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quinta-feira, 29 de abril de 2010

A propaganda com medo da lei
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Laurindo Lalo Leal Filho (*)
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Anúncio de página inteira recentemente publicado nos jornalões brasileiros, exalta os supostos benefícios da propaganda. Assinado por entidades de anunciantes e de agências de publicidade ele tenta reagir às iniciativas em favor da existência de um controle público sobre a propaganda. Trata-se de uma vitória dos movimentos sociais e das entidades empenhadas na luta por uma regulação mais rígida sobre essa atividade. Mostra, pelo menos, que elas começam a incomodar quem se julgava intocável.
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Não fossem ações como as do Instituto Alana, com o seu projeto “Criança e Consumo”, por exemplo, e os publicitários jamais deixariam de lado o atendimento de suas ricas contas para preparar e publicar um texto incrivelmente enganoso, aliás como muitas de suas peças publicitárias. Depois de exaltarem a importância da propaganda na disputa pelo mercado chegam a uma conclusão inédita: “a grande maioria das pessoas gosta de propaganda”. Não dizem de onde tiraram tal conclusão. De que pesquisa saíram os dados para sustentar afirmativa tão cabal. É só mais um slogan, tão a gosto do meio.
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Mas não ficam por aí. No final do texto está a resposta ao Instituto Alana e aos parlamentares comprometidos com uma legislação mais moderna para o setor. Diz o anúncio: “E quando alguém não gosta (da propaganda), faz o óbvio: muda de canal na hora do intervalo, troca a estação de rádio, deixa de ler o anúncio publicado no jornal”. Simples, não? Ou simplista demais? Claro que quem escreveu esse texto sabe que isso não é verdade. Eles mesmos produzem os merchandisings que campeiam à solta nas novelas, programas de auditório, transmissões esportivas e são veiculados de forma a impossibilitar a tal mudança de canal na hora do anúncio. Sabem também que ninguém vai girar o botão do rádio quando começa um comercial que o ouvinte, obviamente, nem sabe ainda do que se trata. E é difícil fechar os olhos para uma página inteira de jornal como essa publicada sob o patrocínio das entidades das agências de propaganda e dos anunciantes.
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Afinal a missão desses profissionais é fazer de tudo para que o telespectador, o ouvinte e o leitor não desgrudem da mensagem e introjetem o seu conteúdo. É um contra-senso pedir para que eles fujam de algo embalado pelos publicitários para conquistá-los. Em novela recente, em meio à fantasia, a madame entra no carro novo sob o olhar de cobiça da empregada e ressalta, entre as várias qualidades do veículo, o fato de ele ter o piso alto, ficando imune às enchentes. Focalizava-se com destaque a marca do carro e passava-se a mensagem de que, com ele, o problema social das enchentes estaria resolvido. Individualmente, para quem pudesse comprar o tal carro. Aos demais a lama ou o afogamento.
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Mas voltando ao anúncio publicado nos jornais. A frase final, referindo-se a possibilidade de mudar de canal, de emissora ou de página, é primorosa: “É impressão nossa ou isso é o direito de escolha levado a sério?”. Direito de escolha? Escolher entre o que? Entre emissoras que transmitem programas iguais, veiculam os mesmos anúncios e não dão nenhuma alternativa aos hábitos consumistas, individualistas e anti-sociais? E mais, que violam a lei sem cerimônia ao ultrapassar o limite máximo de 25% da programação permitidos para propaganda no rádio e na TV. Com a conivência silenciosa de agências e anunciantes.
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Quando dirigida às crianças, os efeitos da publicidade tornam-se ainda mais perversos. A presidente do Instituto Alana, Ana Lucia Vilela, conta que até em áreas carentes de cidades como São Paulo já é possível perceber esse fenômeno. A partir de um projeto social desenvolvido pela instituição na zona leste da cidade constatou-se que “crianças cujas famílias dependem de cestas básicas não saem de casa sem passar batom. Que acham que a maior felicidade do mundo é ter cabelos longos e loiros iguais aos da Barbie. Meninas que vestem micro-saias e ficam grávidas na adolescência. Meninos que insultam mulheres e tomam cerveja. Mães que, depois de muito choro e muita insistência dos filhos, gastam todo seu dinheiro para comprar um boneco Power Ranger. Filhos que depois de ganhar um Power Ranger, brincam dois dias, abandonam o boneco e começam a pedir a próxima novidade anunciada na televisão. Ou ainda garotos que falam que agora sim os pais podem comprar tudo o que querem porque determinado banco oferece crédito acompanhado de alguns bonequinhos de brinde. Crianças e adolescentes brasileiros repetindo diariamente o nome de inúmeras marcas, que algumas vezes estão entre as dez primeiras palavras de seu recém-formado vocabulário”.
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Diz ainda que “do Rio Grande do Sul ao Amapá, das periferias dos grandes centros urbanos ao interior da Bahia, eles querem se vestir e comer da mesma forma. Querem marcas – usar o tênis Nike, comer Fandangos e ter a mochila da Hello Kitty. Preferem não ir à praia ou ao campo porque sabem que lá não encontrarão tevê ou videogame. Trocam o suco de mexerica por Coca-Cola, e arroz, feijão e couve, por Big Mac com batata frita”. O anúncio dos publicitários e dos anunciantes publicado nos grandes jornais é uma reação à denúncias como essa, aos projetos de lei tramitando no Congresso para por limites nessa farra e ao aumento das pesquisas científicas mostrando os males da propaganda. Reação de quem se acha acuado e percebe que o tempo dos privilégios está acabando.
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(*) Sociólogo, jornalista, escritor e professor de Jornalismo.
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FONTE: Centro de Estudos Politicos Econômicos e Culturais (Cepec)
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Meu ideal seria escrever...
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Rubem Braga
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Meu ideal seria escrever uma história tão engraçada que aquela moça que está doente naquela casa cinzenta quando lesse minha história no jornal risse, risse tanto que chegasse a chorar e dissesse - "ai meu Deus, que história mais engraçada!". E então a contasse para a cozinheira e telefonasse para duas ou três amigas para contar a história; e todos a quem ela contasse rissem muito e ficassem alegremente espantados de vê-la tão alegre. Ah, que minha história fosse como um raio de sol, irresistivelmente louro, quente, vivo, em sua vida de moça reclusa, enlutada, doente. Que ela mesma ficasse admirada ouvindo o próprio riso, e depois repetisse para si própria - "mas essa história é mesmo muito engraçada!".
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Que um casal que estivesse em casa mal-humorado, o marido bastante aborrecido com a mulher, a mulher bastante irritada com o marido, que esse casal também fosse atingido pela minha história. O marido a leria e começaria a rir, o que aumentaria a irritação da mulher. Mas depois que esta, apesar de sua má vontade, tomasse conhecimento da história, ela também risse muito, e ficassem os dois rindo sem poder olhar um para o outro sem rir mais; e que um, ouvindo aquele riso do outro, se lembrasse do alegre tempo de namoro, e reencontrassem os dois a alegria perdida de estarem juntos.
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Que nas cadeias, nos hospitais, em todas as salas de espera a minha história chegasse - e tão fascinante de graça, tão irresistível, tão colorida e tão pura que todos limpassem seu coração com lágrimas de alegria; que o comissário do distrito, depois de ler minha história, mandasse soltar aqueles bêbados e também aqueles pobres mulheres colhidas na calçada e lhes dissesse - "por favor, se comportem, que diabo! Eu não gosto de prender ninguém!" . E que assim todos tratassem melhor seus empregados, seus dependentes e seus semelhantes em alegre e espontânea homenagem à minha história.
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E que ela aos poucos se espalhasse pelo mundo e fosse contada de mil maneiras, e fosse atribuída a um persa, na Nigéria, a um australiano, em Dublin, a um japonês, em Chicago - mas que em todas as línguas ela guardasse a sua frescura, a sua pureza, o seu encanto surpreendente; e que no fundo de uma aldeia da China, um chinês muito pobre, muito sábio e muito velho dissesse: "Nunca ouvi uma história assim tão engraçada e tão boa em toda a minha vida; valeu a pena ter vivido até hoje para ouvi-la; essa história não pode ter sido inventada por nenhum homem, foi com certeza algum anjo tagarela que a contou aos ouvidos de um santo que dormia, e que ele pensou que já estivesse morto; sim, deve ser uma história do céu que se filtrou por acaso até nosso conhecimento; é divina".
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E quando todos me perguntassem - "mas de onde é que você tirou essa história?" - eu responderia que ela não é minha, que eu a ouvi por acaso na rua, de um desconhecido que a contava a outro desconhecido, e que por sinal começara a contar assim: "Ontem ouvi um sujeito contar uma história...". E eu esconderia completamente a humilde verdade: que eu inventei toda a minha história em um só segundo, quando pensei na tristeza daquela moça que está doente, que sempre está doente e sempre está de luto e sozinha naquela pequena casa cinzenta de meu bairro.
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FONTE: http://chiquitabacana.zip.net
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Conferências têm alterado democracia brasileira
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A realização de conferêncais nacionais com etapas regionais tem alterado a forma da democracia em nosso país. Em recente pesquisa do Instituto Universitário de Pesquisas do Rio de Janeiro (Iuperj), constatou-se que os fóruns abertos à população para formulação de polítcas públicas tem alterado o modelo de democracia e tido efeitos reais na aprovação de leis.
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De acordo com o levantamento da Iuperj, denominado “A Democracia Brasileira entre Representação e Participação: As Conferências Nacionais e o Experimentalismo Democrático Brasileiro”, das 1.937 diretrizes das conferências analisadas, foram gerados 2.808 projetos de lei e propostas de emendas constitucionais, ainda em trâmite à época da pesquisa. Além disso, foram identificados outros 321 projetos de lei e emendas constitucionais aprovados, sendo 312 leis ordinárias ou complementares e nove emendas constitucionais, totalizando 3.129 proposições legislativas.
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A professora Thamy Pogrebinschi, da Iuperj, analisou os resultados de 80 conferências com caráter deliberativo (que gera documento com propostas de normas e leis), realizadas desde 1988. Além do Poder Legislativo, as conferências pautam os atos normativos, as portarias e as medidas administrativas do governo.
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Os resultados práticos das conferências, segundo a pesquisadora, estabelecem uma forma inédita de cooperação entre Estado e sociedade civil, e não teme que possa haver uma cooptação pelo Estado. "É uma forma da sociedade civil, por dentro do Estado, vir apresentando as suas próprias demandas. Essa cooperação de modo algum implica em cooptação. Ao contrário, fortalece a sociedade civil e a mantém autônoma."
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“Esse estudo se propõe a investigar o impacto do processo das conferências nacionais na produção legislativa. O processo foi fortemente dinamizado no governo do presidente Lula, ao ponto de que mais de 60% de todas as conferências realizadas desde 1941 aconteceram de 2003 para cá”, disse o secretário nacional de Articulação Social, Gerson Almeida. Na amostra de 80 conferências, 56 ocorreram nos últimos sete anos; e de 33 temas identificados pela pesquisa, 32 foram tratados no período.
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Como exemplos dos resultados das conferências estão o terceiro Plano Nacional de Direitos Humanos (PNDH-3), o Sistema Único de Saúde (SUS), o sistema nacional de assistência social e o Plano Nacional de Combate à Desigualdade Racial. Para a pesquisadora Pogrebinschi, o melhor exemplo é o PNDH-3 por considerar os resultados de mais de 50 conferências traz políticas públicas para mulheres, indígenas, negros, quilombolas, mas também para segurança pública, desenvolvimento agrário e cidades.
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FONTE: http://www.revistaforum.com.br
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Sob o signo da meada
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Theotonio de Paiva (*)
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A figura de Tiradentes carece de ser analisada sob um duplo aspecto simbólico. Primeiramente vale notar o seu significado de luta pertencente a uma determinada esfera política expressa sobremaneira na Conjuração Mineira. Ali reside o seu eixo central, pautado pela observância de uma compreensão de mundo, ancorada fortemente nos ideais iluministas e, consequentemente, numa decisão de se ver livre do jugo autocrático da coroa portuguesa. A partir do problema lançado pela derrama, criavam-se assim as condições de se pensar num projeto de nação.
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No entanto, aquele mesmo projeto que o alferes terminaria por simbolizar estaria carregado de algumas contradições terríveis. Uma condição primeira se evidenciaria, em parte, numa motivação ingênua, distante das condições minimamente exequíveis de um empreendimento daquela ordem. Sabemos que a pulsão estabelecida pelo sonho não irá respeitar os limites impostos pelas adversidades. De qualquer maneira, havia um fosso descomunal entre o sentido proposto por aqueles ideais, que bem poderiam ser vistos como revolucionários, e as condições políticas materiais de sua execução.
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Além do mais, a tragédia anunciada daquele sujeito que mais claramente estaria identificado à questão da libertação de um Brasil colonial, ganharia algumas condicionantes de profundas implicações. Na sua desmedida, iria “trabalhar para todos”. Mas o que lhe aconteceria pelos séculos sangraria de um sentido muito acima daquele vaticínio lançado, no qual assinalava de que “havia de armar uma meada tal, que em dez, vinte ou cem anos se não havia de desembaraçar”.
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A distância de interesses entre os demais participantes, enfeixados numa elite intelectual e econômica, e o desbaratamento de Tiradentes em uma ação compulsiva, se revelaria, na leitura dos autos da devassa, como um préstito de natureza aparentemente insondável. Ao imputar para si a responsabilidade do movimento, o alferes abrevia a farsa montada pelo poder despótico. É nela em que se irá evidenciar aquela expressão simbólica.
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Ao terem os demais a pena comutada, Joaquim José encarnaria a imagem trágica do bode expiatório naquele corredor da morte que o levaria da prisão até o cadafalso, no Largo do Rossio. As janelas das casas comungariam com a coroa portuguesa a encenação montada para servir de exemplo às gerações futuras. A casa demolida, o terreno salgado, o corpo esquartejado pelos cantos, a descendência excomungada, entoariam cânticos de louvor ao arbítrio, além de servirem pedagogicamente, na sua dimensão catártica, de um freio exemplar a qualquer rebeldia tresloucada contra o poder maior.
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No entanto, a imagem de Tiradentes não ficaria reduzida apenas àquela emblemática ação do jugo português. Nela caberia uma construção igualmente perversa, nascida que fora nos intestinos de um outro poder autoritário, que se pretendia moderno, revolucionário. De fato, guardaria como uma das suas principais obras igualmente a expressão de uma ausência de liberdade. Ao plasmar a figura de Tiradentes ao mito cristão, com a barba longa enfeixando a túnica branca e a corda ao pescoço, o Estado Novo corrobora na criação de uma simbologia da reverência.
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Ao divinizá-lo, retoma para si aqueles procedimentos medievais adotados pela Igreja Católica e pelo Estado português: fazer coincidir mitos que escapavam ao seu controle a uma imagem cristã. Como sabemos, ao se apropriarem daquelas divindades pagãs, reinventavam uma feição marcadamente conservadora para as suas crenças. No caso da ditadura Vargas, se enalteceria o sacrifício, a dor, o sofrimento pungente. Afastava-se com extrema sabedoria da força que poderia ser testemunhada numa outra narrativa simbólica, cujo pendor claramente se identificava com a expressão dos oprimidos.
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Mas curiosa é a história dos homens. Ao vislumbrar a possibilidade de se ater às fabulações futuras e amarrar o País a um projeto que escancarava os desmandos da coroa portuguesa e as velhacarias do poder republicano, solidamente constituído pela força, a figura de Tiradentes se prestaria a símbolo de uma condição diversa, muito mais vigorosa e de forte impacto nos corações e mentes. Em sua condição de um elemento visivelmente provocador poderia nos ajudar a compreender as diversas intenções apostas quando o povo se mobiliza a mudar o seu destino e as instâncias o enganam e o atemorizam a permanecer omisso.
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(*) Dramaturgo e diretor de teatro. Doutor em Teoria Literária pela UFRJ.
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FONTE: http://www.outraspalavras.net/?p=1092
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quarta-feira, 21 de abril de 2010

OFICINA DE JORNALISMO 2010
CONTEÚDO PROGRAMÁTICO
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Módulo I – Introdução a Comunicação
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1. Conceitos, elementos e tipos de Comunicação;
2. Cidadania e Direito a Informação;
3. Comunicação de massa e globalização;
4. Comunicação Comunitária e transformação social;
5. Folkcomunicação e participação popular;
6. Democratização da Comunicação;
7. Digitalização da Comunicação.
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Módulo II – Introdução ao Jornalismo
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1. Conceitos e história do Jornalismo;
2. Categorias e gêneros jornalísticos;
3. Estrutura da notícia jornalística;
4. Agências de notícias;
5. A imprensa paraibana;
6. Noções de Fotojornalismo;
7. Cinejornalismo no Brasil.
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Módulo III – Os meios de comunicação alternativos
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1. O fanzine;
2. O jornal comunitário;
3. O rádio comunitário;
4. O cinema alternativo;
5. Os blogs e redes sociais;
6. Mídia e juventude.

Câmara Ligada na juventude
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Imagine um programa de auditório em que a plateia, formada por estudantes, dá sua opinião sobre temas como violência, oportunidades de trabalho, a ameaça das drogas, doenças sexualmente transmissíveis, política, entre outros. Imagine que o ponto de partida para a discussão sejam as letras de bandas e artistas oriundos dessa mesma realidade – os bairros mais pobres. E que esse programa seja produzido por uma emissora de TV pública. Esse programa existe, se chama Câmara Ligada, uma produção da TV Câmara.
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O Câmara Ligada estimula os jovens que não têm intimidade com a política a debater temas de seu dia-a-dia. É também um canal de comunicação entre o Parlamento e o público-alvo, situado na faixa etária entre 15 e 24 anos, a mesma usada pela ONU para definir juventude. São cerca de 34 milhões de brasileiros nesta idade, segundo o censo de 2000. Jovens que em sua maioria têm uma certa rejeição à política, resvalando para o descrédito em relação às instituições democráticas.
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O programa começou a ser produzido em 2003 pela TV Câmara, em parceria com a a Unesco, o Sesc e a Agência de Notícias dos Direitos da Infância (Andi). O Câmara Ligada busca responder às questões levantadas no livro “Remoto Controle – Linguagem, Conteúdo e Participação nos Programas de Televisão para Adolescentes”, editado pela ANDI, Unicef e Editora Cortez. A obra analisou todos os programas já produzidos para jovens no país e concluiu que, neles, os brasileiros com menos de 24 anos são relegados ao papel de figurantes. No Câmara Ligada, eles passam a ser protagonistas.
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A definição de pautas, da abordagem, do cenário e todo o processo que envolveu a criação do Câmara Ligada resultou do trabalho de dois conselhos montados para colaborar com a equipe da TV Câmara. O primeiro, formado por jovens identificados em uma pesquisa de opinião realizada com cerca de 500 estudantes em diversas escolas de Brasília. O segundo, composto por especialistas em juventude, com representantes dos parceiros oficiais Unesco, Andi e Sesc e da professora Vânia Lúcia Quintão Carneiro, da UnB.
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Cada programa enfoca um tema específico, pautado pelos próprios jovens. O Câmara Ligada é apresentado por Evelin Maciel, dirigido por Guilherme Bacalhao e produzido por Shirley Farias, sob a coordenação de Maíra Brito. Assista ao Câmara Ligada na TV Câmara: toda sexta-feira, às 19h; sábado, às 17h30; e domingo, às 22h.
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FONTE: http://www.camaraligada.com.br
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ACTA: uma ameaça ao conhecimento livre
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Em 25 de março deste ano, o governo de Barack Obama tornou público o esboço de um acordo internacional espantoso. Eufemisticamente denominado ACTA – as iniciais em inglês de Acordo Comercial Anti-Falsificação - ele tem objetivos muito mais vastos. Incide sobre a circulação de bens simbólicos – a atividade que mais mobiliza a criatividade humana no presente, e também a que mais desperta expectativas de lucros. Mas o faz no sentido do controle. Ao invés de incentivar e qualificar a expansão das trocas livres, restringe e mercantiliza o intercâmbio de cultura, conhecimento, marcas e fórmulas necessárias ao combate das doenças.
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Recorre, para tanto, a métodos totalitários e policialescos, que ferem em múltiplos pontos a Declaração Universal dos Direitos Humanos. Permite violar correspondência sem ordem judicial e intervir na comunicação pessoal. Encarrega os provedores de acesso à internet e os serviços de hospedagem de sites de vigiar e punir os internautas. Criminaliza, em especial, a troca não-comercial de arquivos via internet, o que ameaçaria milhões de pessoas com penas de prisão. Atinge kafkianamente o software livre – ainda que os programadores que o constroem não reivindiquem direito a propriedade.
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Como frisa James Love, no Knowledge Ecology International, um dos site envolvidos na mobilização internacional sobre o tema, o ACTA enquadra, sob o conceito de “escala comercial”, não apenas o que tem “motivação direta ou indireta de ganho financeiro”, mas “qualquer sistema de grande amplitude”. Em outras palavras, as grandes corporações que comercializam produtos culturais querem colocar fora da lei aqueles que os oferecem gratuitamente... É uma ameaça, a longo prazo, até mesmo a serviços como o Google.
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Estabelece penas que ultrapassam a pessoa do suposto infrator, violando um princípio jurídico que vem do direito romano. Bloqueia a circulação internacional de medicamentos genéricos, que considera frutos de violação à propriedade intelectual das indústrias farmecêuticas. Submete os serviços públicos de alfândega a interesses e determinações de empresas privadas. Procura frear a emergência dos países do Sul do planeta e a possibilidade de uma divisão mais justa da riqueza — congelando a divisão internacional do trabalho hoje existente.
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Debatido sigilosamente há três anos, o rascunho do acordo só veio à luz depois de uma série de pressões de grupos da sociedade civil e de alguns parlamentares. Mas a falta de transparência nunca foi completa. Sucessivas baterias de reuniões internacionais foram desenhando o ACTA. A elas tiveram acesso os governos de um pequeno grupo de países: Estados Unidos, Japão, Suíça e União Europeia, desde 2007; Austrália, Canadá, Coreia do Sul, Emirados Árabes, Jordânia, México, Marrocos, Nova Zelândia e Singapura, numa segunda etapa. E embora excluíssem os Parlamentos, os representantes do Poder Judiciário e a sociedade civil, os governantes sempre tiveram a companhia dos grandes lobbies empresariais — o que bastaria para atestar o caráter não-republicano e ilegítimo desta absurda proposta.
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O ACTA é o lance mais recente de uma grande disputa civilizatória, que emergiu na virada do século e marcará, agora está claro, as próximas décadas. Por um lado, a economia do imaterial e a internet abrem, entre os seres humanos, possibilidades inéditas de liberdade, autonomia, des-hierarquização, invenção e criação colaborativas de riquezas. Na direção oposta, setores do capital procuram capturar esta riqueza comum. Para tanto, investem inclusive contra as liberdades conquistadas já na época da Revolução Francesa.
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Mecanismos para restringir a soberania dos Estados e sociedades, impedindo-as em especial de “interferir” sobre a “autonomia” das grandes empresas, foram propostos pelo Acordo Multilateral de Investimentos (AMI). Articulado até 1998, no Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômica (OCDE), ele exigia pagamento de indenizações aos “investidores”, sempre que os Estados adotassem medidas que pudessem resultar em redução de lucros – uma legislação trabalhista ou ambiental mais protetoras, por exemplo. Foi também negociado em sigilo, mas ao final vencido por uma articulação da sociedade civil. Ela se espraiou por diversos países – o que era, então, incomum – e ganhou força ao denunciar o caráter oculto, e portanto antidemocrático, da iniciativa da OCDE.
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Eram tempos de forte supremacia das ideias neoliberais. Por isso, a derrota do AMI pareceu mero acidente de percurso. Mecanismos muito semelhantes foram incluídos, pela Organização Mundial do Comércio (OMC), na convocação de uma rodada de negociações internacionais para liberalizar as trocas internacionais – a chamada Rodada do Milênio. Ela previa, além disso, enorme pressão para que os Estados desarticulassem suas redes de serviços públicos (Educação, Saúde, Água, Saneamento, Transportes e tantos outros, em muitos casos gratuitos) e os transformassem em mercadorias. Naufragou em Seattle, em dezembro de 1999, diante de uma mobilização internacional maciça, de características até então desconhecidas (como o protagonismo múltiplo e a horizontalidade) e diretamente precursora dos Fóruns Sociais Mundiais.
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FONTE: http://diplo.org.br
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terça-feira, 20 de abril de 2010

Pelo fim do Serviço Militar Obrigatório
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Wellington Silveira
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Se existe algo que deve morrer de velhice no Brasil é o serviço militar obrigatório. Para que fingir que continua ser necessário forçar rapazes acima de 18 anos a se alistar no Exército? Em vez do serviço militar, rapazes e moças deveriam dedicar um ano de suas vidas para servir à comunidade. Os filhos da classe média e da elite aprenderiam mais sobre o Brasil real se entrassem no mundo das crianças que nascem com pouco ou quase nada. Se fossem convocados a compartilhar o que sabem com o rodapé da pirâmide social.
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Pela lei atual, até o brasileiro que mora fora do país é obrigado a se alistar. Claro que há muitos jeitinhos para evitar os doze meses no quartel. Só se ingressa no Exército hoje quem deseja seguir carreira nas Forças Armadas ou quem precisa ganhar um salário mínimo como recruta. Os universitários costumam conseguir dispensa. Muitos se formam sem ter a menor idéia de como se equilibra na linha da pobreza a massa de brasileiros. É impressionante como a sociedade brasileira não oferece oportunidades de convivência entre cidadãos de diferentes camadas socioeconômicas. A sociedade vem se transformando em uma ilusão onde as pessoas se esbarram apenas. Há um apartheid social entre ricos e pobres.
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Poucos jovens carentes chegam às concorridas universidades públicas gratuitas, e as particulares são proibitivamente caras. Recentemente assisti a uma entrevista de um ex-professor da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) por 16 anos. A cada ano ele se perguntava de onde vinham seus alunos: “só tive dois que haviam estudado em colégio público municipal, embora a rede municipal do Rio tenha mais de 800 mil alunos”, disse o educador.
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Nas grandes cidades, a cultura dos condomínios cria uma juventude que se apega a privilégios e costuma sentir medo ou desprezo por pobres. Jovens de classe média alta só trabalham como garçons, garçonetes, babás ou domésticas quando vão para o exterior fazer intercâmbio. Os pais mandam pimpolhos para os Estados Unidos, Europa... Vão estudar idiomas e, muitas vezes lavar pratos. Faz parte do aprendizado de vida e do amadurecimento. No Brasil jamais fariam isso, e não só por vergonha de servir aos seus iguais, mas a mesada tropical é polpuda e o que se ganha aqui nesse tipo de serviço é muito menos do que lá fora. Além disso, no Brasil eles têm domésticas que recolhem suas roupas de grife espalhadas pelo chão.
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O Serviço Civil obrigatório seria uma oportunidade de integração, educação, disciplina. Não existe no Brasil nenhuma alternativa real que promova o entendimento entre as classes, não se treinam o ouvido nem a compaixão, o desprendimento ou a generosidade. Jovens deveriam consagrar um tempo para o bem público, por lei, para criar bases e valores, perceber outros olhares. Por que não um estudante de Direito, no primeiro ano de faculdade, dedicar quatro horas diárias de trabalho a um balcão de atendimento de pequenas causas em favela? O estudante de Ciências Contábeis orientar famílias em pequenos empreendimentos? O estudante de Letras incentivar adolescentes a ler? São tantos universitários financiados pelo povo brasileiro. Porque não retribuir a sociedade durante apenas um ano?
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O presidente Lula chegou a propor, em setembro de 2008, o Serviço Social Obrigatório para homens dispensados do serviço militar e para todas as mulheres brasileiras. Eles prestariam à sociedade serviços relacionados a sua formação técnica, profissional ou acadêmica. Foi engavetado. Minha sensação é que se desperdiça o potencial de um exército de jovens inteligentes e criativos que poderiam ajudar a construir uma sociedade mais justa e menos desigual. Enquanto isso eles ficam sonhando em sair do Brasil sem sequer chegar a entender o país em que nasceram. Nem aprendem a dar bom dia ou agradecer por um serviço prestado. Deveríamos acabar com a obrigatoriedade do serviço militar, que tem um século de vida. É um anacronismo num país de tradição e cultura pacifista. O que o Brasil necessita é educar direito seus filhos.
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FONTE: Lista JSB Unificada.
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segunda-feira, 12 de abril de 2010


OFICINAS 2010.1: inscricoes abertas!

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A expressão radiofônica de uma cartografia sonora
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Cida Golin
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A partir da Revolução Industrial, segundo Schafer (2001), a paisagem sonora tornou-se cada vez mais lo-fi (low fidelity), ou seja, congestionada pela quantidade de sons e suas interferências conflitantes. Ao contrário da paisagem hi-fi (high fidelity), em que é possível uma escuta focada, em perspectiva, a anarquia da paisagem sonora pós-industrial, típica das grandes cidades, favoreceu uma surdez progressiva, comportamentos de não-escuta, a desatenção do sujeito com seu entorno sonoro. Uma das características da paisagem lo-fi é a presença do som contínuo, de baixa informação e altamente redundante. Ao contrário dos sons naturais, a sonoridade artificial da máquina tem uma linha plana e contínua.
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Segundo Wisnik (1989), o mundo mecânico e artificial da vida urbano-industrial é feito de estridência, de choque, influenciando a história da música ao longo do século XX. Eric Satie (1866-1925), por exemplo, utilizou a máquina de escrever como percussão e as sirenes e tiros de revólver, como teclados. Ao fazer de sua música um contraponto ao barulho do ambiente, o músico antecipou o padrão de escuta típico do modelo repetitivo da indústria: apenas um pano de fundo, ocupando uma faixa secundária de atenção do sujeito. O desenvolvimento técnico e a proliferação dos meios de produção e reprodução sonora influíram diretamente na concepção da música concreta e da eletrônica. O ruído é um índice da música e do habitat moderno.
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A ordem expressa nos centros urbanos, no entanto, traduz-se na ausência do contato. Os grupos reúnem-se em pólos comerciais, mais preocupados em consumir do que qualquer outro propósito mais complexo, político ou comunitário. “O individualismo moderno sedimentou o silêncio dos cidadãos na cidade. A rua, o café, os magazines, o trem, o ônibus e o metrô são lugares para se passar a vista, mais do que cenários destinados a conversações”.
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Na medida em que a cidade perdeu a característica de favorecer o diálogo, conforme Munford (1998), transformou-se em espaço de uma luta semântica. Há uma disputa entre interesses comerciais, estéticos e históricos, buscando neutralizar, perturbar ou modificar a mensagem dos outros, “e subordinar os demais à própria lógica, são encenações dos conflitos entre as forças sociais: entre o mercado, a história, o Estado, a publicidade e a luta popular para sobreviver”. O espaço urbano se transformou em um circuito de informação e comunicação, com predominância da imagem e da escrita luminosa, em detrimento do som.
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Walter Benjamin, leitor de uma cidade agônica expressa na poética de Baudelaire, é autor da Trilogia berlinense, composta por uma série radiofônica sobre a cidade de Berlim (1929-1930), e pelos textos Crônica berlinense (1931-1932) e Infância em Berlim por volta de 19002. Na série dirigida a adolescentes, Benjamin utiliza uma variante do chamado tableau, da crônica, adequando-a ao novo veículo sonoro. Percorre-se a cidade pelo olhar de um menino de rua (o flâneur de Paris) atravessando ruas e parques, brinquedos e locais de trabalho em que jovens mecânicos produzem locomotivas para o mundo.
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FONTE: A Expressão Radiofônica de uma Cartografia Sonora:
estudo da série Porto Alegre, paisagens sonoras.
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Empresas de comunicação e projetos educativos
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Michelle Prazeres (*)
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A educação - e a formação, de um modo geral - dos indivíduos deve acompanhar o espírito da época em que estão inseridos, formando sujeitos com condições de ler (criticamente) a realidade. Isso é fato. Assim como é fato que uma das marcas centrais da época em que vivemos é a centralidade da mídia nas nossas vidas. A articulação destes dois fatos de forma natural é perigosa e tem conferido, quase que naturalmente, um novo poder às empresas de comunicação: o poder de educar também nas escolas, construindo o pensamento dos novos cidadãos.
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Não satisfeitas com seus monopólios, audiências e “shares” de mercado exorbitantes, as grandes corporações de comunicação e tecnologia - como, por exemplo, o Grupo Abril, a Rede Globo, a Microsoft, os jornais Folha e Estado de São Paulo e a Telefônica - entraram nas escolas a partir de parcerias com secretarias e, muitas vezes, por intermédio de seus “braços sociais” (institutos, fundações etc). Também não satisfeitas com o fato de entrarem nas escolas como instrumentos, entraram também com seus conteúdos "educativos".
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É certo que a escola precisa se modernizar e acompanhar as tendências da atualidade (ainda que sob diversos riscos). No entanto, é preciso discutir o projeto de modernização da educação, antes de entregá-lo nas mãos de empresários do ramo das mídias. Em geral, o que observamos, é um processo de entrada que desrespeita o campo educacional, não ouvindo sequer quais são as reais demandas das escolas por instrumentos ou conteúdos midiáticos e tecnológicos.
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Ou seja, os campos midiático e político se articulam e decidem a vida do campo educacional em relação à suposta modernização. Suposta porque, convenhamos, equipar escolas em projetos milionários com multinacionais, deixando penetrar na educação pública a lógica das empresas de comunicação e tecnologia e em projetos executados “de cima pra baixo” não se trata necessariamente de modernização. Pelo contrário. Elementos de modernidade convivem com elementos tradicionais da política que ainda precisam de reflexão e solução. Em boa parte das iniciativas, o dinheiro investido em mídia e tecnologia vira discurso de políticos “benfeitores” da educação moderna, salas vazias e equipamentos ociosos por falta de um processo cuidadoso de implementação. Muitas vezes, a “culpa” recai, claro, sobre os profissionais da educação, em tese, despreparados para encarar o mundo novo que, ainda segundo o mesmo discurso, é dominado pelos jovens alunos.
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Processo atravessado
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Esta entrada das mídias e das tecnologias nas escolas, ilustrada pelos exemplos acima citados, é feita com alguma transparência (publicação no Diário Oficial, anúncio oficial com celebração e presença do governador em alguns casos ou publicação nos sites das instituições e no site do Governo do Estado). No entanto, em grande parte delas, o processo de contratação do material, tecnologia ou ferramenta em questão 1. não passou por licitações; 2. não passou por qualquer tipo de discussão pública (inclusive via meios de comunicação da imprensa comercial, que, em tese, são os veículos de ampliação do debate político) ou com os agentes do campo educacional; 3. em geral, não propõe processos de formação dos educadores e alunos para lidarem com os novos materiais e dinâmicas, o que seria considerado um mínimo de diálogo com o ambiente educacional que vai receber novas ferramentas e dinâmicas de ensino.
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A explicação parece simples. Ora, se precisamos modernizar as escolas, levando mídias e tecnologias para as salas de aula, porque não fazê-lo com quem “mais entende do assunto”? Mas é preciso pensar que estamos diante de duas afirmações construídas social e culturalmente, com a “ajuda” preciosa de ninguém mais ninguém menos que os próprios veículos de comunicação, interessados diretos nas parcerias milionárias com as secretarias e sistemas de ensino. Basta acompanhar por alguns dias as coberturas de jornais, revistas e telejornais para se deparar com matérias que afirmam a necessidade de as escolas se modernizarem. Mas não se trata de qualquer modernização. Os discursos são carregados de corporativismo. Além da idéia de modernidade ser construída, é construída também a idéia de que ela deve chegar à escola pelas mãos de quem domina o assunto e de que este alguém são as empresas de comunicação.
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Hegemonia transferida para a Educação
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A verdade é que a hegemonia moral, cultural e política de um determinado grupo social (as empresas de comunicação) adentra a escola travestida de consenso. Esta entrada nos espaços educativos se dá, objetivamente, carregada pelos materiais produzidos pelas empresas privadas de comunicação e, subjetivamente, pela adesão ao discurso e aos valores destas empresas. Por exemplo, podemos afirmar que a adoção de softwares e ferramentas da multinacional Microsoft proporcionam um tipo de aprendizado diferente daquele que seria proporcionado por ferramentas de software livre ou mesmo de outra fabricante. E o que determina a opção da Secretaria de Educação por este material? Mais do que o material, o que leva a secretaria a firmar parcerias com a multinacional para que ela realize uma campanha contra a “pirataria” nas escolas? Em lugar disso, não seria a escola o lugar de reflexão sobre a propriedade privada, o conhecimento livre e as formas de patentes em softwares? Afinal, o que está em jogo? O interesse público ou meia dúzia de interesses privados?
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O fato é que são muitas as lógicas presentes nestas escolhas. Uma delas é a de não ouvir o campo educacional nas decisões político-pedagógicas colocadas para a educação paulista. Outra é a de reforçar vínculos políticos e de favorecimento com as grandes redes de comunicação e tecnologia do Brasil e do mundo. Outra é a da modernização das escolas a partir de valores construídos por estas próprias empresas na cena pública. Em, por fim, a da privatização, ainda que subjetiva, da educação. A entrada sorrateira da lógica empresarial nos espaços educativos. Mais uma vez, é preciso afirmar que não se trata de defender o atraso e a precariedade das escolas. Trata-se, sobretudo, da entrada deste mundo de mídia no espaço educativo regulada pelo Estado e discutida com a sociedade, em especial, os atores da educação.
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(*) Michelle Prazeres é jornalista, mestre em Comunicação e Semiótica (PUC-SP), doutoranda em Educação (FE-USP) e integrante do Intervozes – Coletivo Brasil de Comunicação Social.
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FONTE: http://www.direitoacomunicacao.org.br
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Mundo desigual
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Márcio Demari (*)
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"O maior assassino do mundo e a maior causa de doenças e sofrimento ao redor do golfo é… a extrema pobreza." Os números atuais mostram que 21 países retrocederam em seu Índice de Desenvolvimento Humano, contra apenas 4 na década anterior. Em 54 países a renda per capita é mais baixa do que em 1990. Em 34 países a expectativa de vida ao nascer diminuiu, em 21 há mais gente passando fome e em 14 há mais crianças morrendo antes dos cinco anos.
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No Brasil, 10% brasileiros mais pobres recebem 0,9% da renda do país, enquanto os 10% mais ricos ficam com 47,2%. Segundo a Unicef, 6 milhões de crianças (10% do total) estão em condições de “severa degradação das condições humanas básicas, incluindo alimentação, água limpa, condições sanitárias, saúde, habitação, educação e informação”. A pesquisa ainda mostra que 15% das crianças brasileiras vivem sem condições sanitárias básicas. As áreas rurais do Brasil concentram a maioria das crianças carentes - 27,5% delas vivendo em “absoluta pobreza”.
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Segundo a OIT, os dados de trabalhadores domésticos infantis é espantoso: no Peru, 110 mil; no Paraguai, 40 mil; na Colômbia, 64 mil; na República Dominicana, 170 mil; apenas na Guatemala, 40 mil; no Haiti, 200 mil; e no Brasil – o campeão de trabalho doméstico na América Latina e talvez no mundo – 500 mil. Com 53,9 milhões de pobres, o equivalente a 31,7% da população, o Brasil aparece em penúltimo lugar em termos de distribuição de renda numa lista de 130 países. É o que mostra estudo do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), recentemente divulgado pelo Ministério do Planejamento.
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Das 55 milhões de crianças de 10 a 15 anos no Brasil, 40% estão desnutridas. 1,5 milhão entre 7 e 14 anos está fora da escola. A cada ano, 2,8 milhões de crianças abandonam o ensino fundamental. Das que concluem a 4ª série, 52% não sabem ler nem escrever. Mais de 27 milhões de crianças vivem abaixo da linha da pobreza no Brasil, e fazem parte de famílias que têm renda mensal de até meio salário mínimo. Aproximadamente 33,5% de brasileiros vivem nessas condições econômicas no país, e destes, 45% são crianças que têm três vezes mais possibilidade de morrer antes dos cinco anos.
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A cada 12 minutos, uma pessoa é assassinada no Brasil. Por ano, são registrados 45 mil homicídios no País. No entanto, a probabilidade de um assassino ser condenado e cumprir pena até o fim no Brasil é de apenas 1%. O Brasil é, segundo a ONU, o país onde mais se mata com armas de fogo. Todos os anos são mortos 40 mil brasileiros; 1,9% do PIB brasileiro é consumido no tratamento de vítimas da violência; A Aids já deixou mais de 11 milhões de órfãos na África; o devastador avanço desta doença fará com que, em 2010, pelo menos 40 milhões de menores em todo o continente tenham perdido pelo menos um de seus pais, segundo a UNICEF. A cada minuto, uma criança morre de AIDS.
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Mais de 1,1 bilhão de pessoas não têm acesso à água potável no planeta, segundo dados da ONU. Outros 2.4 bilhões não têm saneamento básico. A combinação do dois índices é apontada com a causa de pelo menos 3 milhões de mortes todo ano. Um europeu consome em média entre 300 e 400 litros diariamente, um americano mais de 600 litros, enquanto um africano tem acesso a 20 ou 30 litros diários. Um em cada seis habitantes da Terra não tem água potável para beber e dois em cada cinco não dispõem de acesso a saneamento básico.
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Até 2050, quando 9,3 bilhões de pessoas devem habitar a Terra, entre 2 bilhões e 7 bilhões de pessoas não terão acesso à água de qualidade. A fome no mundo, depois de recuar na primeira metade dos anos 90, voltou a crescer e já atinge cerca de 850 milhões de pessoas. A cada ano, entram nesse grupo mais 5 milhões de famintos. A OMS (Organização Mundial da Saúde) estima que 160 mil pessoas estão morrendo por causa do aquecimento global, número que poderia dobrar até 2020 - contabilizando-se catástrofes naturais e doenças relacionadas a elas. Além da morte, a desnutrição crônica também provoca a diminuição da visão, a apatia, a atrofia do crescimento e aumenta consideravelmente a susceptibilidade às doenças. As pessoas que sofrem de desnutrição grave ficam incapacitadas de funções até mesmo a um nível mais básico.
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Muitas vezes, são necessários apenas alguns recursos simples para que os povos empobrecidos tenham capacidade de produzir alimentos de modo a se tornarem auto-suficientes. Estes recursos incluem sementes de boa qualidade, ferramentas adequadas e o acesso a água. Pequenas melhorias nas técnicas de cultivo e nos métodos de armazenamento de alimentos também são úteis. Muitos peritos nas questões da fome acreditam que, fundamentalmente, a melhor maneira de reduzir a fome é através da educação. As pessoas instruídas têm uma maior capacidade para sair deste ciclo de pobreza que provoca a fome.
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(*) Diretor Presidente do Planeta Voluntários - Brasil
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FONTE: Agência de Notícias do Terceiro Setor.
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