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quinta-feira, 11 de setembro de 2008

Diferentes platôs
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Hernani Dimantas
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Imaginem uma rede. Quando acessamos nossos computadores e tudo corre bem, abrimos o navegador para o mundo. Atingimos o mais abrangente espaço hacker — o das pessoas conectadas — onde a troca de informações catalisa o aprendizado informal. A distância entre as pessoas diminui. A conexão transmuta-se em uma outra realidade.
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Mas isso é só a ponta do iceberg. Diariamente, assistimos apenas à superfície da revolução não televisionada, com impactos que abrangem do alfinete ao foguete. Tudo ao mesmo tempo, rompendo barreiras entre os acontecimentos. Creio que é fascinante observar os níveis, os diferentes platôs, que podemos enxergar nas instâncias da cultura digital. Lidamos com diversas variáveis, que fazem, de um organismo simples, um sistema complexo.
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Essa percepção, no entanto, não se dá automaticamente. É paradoxal, mas somente apreendemos as nuances do sistema hiperconectado, quando a conexão cai. O desespero virtual torna-se a angústia do século 21. A imagem do erro nos mostra a necessidade do suporte. Pois não importa muito a capacidade técnica de cada um. Sem banda disponível, não há conexão. Dependemos de terceiros, de quartos ou quintos dos infernos. Saímos do platô da linkania e retornamos ao universo dos cabos, fios, hardwares, softwares de base. Somos inequivocamente fracos diante das complexidades dos diversos organismos sobrepostos.
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O movimento de uns – pode-se pensar – comunica-se aos outros. Mas não é só isso: as pessoas têm uma meta. E ela está lá antes mesmo que se encontrem palavras para descrevê-la. Começa a saga dos testes. Um cabo pode estar solto, o rastro dos IPs está apagado na selva eletro-eletrônica. As análises são muitas. As conexões tornam-se desconexas; os sinais digitais descontinuados... fluxos de dados perdidos. Isso nos leva a pensar que a nossa sociedade vive em diferentes platôs. São muitas redes que se interconectam. Formam as redes de informação. Ou, aquilo que é físico torna-se virtual e, catalisado, retorna ao físico gerando movimentos, ações interligadas.
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Os diferentes platôs interagem em direções difusas. Estabelecem novos campos de força por meio de discursos que se apresentam em múltiplas interfaces, que emergem dinamicamente. Num movimento onde o ator está em rede. Numa condição de sobrevivência imersa que cria espaços jamais apresentados para as ações múltiplas, nas quais o discurso linka e constrói.
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O desafio é entender a rede como um movimento múltiplo, onde a incerteza é mais característica que os formatos, disposições, e, principalmente, ferramentas pelas quais o próprio movimento se manifesta. O movimento de uns – pode-se pensar – comunica-se aos outros. Mas não é só isso: as pessoas têm uma meta. E ela está lá antes mesmo que se encontrem palavras para descrevê-la: a meta é o ponto mais negro – o local onde a maioria encontra-se reunida" (Massa e Poder, Canetti, E).

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