Sobre o conceito de cultura
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Bruno da Veiga
Laura Duarte
Lia Vasconcelos
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O interesse científico pela cultura como uma variável explicativa do desenvolvimento, abordando-se dimensões simbólicas como valores, crenças e orientações partilhadas entre os membros de uma sociedade, vem crescendo e ganhando novos contornos a partir da década de 1980.
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O antropólogo Cliford Geertz define a cultura como o sistema de símbolos significantes partilhados socialmente, os quais sustentam a construção de mundo dos grupos sociais, e não apenas padrões concretos de comportamento – costumes, usos, tradições, hábitos. Para o autor a cultura tem que ser antropologicamente entendida através da análise integrada de fatores biológicos, psicológicos, sociológicos e culturais. Entretanto, o conceito preciso de cultura é tão impossível para ele como para Laraia (2003) ao considerar que desvendar a cultura de forma precisa seria desvendar a própria natureza humana.
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Duas questões abordadas por Geertz são fundamentais na observação das relações entre atores nas relações sociais: i) a cultura não é um fator explicativo dos acontecimentos sociais, comportamentos, instituições ou processos, mas sim um contexto onde eles podem ser descritos para uma tentativa mais eficaz de compreendê-los; e ii) a abordagem semiótica de seu conceito permite conversar com os sujeitos da ação por meio da compreensão do mundo conceitual onde vivem.
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Ainda segundo Geertz “os valores são produtos de nossa cultura, assim como as idéias, atos e até mesmo as nossas emoções”, ao que acrescenta Laraia (2003) “a visão de mundo, comportamentos sociais e posturas corporais que são frutos do operar da cultura produzida, transmitida, reproduzida e retransmitida intra e inter gerações”.
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Maturana (2002) debate oportunamente sobre a lógica que está por trás da conduta ou da interpretação de mundo dos atores, apontando que a negação em uma relação social ocorre mais acentuadamente devido a diferenças ideológicas e não no campo da lógica. Ou seja, o sujeito traz consigo orientações (culturais) que impedem que as diferenças reconhecidas em uma dada relação social possam ser aceitas. Neste caso, não haveria uma aceitação mútua entre os atores, resultando no que o autor chama de “relações não sociais”.
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Para o autor a cultura – o tipo de comunidade que o sujeito traz consigo e que se forma na infância e juventude – condiciona a convivência social não em um processo estático, mas certamente com efeitos de longa duração. Isto implica na visão do autor que uma nova sociedade pressupõe a construção de novas identidades (novos valores e visões de mundo), e não simplesmente o estímulo à mudanças na atividade humana: um novo fazer sem a devida reflexão sobre o ser.
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