O jovem fala de si
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Hebe Signorini Gonçalves (*)
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Em pesquisa coordenada por Lucia Rabello de Castro, 1.300 jovens foram entrevistados na região metropolitana do Rio de Janeiro. Entre outros aspectos, eles foram indagados acerca de quais seriam, em seu entender, os principais problemas da juventude, e quais as formas de enfrentá-los.
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Os resultados mostram que as questões relacionadas à violência, à droga e ao tráfico despontam como os principais problemas citados. Na descrição dos jovens, é a associação violência-droga-tráfico a resposta mais significativa. Observe-se que não se trata de problemas isolados que se potencializam, mas de uma única questão expressa em três vertentes indissociáveis, constituindo uma unidade discursiva. No entender dos jovens entrevistados, violência-droga-tráfico constitui um problema porque impõe um risco real - a ameaça à segurança pessoal - e uma limitação simbólica - representada no sentimento do medo que conforma os modos de viver e circular na cidade.
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Em pesquisa coordenada por Lucia Rabello de Castro, 1.300 jovens foram entrevistados na região metropolitana do Rio de Janeiro. Entre outros aspectos, eles foram indagados acerca de quais seriam, em seu entender, os principais problemas da juventude, e quais as formas de enfrentá-los.
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Os resultados mostram que as questões relacionadas à violência, à droga e ao tráfico despontam como os principais problemas citados. Na descrição dos jovens, é a associação violência-droga-tráfico a resposta mais significativa. Observe-se que não se trata de problemas isolados que se potencializam, mas de uma única questão expressa em três vertentes indissociáveis, constituindo uma unidade discursiva. No entender dos jovens entrevistados, violência-droga-tráfico constitui um problema porque impõe um risco real - a ameaça à segurança pessoal - e uma limitação simbólica - representada no sentimento do medo que conforma os modos de viver e circular na cidade.
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O destaque aos dados coletados na comunidade de Bom Retiro serve para desmistificar a crença de que a violência decorre das atividades ligadas ao tráfico de drogas. Ali não há referência ao tráfico, mas, ainda assim, a droga é o problema mais citado; ela se conecta à violência pela via subjetiva, não pelas disputas de quadrilha pelo mercado da droga. No entender dos jovens residentes nessa comunidade em particular, o uso de drogas é uma escolha do sujeito, condicionada em grande parte pelos problemas que ele não quer ou não pode enfrentar: porque tem a cabeça fraca ou porque, diante das dificuldades com os pais em casa, elegeu a droga como uma resposta fácil para seus problemas.
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Não se trata de negar o risco das ruas, reconhecido como real. Todos os entrevistados fazem referência a uma violência que é difusa, que está em todo lugar, que alimenta seus medos e condiciona suas escolhas. O enfrentamento dessa dificuldade específica pede a ação dos setores públicos, em particular da polícia, instância que identificam como a responsável pelo controle da criminalidade urbana. Mas, incontinenti, apontam a polícia como parte do problema, pois ela é corrupta, entra nas comunidades pra esculachar, estabelecendo uma tensão que potencializa o medo e a violência, em vez de reduzi-los.
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Na ausência do público como fonte de suporte para a vida social até mesmo no que diz respeito ao controle da criminalidade, o jovem ressente-se da ausência do Estado. Diante de um poder público que não tem feito muita coisa, refluem sobre a família todas as expectativas de suporte e apoio. Não faço a mínima idéia de com quem ele [o jovem] pode contar hoje além da família, resume um entrevistado. Na frase: "a família é tudo", repetida por um contingente expressivo de jovens entrevistados, desenha-se a chave da construção de suas subjetividades. O apoio da família, vital para ampliar a chance de realizar os projetos de vida, é praticamente o último reduto de seus sonhos. É um apoio que se traduz na presença física - conversar, acompanhar a vida dos jovens e ser companheiro nos momentos difíceis - e também no esteio econômico, que permite a eles atravessar a fase da vida em que não podem se sustentar.
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(*) Doutora em Psicologia, integrante do Núcleo Interdisciplinar de Pesquisa e Intercâmbio para a Infância e Adolescência Contemporâneas, do Instituto de Psicologia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).
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FONTE: http://juventudesulamericanas.org.br
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