarias e sistemas de ensino. Basta acompanhar por alguns dias as coberturas de jornais, revistas e telejornais para se deparar com matérias que afirmam a necessidade de as escolas se modernizarem. Mas não se trata de qualquer modernização. Os discursos são carregados de corporativismo. Além da idéia de modernidade ser construída, é construída também a idéia de que ela deve chegar à escola pelas mãos de quem domina o assunto e de que este alguém são as empresas de comunicação.
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Esta entrada das mídias e das tecnologias nas escolas, ilustrada pelos exemplos acima citados, é feita com alguma transparência (publicação no Diário Oficial, anúncio oficial com celebração e presença do governador em alguns casos ou publicação nos sites das instituições e no site do Governo do Estado). No entanto, em grande parte delas, o processo de contratação do material, tecnologia ou ferramenta em questão 1. não passou por licitações; 2. não passou por qualquer tipo de discussão pública (inclusive via meios de comunicação da imprensa comercial, que, em tese, são os veículos de ampliação do debate político) ou com os agentes do campo educacional; 3. em geral, não propõe processos de formação dos educadores e alunos para lidarem com os novos materiais e dinâmicas, o que seria considerado um mínimo de diálogo com o ambiente educacional que vai receber novas ferramentas e dinâmicas de ensino.
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A explicação parece simples. Ora, se precisamos modernizar as escolas, levando mídias e tecnologias para as salas de aula, porque não fazê-lo com quem “mais entende do assunto”? Mas é preciso pensar que estamos diante de duas afirmações construídas social e culturalmente, com a “ajuda” preciosa de ninguém mais ninguém menos que os próprios veículos de comunicação, interessados diretos nas parcerias milionárias com as secretarias e sistemas de ensino. Basta acompanhar por alguns dias as coberturas de jornais, revistas e telejornais para se deparar com matérias que afirmam a necessidade de as escolas se modernizarem. Mas não se trata de qualquer modernização. Os discursos são carregados de corporativismo. Além da idéia de modernidade ser construída, é construída também a idéia de que ela deve chegar à escola pelas mãos de quem domina o assunto e de que este alguém são as empresas de comunicação.
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Hegemonia transferida para a Educação
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A verdade é que a hegemonia moral, cultural e política de um determinado grupo social (as empresas de comunicação) adentra a escola travestida de consenso. Esta entrada nos espaços educativos se dá, objetivamente, carregada pelos materiais produzidos pelas empresas privadas de comunicação e, subjetivamente, pela adesão ao discurso e aos valores destas empresas. Por exemplo, podemos afirmar que a adoção de softwares e ferramentas da multinacional Microsoft proporcionam um tipo de aprendizado diferente daquele que seria proporcionado por ferramentas de software livre ou mesmo de outra fabricante. E o que determina a opção da Secretaria de Educação por este material? Mais do que o material, o que leva a secretaria a firmar parcerias com a multinacional para que ela realize uma campanha contra a “pirataria” nas escolas? Em lugar disso, não seria a escola o lugar de reflexão sobre a propriedade privada, o conhecimento livre e as formas de patentes em softwares? Afinal, o que está em jogo? O interesse público ou meia dúzia de interesses privados?
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O fato é que são muitas as lógicas presentes nestas escolhas. Uma delas é a de não ouvir o campo educacional nas decisões político-pedagógicas colocadas para a educação paulista. Outra é a de reforçar vínculos políticos e de favorecimento com as grandes redes de comunicação e tecnologia do Brasil e do mundo. Outra é a da modernização das escolas a partir de valores construídos por estas próprias empresas na cena pública. Em, por fim, a da privatização, ainda que subjetiva, da educação. A entrada sorrateira da lógica empresarial nos espaços educativos. Mais uma vez, é preciso afirmar que não se trata de defender o atraso e a precariedade das escolas. Trata-se, sobretudo, da entrada deste mundo de mídia no espaço educativo regulada pelo Estado e discutida com a sociedade, em especial, os atores da educação.
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(*) Michelle Prazeres é jornalista, mestre em Comunicação e Semiótica (PUC-SP), doutoranda em Educação (FE-USP) e integrante do Intervozes – Coletivo Brasil de Comunicação Social.
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FONTE: http://www.direitoacomunicacao.org.br
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A verdade é que a hegemonia moral, cultural e política de um determinado grupo social (as empresas de comunicação) adentra a escola travestida de consenso. Esta entrada nos espaços educativos se dá, objetivamente, carregada pelos materiais produzidos pelas empresas privadas de comunicação e, subjetivamente, pela adesão ao discurso e aos valores destas empresas. Por exemplo, podemos afirmar que a adoção de softwares e ferramentas da multinacional Microsoft proporcionam um tipo de aprendizado diferente daquele que seria proporcionado por ferramentas de software livre ou mesmo de outra fabricante. E o que determina a opção da Secretaria de Educação por este material? Mais do que o material, o que leva a secretaria a firmar parcerias com a multinacional para que ela realize uma campanha contra a “pirataria” nas escolas? Em lugar disso, não seria a escola o lugar de reflexão sobre a propriedade privada, o conhecimento livre e as formas de patentes em softwares? Afinal, o que está em jogo? O interesse público ou meia dúzia de interesses privados?
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O fato é que são muitas as lógicas presentes nestas escolhas. Uma delas é a de não ouvir o campo educacional nas decisões político-pedagógicas colocadas para a educação paulista. Outra é a de reforçar vínculos políticos e de favorecimento com as grandes redes de comunicação e tecnologia do Brasil e do mundo. Outra é a da modernização das escolas a partir de valores construídos por estas próprias empresas na cena pública. Em, por fim, a da privatização, ainda que subjetiva, da educação. A entrada sorrateira da lógica empresarial nos espaços educativos. Mais uma vez, é preciso afirmar que não se trata de defender o atraso e a precariedade das escolas. Trata-se, sobretudo, da entrada deste mundo de mídia no espaço educativo regulada pelo Estado e discutida com a sociedade, em especial, os atores da educação.
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(*) Michelle Prazeres é jornalista, mestre em Comunicação e Semiótica (PUC-SP), doutoranda em Educação (FE-USP) e integrante do Intervozes – Coletivo Brasil de Comunicação Social.
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FONTE: http://www.direitoacomunicacao.org.br
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