Flávio de Carvalho Serpa
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Que papel tiveram realmente as redes sociais e telefones celulares nas rebeliões do Oriente Médio? Muita gente deslumbrada com as novas tecnologias e serviços em rede vislumbrou, logo depois do início dos conflitos, uma nova era para a humanidade, como se o Facebook, a principal rede social mundial, com mais de meio bilhão de associados, tivesse poderes nunca antes experimentados pela humanidade para promover mudanças.
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É fato que os meios de difusão das ideias e de chamados à ação cumprem uma parte importante na evolução cultural e política da humanidade. A tecnologia da imprensa, de Gutenberg, foi efetivamente um agente novo de propagação de mudanças sociais profundas. A constatação de que as mídias são desencadeadoras de mudanças apenas quando existem condições sociais favoráveis é antiga. Mas como o contágio se propaga e qual o papel das mídias são questões que apenas na modernidade começaram a ser rastreadas.
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Que papel tiveram realmente as redes sociais e telefones celulares nas rebeliões do Oriente Médio? Muita gente deslumbrada com as novas tecnologias e serviços em rede vislumbrou, logo depois do início dos conflitos, uma nova era para a humanidade, como se o Facebook, a principal rede social mundial, com mais de meio bilhão de associados, tivesse poderes nunca antes experimentados pela humanidade para promover mudanças.
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É fato que os meios de difusão das ideias e de chamados à ação cumprem uma parte importante na evolução cultural e política da humanidade. A tecnologia da imprensa, de Gutenberg, foi efetivamente um agente novo de propagação de mudanças sociais profundas. A constatação de que as mídias são desencadeadoras de mudanças apenas quando existem condições sociais favoráveis é antiga. Mas como o contágio se propaga e qual o papel das mídias são questões que apenas na modernidade começaram a ser rastreadas.
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Quando Lênin criou o jornal Iskra (centelha), ele tinha bem claro que a ignição precisaria de uma pradaria adequada para se propagar. "Da centelha surgirá a chama" era o lema do Iskra, que cumpriu papel importante na formação do partido comunista. Para provar que a mídia não era a toda-poderosa na história, o título Iskra foi surrupiado pelos mencheviques, e foi para o brejo. O novo jornal bolchevique, o Proletári, não tinha o mesmo charme do Iskra, mas era amparado pelo decidido partido leninista.
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As rebeliões no Oriente Médio, nesse sentido, são um momento histórico privilegiado, pois dão à ciência a chance de acompanhar em tempo real o que está acontecendo e como as mudanças se desdobram. O resultado histórico vai depender muito das condições objetivas existentes em cada local. O grito do Facebook, do Twitter e das redes de jovens armados de telefones celulares teve resultados muito diversos nos países da região de falantes da língua árabe. Na Tunísia e no Egito os regimes despóticos, corruptos, burocráticos e ineficientes nem perceberam o que estava acontecendo, e quando se deram conta já era tarde demais para agir. Naqueles países, as elites nem se preocuparam em controlar as massas, a não ser pelo uso indiscriminado da força policial, o que só agravou bastante os conflitos nas ruas.
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Já no Irã e na Arábia Saudita, depois dos primeiros sustos os regimes locais passaram a combater as revoltas com as próprias armas dos desafiantes. No Irã não há mais espaço para as mídias sociais: a polícia monitora todos os suspeitos e chega em maior número nos locais de manifestação. O mesmo ocorre na Arábia Saudita e na China, onde os conteúdos perigosos ou são bloqueados, ou simplesmente derrubados com ataques de hackers chapa-branca. Isso explica um aparente paradoxo: por que a infecção não é maior em países com mais alta densidade de redes sociais? Ironicamente, nos Estados Unidos o impacto dessas redes nas mudanças sociais é limitado, quando não retrógrado. Elas ajudaram muito na mobilização para a eleição de Barack Obama, mas não conseguiram engrenar uma onda nem mesmo reformista.
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"Em vez de ficarmos nas ruas, correndo o risco de sermos presos de novo, decidimos que todos criaríamos blogs para contar o que estava acontecendo no país e mobilizar mais jovens. A guerra virou digital. Em 2008, eu e uma amiga criamos uma página no Facebook para apoiar a greve dos trabalhadores da cidade industrial de Mahalla. Em apenas cinco dias a página tinha mais de 80 mil membros", disse ele à Folha. E conclui. "A internet foi apenas uma ferramenta. O que causou a revolução foi a vontade de mudar e a disposição em fazer sacrifícios."
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Portanto, desistam de fazer a revolução no conforto de uma lan house. Depois das convocações via Facebook, o próprio Maher se surpreendeu. "Pensávamos que viriam uns poucos milhares, mas apareceram 100 mil só no Cairo. A revolução estava madura, só faltava uma gota a mais de querosene para fazer tudo explodir. E essa gota foi a violência da polícia contra os manifestantes".
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FONTE: www.observatoriodaimprensa.com.br
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