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sábado, 25 de junho de 2011

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A arte da imparcialidade jornalística

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Emanuelle Najjar
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Esta semana, li algo muito interessante no site Comunique-se a respeito do Twitter e do exercício do Jornalismo. Não falava na rede social como gerador de pautas, mas sim, sobre seus pequenos dilemas éticos, maiores que seus 140 caracteres. A grande pergunta era: O que você diria no Twitter se não fosse jornalista?
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Ok, leitor. Talvez você não seja mesmo jornalista, mas pense nos casos famosos de demissões que aconteceram devido à livre expressão no Twitter. Lembra de Felipe Milanez? Ele era editor da revista National Geographic e foi demitido por criticar matéria da revista Veja, que faz parte justamente do Grupo Abril, seu empregador. Diante disso, pense no que significa uma opinião diante do mito da imparcialidade.
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Embora leigos possam imaginar que jornalistas possuem poderes e privilégios sobre os demais seres da raça humana a verdade é que há limitações impostas em vários níveis, válidas não somente durante as horas de trabalho. Estou falando de supostas obrigações em tempo integral: de dilemas éticos por agir em prol da liberdade de outros enquanto no fundo sacrificamos a nossa. É, eu sei. Foi extremo, mas, como o mito envolvendo imparcialidade na visão popular não admite meio termo, creio que escrever desta forma seja o mais cabível. A verdade é que nem sempre podemos pressionar a tecla "Enter". Geralmente, as consequências são maiores que o habitual.
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Uma arte que tem seu preço
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Bom, talvez você não leia o trabalho realizado pelo Comunique-se para ter alguma ideia do que se trata, mas saiba que estou falando de coisas simples: críticas às prefeituras, empresas e instituições. Coisas que todo cidadão faz sem grandes medos, mas da qual abrimos mão em prol seja lá do emprego que paga nossas contas ou pela ideia de que o silêncio é pouco a pagar para fazer parte do que julgam ser o quarto poder.
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Com isso os dedos que pouco antes despejaram palavras furiosamente na tela do computador são obrigados a recuar. Hesitantes, ao pensar nas prováveis respostas, nos resultados de um ato tido como simples. Apertar um botão deveria ser banal, um gesto quase automático. Porém as atribuições e cobranças acabam por pesar nos ombros, tornando aquele gesto breve algo complexo e cheio de significados. No fim, os dedos rumam para a tecla oposta, apagando o que acabou de escrever, ritmado por pensamentos que variam entre revolta e conformismo, dependendo do grau de idealismo do cérebro que o comanda. É: a tal da imparcialidade é uma arte que tem lá o seu preço...
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FONTE: www.observatoriodaimprensa.com.br
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O poder da Educação Interativa

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Frederick Van Amstel
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Na vanguarda da pedagogia, se prevê uma mudança drástica no papel do aluno na aquisição de conhecimento para os próximos anos. Quem realmente estiver interessado em aprender poderá superar o mero papel de turista, aquele que está condicionado a ver somente o que o guia lhe mostra. Poderá se tornar um aventureiro destemido, esforçado para encontrar tesouros escondidos.
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Para isso acontecer, mudar o relacionamento professor-aluno é apenas uma das medidas. É preciso, antes de tudo, que se desfaça o estigma criado pelo modelo da velha escola, onde aprender é uma tarefa chata. Aprender é muito divertido e gratificante, não é por obrigação que escrevo neste blog. Se não fosse prazeroso, não seria tão firme. A proposta do edutainment é perfeita para esse fim: criar experiências divertidas que tenham fundo educativo. Talvez a forma mais bem sucedida de edutainment sejam os games que simulam situações reais e históricas. Um game é muito especial para mim nesse sentido: Civilization.
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Nos Estados Unidos, o pool absoluto da produção de games, pesquisadores fizeram experiências introduzindo o Civilization III nas escolas. Traduzo alguns resultados: na medida em que os estudantes sofriam derrotas, eles discobriam a importância da geografia. No final, muitos estudantes estavam usando as experiências de jogo como ferramentas conceituais, explicando como uma escassez natural de petrólep pode desestabilizar a política global. Um estudante comentou que "o que aprendi é que você não pode separar a economia da política ou da geografia. Os recursos naturais que eu tenho, ou onde estou posicionado, afeta como eu posso negociar com outros povos".
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Os textos americanos às vezes subestimam a cultura oriental. Civ. III tem uma perspectiva mais global da história. É às vezes difícil para os estudantes entenderem que a história poderia ter se desenrolado de forma diferente. A qualidade do "como seria" do jogo permitiu aos estudantes tirar suas próprias conclusões sobre questões como e porquê a Europa colonizou a América do Norte e não o contrário. Esses estudantes, cuja maioria lia pouco e se batia com estudos sociais, desenvolveram habilidades sofisticadas pensando sobre a história e jogando Civ. III. Eles aprenderam a formular suas próprias questões sobre o processo histórico. Por outro lado, poucos perceberam o enviesamento geográfico, materialista e a minimização das figuras históricas e fatores culturais do Civ. III.
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Claro, como o jogo é uma simplificação da realidade, terá muitos defeitos. Porém, a história contada pelos professores também tem seus enviesamentos, de acordo com a visão de cada cultura e posição social em que está inserido. Disso não podemos escapar. Cabe ao professor, usar jogos como esses apenas como apoio em aula, ressaltando os pontos altos e baixos do game. O mais interessante é que o game fornece ao aluno um embasamento excelente para discutir sobre os assuntos tratados, algo que dificilmente acontecer numa aula meramente teórica. É como se o conhecimento estivesse assim mais acessível e envolvente.
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FONTE: http://www.usabilidoido.com.br
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Escrever e ler transforma as pessoas

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Lílian Martins da Silva (*)
Norma de Almeida Ferreira (*)
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Escrevemos no papel, no chão do quintal de casa, na areai do mar, no pó que assenta os carros, no ar, na argila, na tábua, no papiro, na tela do computador... Usamos estilete, pincel, caneta, bico de pena, teclado, giz, batom, máquina, spray de tinta, teclado, etc. Somos fazedores de textos, de escrituras, que não são neutras nem universais e que estão postas no mundo em formas diversas, por finalidades também distintas, trazendo marcas das intenções do autor, do ilustrador e do editor, inscrevendo-se em determinado lugar e tempo, sugerindo usos e carregando valores. Somos leitores, mas não consumimos passivamente o que lemos: geramos e somos geradores, transformamos e somos transformados por aquilo que lemos, vemos e ouvimos.
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Jovens arriscam a vida e infringem leis, escrevendo nos muros mais altos dos prédios um traçado construído que não é o ensinado na escola. Desenham, fazem curvas, arredondam extremidades, dão traços geométricos, formas retas, cortam letras ao meio, emendam outras, produzem um código. Escrevem sobre seus amores, medos, turmas. Uma escrita que provavelmente lhes dá identificação de pertencimento a um grupo e que exclui leitores que não decifram seus códigos.
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Uma senhora busca na Internet o poema que soube de cor na década de 60 e que recitou na escola. Lembra vagamente de alguns versos. Recupera o poema “O velho mestre”, de René Barreto, e encontra outros leitores que também o memorizaram com a mesma finalidade... uma escrita que aproxima tempos e pessoas. Enquanto isso, outra pessoa tatua o corpo como se escrevesse em um diário ou fizesse um poema... a escrita como forma de não se esquecer.
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Uma pesquisa feita pelo Google a 15 fontes – bibliotecas, livrarias, catálogos coletivos nacionais, provedores comerciais, etc. – apontou que há 129.864.880 livros espalhados pelo mundo. Também feiras de livros e sindicatos dos editores confirmam que nos últimos anos houve um crescimento tanto em publicação quanto em venda de livros de diferentes gêneros, projetos gráficos, temas, etc. Contra todas as profecias, o livro não morreu: lemos mais.
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Alguém distribui uma prece impressa agradecendo a graça concedida por Santo Expedito; um advogado escreve e lê processos judiciais; alunos ganham como prêmio viagem e notebook em concurso de redação na cidade de Campinas-SP; pessoas, cada vez mais, exercem virtualmente uma conversa oral, em tempo real, de forma rápida e econômica, escrevendo em seus celulares. Fogos de artifício escrevem no céu, a cada passagem de ano, mensagens de boas festas... a escrita como forma de celebração coletiva da vida.
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(*) Integrantes da Associação de Leitura do Brasil (ALB) e do grupo de pesquisa “Alfabetização, Leitura e Escrita” – ALLE/FE/UNICAMP.
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FONTE: Revista Mundo Jovem, ano 48, n° 412.
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Jovens a partir de 16 anos podem doar sangue

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Doar sangue salva vidas, isso todos sabem. Mas, mesmo com essa chance correndo nas veias, os índices de doações no Vale do Paraíba estão em constante queda. Essa realidade não é exclusiva desta região, já que em todo país as campanhas de incentivo à prática de ajudar o próximo estão à todo o vapor.
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Agora, as desculpas para não doar devem diminuir. Na última semana, o Ministério da Saúde liberou a doação para jovens a partir de 16 anos – com autorização dos responsáveis – e para idosos a cima de 68 anos. Essa medida tem como meta arrecadar quatro milhões de bolsas de sangue para 2012. Segundo o governo federal, jovens de 16 e 17 anos já são doadores em países europeus e nos EUA.
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Para os homossexuais a doação é culturalmente dificultada. A nova deliberação prevê que, a partir de agora, essa descriminação acabe nos hemocentros do País, garantindo que a orientação sexual não seja usada como critério para selecionar doadores de sangue. A discriminação por hábitos de vida, atividade profissional, condição socioeconômica, raça, cor e etnia também serão eliminados do processo de triagem. Portanto, procure o hemocentro mais próximo e seja um doador(a)!
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Saiba quem pode doar: candidatos(as) com aspecto saudável e declaração de bem-estar geral; idade entre 18 anos completos e 67 anos, 11 meses e 29 dias. Podem ser aceitos candidatos à doação de sangue com idade de 16 e 17 anos, com o consentimento formal do responsável legal. E, em caso de necessidades tecnicamente justificáveis, o candidato cuja idade seja inferior a 16 anos ou superior a 68 anos somente poderá ser aceito após análise pelo médico do serviço de hemoterapia; peso mínimo de 50 kg. Candidatos com peso abaixo de 50 Kg podem ser aceitos após avaliação médica e desde que respeitados critérios específicos estabelecimentos na Portaria 1.353/11.
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FONTE: http://www.infojovem.org.br
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domingo, 19 de junho de 2011

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Acesso a banda larga no Brasil

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Alexandre Annenberg Netto
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O Brasil, imenso país com dimensões continentais e precária distribuição de renda, exige propostas específicas e criativas para enfrentar suas condições geoeconômicas. Exemplos de criatividade não faltam: o telefone prepago, o automóvel flex, a urna eletrônica, a exploração de petróleo em águas profundas. Um conjunto de soluções desse “naipe” não se encontra facilmente em nenhum outro país. E, graças a elas, o Brasil tem conquistado um papel cada vez mais relevante no cenário internacional.
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A conclusão óbvia dessa constatação é: ainda que não precisemos importar ou copiar modelos exógenos, é preciso desenvolvermos e consolidarmos modelos próprios, consistentes com a nossa realidade. Essa é a premissa básica que deve nos orientar diante do desafio da massificação da banda larga. Afinal, não há como negar sua peculiaridade: telecomunicações com uma das maiores cargas tributárias do mundo; mercado de telecom concentrado em poucos grupos econômicos; inexistência de políticas de financiamento público para esse setor (ou políticas que não funcionam, como o FUST – Fundo de Universalização dos Serviços de Telecomunicações); ausência de iniciativas para viabilizar parcerias público-privadas.
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Em contrapartida, hoje dispomos de uma infraestrutura de telecomunicações constituída por múltiplas plataformas que, se por um lado são insuficientes para garantir a cobertura e a capilaridade essenciais para a massificação desejada, por outro lado sugerem múltiplas soluções igualmente eficazes de acordo com necessidades específicas de cada localidade, o que talvez nem tenham sido necessárias em outros países. Afinal, temos redes para todos os gostos: ADSL e Cable Modem; Fibra Óptica ou sem fio; PLC e, num futuro não muito distante, satélites de órbita baixa.
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O problema crucial da massificação não está no backbone, já que há uma relativa abundância de fibras distribuídas por grande parte do território nacional, que podem se constituir em uma excelente oportunidade para a viabilização de uma eficaz PPP. O principal obstáculo a ser superado está na capilarização, na última milha. Nas áreas economicamente viáveis, a competição “dá conta do recado”. Ou seja, nessas áreas, é suficiente uma regulação bem formulada que garanta o não impedimento de grupos dominantes à atuação de operadores menores. Temos um número muito expressivo de provedores de acesso que precisam simplesmente ter a garantia de poderem prestar seus serviços sem serem sufocados pelo poderio econômico de grandes corporações. Localidades que não são atraentes para operadores de grande porte podem ser plenamente viáveis para esses operadores locais.
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A banda larga é um instrumento essencial para serviços nas áreas de educação, saúde, segurança, e-Gov, os quais exigem equipamentos capazes de processarem grandes quantidades de informação e que não necessariamente são móveis. Em outras palavras, quando se indica banda larga, aponta-se para serviços que ultrapassam o e-mail ou o download de textos. Voltando à questão central (a definição de um modelo brasileiro para vencer o desafio da última milha), vê-se nesse cenário a importante presença potencial de um novo player: o provedor local que pode prestar serviços não só de banda larga, como também de vídeo. Não se trata de oferecer apenas opções de entretenimento; o vídeo vai muito além de uma alternativa de lazer.
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As licenças para fornecer tais serviços precisam estar acessíveis a operadores locais. Não faz sentido destinar grandes áreas geográficas para grandes operadores (a experiência nos ensina que a desagregação de serviços – unbundling –, que poderia ser o instrumento capaz de garantir o uso das redes por pequenos provedores, na prática não existe nem aqui, nem na China, literalmente). Esta “granulação” geográfica é decisiva até mesmo para os grandes centros urbanos. À primeira vista, nessas localidades, a competição é suficiente para garantir a massificação da inclusão digital. No entanto, em todos esses aglomerados populacionais, existem inúmeros bolsões de exclusão social para os quais é indispensável formular uma política própria, uma política verdadeiramente brasileira. Por fim, quais seriam os ingredientes para garantir a massificação do acesso à banda larga e ao áudio-visual nas áreas economicamente inviáveis?
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Em primeiríssimo lugar, a desoneração fiscal. Enquanto no mundo inteiro a carga tributária sobre as telecomunicações está mediamente em torno de 17%, no Brasil temos valores da ordem de 45%. Outros países do grupo BRIC (Brasil, Rússia, Índia e China), só para ficarmos em comparações semelhantes, têm cargas de: Rússia, 18%, Índia, 12%, China, menos de 5%. Uma desoneração corajosa não representaria qualquer ônus ou baque nas finanças públicas, visto ser uma arrecadação proveniente de serviços ainda incipientes e que, portanto, hoje representa uma contribuição marginal e irrelevante para os tesouros estaduais ou federal.
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Outro elemento essencial é a parceria público-privada, a qual pode se viabilizar sob várias formas: recursos subsidiados para investimentos; utilização da infraestrutura de empresas públicas em condições isonômicas (fibras ópticas, direitos de passagem), entretanto há ainda outras formas criativas, eficazes e econômicas. Os governos federal, estaduais e municipais podem ser os grandes clientes de serviços de transporte de informações nas áreas de educação, saúde, segurança, etc, já que a contratação de tais serviços pelos órgãos públicos poderia garantir a receita necessária para a construção e manutenção das redes; além de disponibilizarem às populações carentes serviços essenciais de qualidade, elas passariam também a ter o tão almejado acesso às redes.
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Contudo, nenhuma dessas medidas é capaz de, per si, resolver o problema da última milha se elas não vierem acompanhadas de um arcabouço regulatório dinâmico e flexível, que se baseie essencialmente em assimetrias que tratem desigualmente players desiguais. Ou seja, uma operadora local não pode estar sujeita às mesmas exigências impostas às grandes operadoras, pois possuem papéis diferentes. Enquanto a grande operadora é responsável pela disponibilidade, perenidade e qualidade de um serviço essencial, o prestador de serviço local é voltado às necessidades, às características e às peculiaridades específicas da sua comunidade. A customização dos serviços locais impõe uma flexibilidade e uma adaptabilidade que as pesadas estruturas das grandes concessionárias não têm condições de oferecer. Já o operador local, que não depende da grande escala para manter seu negócio, pode se dar ao cuidado de entregar serviços sob medida a custos muito mais acessíveis, o que faz toda a diferença.
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FONTE: http://www.cgi.br/publicacoes/artigos
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A distância entre imprensa livre e imprensa boa

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Washington Araújo (*)
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Existe uma distância razoável entre imprensa livre e imprensa boa. Podemos afirmar que temos no Brasil uma imprensa livre. Veículos de comunicação divulgam o que bem entendem, usam de sua liberdade como bem entendem – do contrário não haveria liberdade –, elevam assuntos de importância secundária para a condição de matéria de primeira página nos jornais, ou com maior minutagem e maior destaque nos telejornais. E fazem, também, o caminho inverso: relegam a um terceiro plano o que teria tudo para ser notícia de primeira, notícia com N maiúsculo.
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Ainda assim, não podemos dizer que temos uma boa imprensa pela simples razão de que há uma carga bem pesada de subjetividade em afirmação de tal monta. Boa para quem, cara pálida? Para os veículos de comunicação? Para os governos? Para determinados segmentos da sociedade? Para a sociedade como um todo? Esta última questão esbarra no senso comum do "ora, nem Jesus Cristo agradou todo mundo... como a imprensa agradaria a toda a sociedade ou, no mínimo, seria por esta considerada boa?"
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A imprensa é livre, por exemplo, para mudar o foco real do debate sobre liberdade de imprensa e liberdade de expressão. Qualquer ser pensante que se atreva a pedir mais transparência da imprensa, mais debate sobre suas necessárias formas de regulação – e não apenas aquelas abrigadas no conceito genérico da autoregulação – é logo considerado golpista, pessoa que possui um dos hemisférios cerebrais localizados no campo do autoritarismo, do cerceamento à liberdade de expressão. São apenas censores os que não tomam parte das legiões do pensamento único. E, na verdade, isso tem um nome. Chama-se ideologização e nada mais. Por que há muito de ideologia no ataque a qualquer proposta de regulação da mídia. Do contrário, seria um debate muito bem vindo e não o que se deseja lançar sobre a sociedade, ao reputá-lo como um atentado à liberdade de imprensa.
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Todos os meios
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Sabemos, de antemão, que tipo de imprensa não queremos. Nesse bloco podemos afirmar com grande margem de acerto e correção que será uma imprensa refém do capital pelo capital; uma imprensa travestida de partido político e, portanto, a serviço de determinados projetos de poder; uma imprensa que atua como tribunal de primeira à última instância, acusando, julgando e condenando sem deixar de antes fazer terra arrasada da reputação de seus declarados desafetos, os também chamados "bolas da vez". A imprensa que não desejamos é aquela que é generosa nos ataques e nas acusações e extremamente parcimoniosa no uso do direito de resposta, direito muitas vezes conseguido apenas nos tribunais.
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É nesse contexto que julgamos salutar que o governo apresente um anteprojeto de
regulação da mídia ainda neste ano. Que as experiências colhidas em governos anteriores sirvam de base para os estudos necessários e que este material seja disponibilizado para conhecimento da sociedade parece ser, desde já, um desafio e tanto. Temos que aproveitar o atual processo de convergência das mídias e o surgimento de novas tecnologias para proceder a uma atualização das regras do setor. Atualização que se faz urgente haja vista que normas brasileiras datam do agora distante ano de 1962, ano em que nem mesmo existiam a TV em cores, as transmissões por satélite e muito menos os meios virtuais – sítios, blogues, redes de relacionamento e tantas outras novidades.
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A permanecer o status quo, temos o que temos: terra de ninguém, onde parece ter razão quem tem os meios de difundí-la a todo e a qualquer momento e, ainda mais, por todos os meios à sua disposição. Isto é, à disposição dos grandes conglomerados que produzem as notícias e sabem como despejá-las sobre a sociedade, usando o suporte escrito, radiofônico, televisivo e virtual.
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O importante mesmo é não deixar o debate morrer de inanição. Na luta por uma imprensa de boa qualidade – e esta somente poderá assim ser adjetivada se for fundada no inegociável estatuto de sua liberdade – não devem existir mocinhos e bandidos. Há que se buscar uma imprensa que melhor combine os atributos da liberdade de informar com a responsabilidade de informar, as características de empreendimento econômico-financeiro lucrativo com aquelas de empreendimento que favoreça a identidade nacional e o fortalecimento de nossa ainda incipiente cidadania. É muito trabalho para pouco debate. Estamos apenas no início. Mas não se ganha batalha sem antes haver sido iniciada. E que tenhamos em mente a perspicaz observação do grande líder indiano Mahatma Gandhi (1869-1948) ao afirmar que "a liberdade para ser verdadeira precisa incluir a liberdade de errar".
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(*) Jornalista e escritor. Mestre em Comunicação pela UNB, tem livros sobre mídia, direitos humanos e ética publicados no Brasil, Argentina, Espanha, México.
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FONTE: http://www.cartamaior.com.br
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O capital social

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Rogério da Costa (*)
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Na corrente da mudança de perspectiva do conceito de "comunidade" para "redes sociais", vários autores das ciências sociais passaram a investigar, desde os anos de 1990, o conceito empírico de capital social (Burt, 2005; Lin, 2005; Narayan, 1999; Portes, 1998; Grootaert, 1997; Fukuyama, 1996; Putnam, 1993; Coleman, 1990). Essa noção poderia ser entendida como: a capacidade de interação dos indivíduos, seu potencial para interagir com os que estão a sua volta, com seus parentes, amigos, colegas de trabalho, mas também com os que estão distantes e que podem ser acessados remotamente. Capital social significaria aqui a capacidade de os indivíduos produzirem suas próprias redes, suas comunidades pessoais.
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Cabe lembrar que James Coleman e Robert Putnam, que estão entre os primeiros a analisar a noção de capital social, procuraram defini-lo como a coerência cultural e social interna de uma sociedade, as normas e valores que governam as interações entre as pessoas e as instituições com as quais elas estão envolvidas. A importância do papel das instituições é muito clara aqui, pois estas funcionam como mediadoras da interação social, uma vez que propagam valores de integração entre homens e mulheres. Escolas, empresas, clubes, igrejas, famílias ainda funcionam como referência para as relações sociais, apesar de todas as crises que vêm enfrentando. Compreender seu papel e influência numa comunidade faz parte do processo de avaliação do capital social. Países arrasados por guerras civis ou invasões (Rwanda e Iraque, por exemplo)1 percebem uma degeneração acentuada de seu tecido social, causada justamente pela ausência do papel ativo das instituições. Reconstruí-las é o meio mais seguro para se restaurar parte do capital social perdido (que é, basicamente, a confiança perdida).
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Contudo, as instituições, como apontamos, exercem um papel regulador e mediador de processos mais profundos. O que nos interessa, no caso de uma análise do capital social, são as variáveis microssociológicas, como a sociabilidade, cooperação, reciprocidade, pró-atividade, confiança, o respeito, as simpatias. Daí o fato de muitos estudos sobre capital social apontarem para a necessidade do levantamento de uma série de informações sobre o cotidiano das pessoas como, por exemplo, saber se elas conversam com seus vizinhos, recebem telefonemas, mas também se freqüentam clubes, igrejas, escolas, hospitais etc. Traduzindo de outra forma, é preciso levantar a implicação dos indivíduos em associações locais e redes (capital social estrutural), avaliar a confiança e aderência às normas (capital social cognitivo) e, igualmente, analisar a ocorrência de ações coletivas (coesão social). Estes seriam alguns indicadores básicos do capital social de uma comunidade.
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Mas por que seria isso considerado precisamente como "capital"? Ora, as relações sociais passam a ser percebidas como um "capital" justamente quando o processo de crescimento econômico passa a ser determinado não apenas pelo capital natural (recursos naturais), produzido (infraestrutura e bens de consumo) e pelo financeiro. Além desses, seria ainda preciso determinar o modo como os atores econômicos interagem e se organizam para gerar crescimento e desenvolvimento. A compreensão dessas interações passa a ser considerada como riqueza a ser explorada, capitalizada.
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Como assinalam Grootaert & Woolcock: um dos conceitos de capital social, que encontramos nos sociólogos R. Burt, N. Lin e A. Portes, refere-se aos recursos - como, por exemplo, informações, idéias, apoios - que os indivíduos são capazes de procurar em virtude de suas relações com outras pessoas. Esses recursos ('capital') são 'sociais' na medida em que são acessíveis somente dentro e por meio dessas relações, contrariamente ao capital físico (ferramentas, tecnologia) e humano (educação, habilidades), por exemplo, que são, essencialmente, propriedades dos indivíduos. A estrutura de uma determinada rede - quem se relaciona com quem, com que freqüência, e em que termos - tem, assim, um papel fundamental no fluxo de recursos através daquela rede.
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Há, contudo, uma forte tendência de a economia neoclássica rejeitar as análises que procuram introduzir variáveis de ordem social nas teorias econômicas contemporâneas. Francis Fukuyama (1996) critica, em seu famoso livro "Confiança", a perspectiva dominante da economia neoclássica e suas conseqüências para uma autêntica reflexão sobre capital social. Ele discorda radicalmente dos pressupostos que alimentam essa teoria, fundamentalmente baseada numa visão de natureza humana egoísta:
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Todo o imponente edifício da teoria econômica neoclássica contemporânea repousa num modelo relativamente simples da natureza humana: os seres humanos são "indivíduos maximizadores da utilidade racional". Isto é, os seres humanos procuram adquirir o maior número possível de coisas que julgam úteis para si. Fazem isso de maneira racional, e fazem esses cálculos como indivíduos que buscam maximizar o benefício para si próprios sem se preocupar com o benefício de quaisquer grupos de que façam parte. Em suma, os economistas neoclássicos postulam que os seres humanos são indivíduos essencialmente racionais, mas egoístas que procuram maximizar seu bem-estar material.
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Sua crítica é de que tal perspectiva é insuficiente para explicar a vida política, com todos os seus desdobramentos emocionais, como não é suficiente para explicar muitos aspectos da vida econômica: "Nem toda ação econômica deriva do que é tradicionalmente conhecido como motivos econômicos" (Fukuyama, 1996, p.33). A tese de que os indivíduos exercem suas escolhas com base na maximização da utilidade, agindo assim de forma racional, não parece resistir a uma análise que leve em conta a vida em redes e associações que caracteriza a grande maioria dos homens. Esta é também a perspectiva de Mark Granovetter (2000), que vê nessa tese a enorme dificuldade dos economistas para incluírem em sua visão as inúmeras variáveis do campo social.
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(*) Professor do Programa de Pós-Graduação em Comunicação e Semiótica da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP).
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FONTE :http://www.scielo.br
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