O rádio como perspectiva acústica da cidade
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Cida Golin
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Linguagem temporal, o rádio mantém um vínculo visceral com a cidade. Reflete sua sonoridade, funciona como um relógio das rotinas diárias, organiza e reproduz os ciclos e as temporalidades locais: o despertar para o trabalho, a conversa descompromissada na hora do cafezinho, a hora do rush, a solidão do insone na madrugada. Cada emissora enquadra o ouvinte em um estilo próprio de pontuação e ritmo. Funciona, na perspectiva de Schafer, como uma espécie de parede, massa sonora comprimida, feita de repetições, envolvendo o sujeito na ausência do silêncio.
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No momento em que o rádio se redirecionou, principalmente a partir dos anos 1960, deixando a sala de visitas e o entretenimento para a televisão, passou cada vez mais a contemplar notícias e prestação de serviços locais, aproximando-se da cultura da comunidade onde opera. Qualquer manual para iniciantes recomenda que a pauta do veículo privilegie temas próximos, critério de relevância: aquilo que se vê e se conversa na rua, uma informação urgente, um acidente de trânsito, um assalto, o buraco da rua, as reivindicações dos bairros.
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Cida Golin
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Linguagem temporal, o rádio mantém um vínculo visceral com a cidade. Reflete sua sonoridade, funciona como um relógio das rotinas diárias, organiza e reproduz os ciclos e as temporalidades locais: o despertar para o trabalho, a conversa descompromissada na hora do cafezinho, a hora do rush, a solidão do insone na madrugada. Cada emissora enquadra o ouvinte em um estilo próprio de pontuação e ritmo. Funciona, na perspectiva de Schafer, como uma espécie de parede, massa sonora comprimida, feita de repetições, envolvendo o sujeito na ausência do silêncio.
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No momento em que o rádio se redirecionou, principalmente a partir dos anos 1960, deixando a sala de visitas e o entretenimento para a televisão, passou cada vez mais a contemplar notícias e prestação de serviços locais, aproximando-se da cultura da comunidade onde opera. Qualquer manual para iniciantes recomenda que a pauta do veículo privilegie temas próximos, critério de relevância: aquilo que se vê e se conversa na rua, uma informação urgente, um acidente de trânsito, um assalto, o buraco da rua, as reivindicações dos bairros.
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O rádio mantém uma profunda relação com o espaço social mais próximo, preocupa-se com o entorno, e busca situar-se nele; promove a inter-relação de espaços a partir do local; cria um pulsar rítmico do cotidiano, sincronizando pelo tempo as atividades de uma comunidade. Como observa Canclini, ao se pautar pelas experiências diárias da cidade, os meios eletrônicos de comunicação simulam superar e integrar um imaginário urbano desagregado, sobretudo em grandes centros. Logo, estar informado é participar de uma comunidade.
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Dentro da luta pela organização e racionalização burguesa do espaço público, aos poucos, a voz (em especial dos grupos menos favorecidos) foi sendo abafada, ao contrário de sons institucionais como o da igreja ou dos motores que rompiam o silêncio comum. Na categoria dos sons comunitários, que precisam ser fortes para se destacar no ambiente, a sirene (primeiro da fábrica, depois do automóvel) tomou o lugar do sino na evolução do espaço urbano. O futurismo, ao participar da construção da cidade moderna, poetizou o ruído, fascinado pela estridência do metal, pela sonoridade do automóvel, das ferrovias ou das multidões.
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FONTE: A Expressão Radiofônica de uma Cartografia Sonora:
estudo da série Porto Alegre, paisagens sonoras.
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